Da Redação
Brasília – “Não consigo enxergar o Brasil aderindo à China. Se o Brasil tiver que optar entre fortalecer a já sólida parceria com os Estados Unidos ou aderir ao programa ‘Cinturão e Rota’, a escolha deveria recair sobre os Estados Unidos, que oferecem estabilidade, ou, na pior das hipóteses, deixar como está. Por outro lado, a China, atualmente, vive grande instabilidade. O Brasil precisa tomar cuidado nessa tomada de decisão, que não é simples e que tem a ver com um futuro distante e não um futuro próximo”.
A avaliação foi feita por José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comercio Exterior do Brasil (AEB) ao analisar a possibilidade de o governo brasileiro anunciar ou não sua adesão ao megaprojeto chinês durante a Cúpula Brasil-China, a ser realizada no dia 20 de novembro, em Brasília.
Segundo o executivo da AEB, a estabilidade oferecida pelos Estados Unidos na relação com o Brasil é um fator que não pode deixar de ser considerado: “basta termos instabilidade no plano interno, através da falta de aplicação de projetos de incentivos fiscais, de segurança jurídica, de falta de logística e de infraestrutura. No plano externo, estabilidade é essencial”.
“Adesão é mais importante para a China que para o Brasil”
José Augusto de Castro destaca que “a adesão do Brasil é muito importante para a China, mas não é tão importante para o Brasil. Se analisarmos friamente veremos que provavelmente teremos cinco países que gravitam em torno da China e para o quais participar do Cinturão e Rota é muito importante. Para os outros cerca de 145 países que até agora já se creditaram para participar desse processo não será tão relevante assim, porque eles serão a massa de manobra do processo”.
O presidente da AEB reconhece que o governo chinês vem pressionando o Brasil para aderir ao seu mais importante programa geopolítico, e que “essa pressão é real” e que, em contrapartida, “oficialmente não existe, mas oficiosamente alguma coisa deve estar sendo feita {pelo governo americano}. Essa é uma decisão difícil porque ela não tem impacto apenas hoje, mas também no futuro. E esse futuro nós não sabemos quando será e se poderemos tirar proveito dessa decisão”.
Questionado se o Brasil vai optar pela China poderá vir a ser alvo de retaliações pelo governo americano, José Augusto de Castro disse que não acredita nessa possibilidade. Para ele, “essa seria uma decisão comercial {aderir ao Cinturão e Rota} e se você for retaliar por esse motivo, viraria a OMC de cabeça para baixo, mais do que a Organização está virada hoje. Então, acho muito difícil que isso aconteça”.
Em sua análise em torno da adesão ou não ao “Cinturão e Rota”, o executivo lembra que “o projeto foi lançado há cerca de nove anos e já ouvimos que alguns países receberam recursos da China para fazerem algumas obras de infraestrutura e esses empréstimos estão saindo muito mais caro do que se imaginava”.
Outros aspectos ligados à implementação dos projetos contratados sob o guarda-chuva do “Cinturão e Rota” foram questionados pelo presidente da AEB: “se vamos fazer obras aqui no Brasil e a China vai oferecer engenheiros, operários e equipamentos chineses, o Brasil vai entrar apenas com a parte terrestre? Obviamente isso não é benéfico para o Brasil. Nós queremos gerar empregos em nosso país, queremos gerar atividade econômica aqui. Por tudo isso, esse é um ponto em relação ao qual temos que ter muito cuidado. O Brasil pode participar do Cinturão e Rota sem estar atrelado à China. Essa é uma decisão política. Dentro do governo brasileiro existem grupos pró e contra a participação brasileira nesse projeto. Esse é que é o problema. Quando se racha o governo em torno de posições antagônicas, isso faz com que você deixe de ter uma unidade econômica e política e passa a ter uma diversidade e é essa diversidade que vai gerar problemas para nós”.