Gustavo Paschoa (*)
O transporte aquaviário registrou um marco histórico importante. Entre janeiro e junho deste ano, esse setor apresentou recorde ao movimentar mais de 616 milhões de toneladas de carga, um crescimento de 2,4% em comparação ao primeiro semestre de 2021, quando atingiu uma movimentação de 601,4 milhões de toneladas, segundo dados divulgados pela Antaq (Agência Nacional de Transportes Aquaviários). Esse crescimento é apenas a ponta do iceberg se olharmos para o enorme potencial que o setor aquaviário apresenta em nosso país, em particular a navegação costeira, também conhecida como cabotagem.
O Brasil possui mais de 8000 km de costa e mais de 23000 km de rios navegáveis, e se fizermos um paralelo com países com uma costa tão grande quanto a nossa, podemos perceber que ainda é utilizado muito pouco deste potencial. A matriz de transporte no Brasil traz a cabotagem e as hidrovias com uma participação de quase 15%, e em países como China esta participação é mais da metade (52%).
Os dados da Antaq revelaram também que a navegação de longo curso movimentou 427,3 milhões de toneladas de cargas neste primeiro semestre, apresentando crescimento de 7,02% em comparação com o mesmo período do ano passado. A cabotagem, por sua vez, cresceu 1,36% entre janeiro e junho, atingindo uma movimentação de 142,1 milhões de toneladas.
Diante disso, é preciso continuar fomentando a navegação aquaviária, investindo em tecnologia, infraestrutura e desafiando o “status quo” das organizações de maneira inteligente e sustentável.
É fundamental incluir cada vez mais a navegação nas cadeias de valor das empresas e embarcadores como viabilizadores de negócios, fomentando ainda a transição energética, e buscando soluções mais inteligentes e sustentáveis.
São inúmeros os impactos positivos que isso pode trazer para a sociedade. Além da desobstrução das rodovias, já que para cada navio operando na costa tiramos centenas de caminhões das estradas, vamos ter um transporte que emite quatro vezes menos gases de efeito estufa. Sem falar na segurança, que é outro aspecto importante da navegação costeira, por estar menos suscetível a acidentes e roubos de cargas.
Além dessas vantagens, são várias oportunidades que ainda podem surgir, pois ao otimizar as cadeias de valor das empresas, melhorando processos e reduzindo custos, aumentamos a oferta de trabalho no país e fomentamos a economia, contribuindo para melhorar a competitividade das empresas no território nacional e no exterior.
É importante ressaltar também a eficiência que o setor aquaviário traz, o que nos leva a entender o crescimento deste setor de maneira regular e muitas vezes acima do PIB e da indústria nacional.
Se analisarmos toda a nossa matriz de transporte, podemos perceber que não se trata de um modal contra o outro. É preciso considerar as modalidades de transporte em suas corretas vocações, como a navegação costeira fazendo longas distâncias, conectando a costa, o rodoviário em pequenos trajetos e o ferroviário sendo usado na interiorização das mercadorias. É a combinação de diferentes opções de transporte usando a cabotagem que irá trazer esses benefícios.
É esperado que com a melhoria da infraestrutura portuária, somada a novas tecnologias, o crescimento do setor aquaviário seja cada vez mais pujante, com números ainda mais expressivos, ganhando visibilidade e chamando a atenção das empresas para essa eficiente opção de transporte de cargas.
(*) Gustavo Paschoa é mestre em comércio exterior e em logística e possui quase 30 anos de experiência no setor