José Augusto de Castro, presidente da AEB - Foto: Divulgação

Presidente da AEB tem visão pessimista sobre futuro das relações Brasil-Argentina

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Da Redação

Brasília – O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, fez um prognóstico inusitado e pouco animador sobre o futuro das relações comerciais entre o Brasil e a Argentina. Segundo ele, “se a Argentina se recuperar {da grave crise econômica que atinge o país}, ninguém garante que ela vai se voltar para o Brasil. Poderá se voltar para a China, para os Estados Unidos ou para a Europa. Apesar de ser o país mais próximo da Argentina, talvez o Brasil possa não merecer a atenção que todos nós achamos que deveria ter da Argentina”.

Muito mais que retórica ou figuras de linguagem, a afirmação do executivo da AEB é baseada em números. E os números do comércio bilateral no primeiro quadrimestre de 2024 não são nada alentadores. Pelo contrário. As exportações brasileiras que em 2023 cresceram 8,9% para US$ 16,612 bilhões, recuaram 29,9% no quadrimestre janeiro-abril deste ano e somaram US$ 3,908 bilhões.

Na outra ponta do comércio bilateral, as exportações argentinas que caíram 8,4% e somaram US$ 11,998 bilhões em 2023, nos quatro primeiros meses deste ano tiveram uma leve recuperação de 2,9% para US$ 3,948 bilhões

A queda nas exportações brasileiras puxou para baixo a corrente de comércio (soma das exportações e importações), que tinham subido 0,9% no ano passado, neste início de ano desabaram 16,5% e somaram US$ 7,856 bilhões.

Outro reflexo de quatro meses de intercâmbio fraco se fez sentir no superávit em favor do Brasil. Ano passado, a balança bilateral proporcionou ao país um saldo de US$ 4,715 bilhões. De janeiro a abril deste ano, o país superavitário nesse intercâmbio foi a Argentina, com um saldo de US$ 40,3 milhões.

“A Argentina está passando por um spa”

Em sua análise da situação econômica da Argentina, José Augusto de Castro, afirmou que “se eu fosse um empresário {brasileiro} com presença no país vizinho, eu resistiria por pelo menos seis meses, porque o país está passando pela pior fase. A Argentina precisa de capital, mas ninguém vai investir no país sabendo que ele enfrenta uma série de problemas. A Argentina sempre dependeu de supersafras de soja e de milho, principalmente. Com supersafras desses dois produtos terá condições de resolver seu problema econômico e poderá pensar novamente em atrair capitais produtivos para a geração de empregos e novos produtos. No momento, a Argentina está passando por um spa, cortando tudo o que é possível”.

Para José Augusto de Castro, “a Argentina tem que contar com a sorte. Terá que fazer o que o Brasil fez no ano 2000. Naquele ano houve uma explosão nas cotações e na produção das commodities. Com isso, o Brasil gerou um superávit comercial fantástico, o que fez com que o país pagasse a sua dívida {externa} e deixasse de ser um grande devedor mundial. A Argentina terá que passar por isso também. Vai depender de supersafras agrícolas para que possa pagar sua dívida externa e não depender de financiamentos internacionais. Ou, pelo menos, ter a liberdade de tomar os financiamentos quando achar melhor. É um cenário difícil”.

 

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