Bogotá – Mesmo em crise devido ao excesso de chuvas, queda nos preços internacionais, alto custo de transporte e supervalorização do peso colombiano frente ao dólar, os cafeicultores mantêm o país em quarto lugar no ranking mundial de produção. A tradição é passada de pai para filho e movimenta metade dos municípios.
Em 2012, a produção de café representou 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) colombiano. Houve queda considerável nesse número. Do fim do século 19 ao começo do século 20, o café foi o principal produto da economia. Daquela época, sobrou a cultura cafeeira dos pequenos produtores reunidos pelas cooperativas e a produção familiar. As técnicas usadas são manuais.
O cuidado com o café é justificado pela espécie produzida. A arábica suave é considerada uma das melhores pela suavidade e aroma. A espécie é cultivada em pequenas propriedades, com tamanho médio de 1,6 hectare, nas montanhas das cordilheiras colombianas, entre 1,2 metro (m) e 1,8m acima do nível do mar.
Segundo a Federação Nacional dos Cafeicultores, quase sempre a produção é familiar. Ao todo, o país tem 563 mil produtores e em mais da metade dos municípios há produção de café. “O clima das montanhas é ideal para o plantio e, por isso, o do café arábica colombiano é cultivado em altitudes elevadas e em pequenas propriedades”, explicou à Agência Brasil o gerente de comunicação da entidade, Luis Fernando Samper.
Embora enfrentem problemas para manter o cultivo, os produtores permanecem apegados à cultura do café. É o caso de Erman Lozada, 36 anos, que tem uma pequena propriedade no departamento de Huila. Ele participa dos protestos de quase 50 mil cafeicultores que bloqueiam, desde segunda-feira (25), as principais rodovias do país. Samper contou à Agência Brasil que trabalha com o plantio de café há 15 anos, na terra herdada do pai, que também era cafeicultor.
“Estamos na terceira geração de cafeicultores. O café que produzimos é delicado e exige colheita manual para que a qualidade seja mantida. Mas está cada vez mais difícil para nós. O que ganhamos não cobre a produção e quase todos por aqui devem muito ao banco”, desabafa.
Mesmo assim, Erman disse que lutará para continuar plantando café e quer que os filhos sejam cafeicultores. “Espero que essa fase melhore. O café é nossa herança e é o que sabemos fazer”, comenta.
O “orgulho” do café é uma tradição na Colômbia. A entidade sindical é a cooperativa que reúne os produtores. Embora existam divergências e grupos dissidentes, a federação representa os produtores e é responsável por promover o café colombiano no país e no mundo.
Com esse objetivo, os cooperados criaram as lojas Juan Valdez, nome de um personagem que representa o típico cafeicultor colombiano, pelas roupas de algodão usadas para a colheita e o chapéu de palha. A marca Juan Valdez tem mais de 200 cafeterias no país e no mundo, em países como o Peru, a Espanha, os Estados Unidos, o México e o Equador. Atualmente, a marca busca crescer por meio de franquias.
Luis Samper disse que as lojas ajudam a divulgar o produto dos cafeicultores e a fixar o café colombiano como marca de qualidade no mundo. E apesar da crise enfrentada pelo setor, ele acredita que a fase será superada. “Temos buscado novos segmentos e investido em pesquisas para aprimorar a qualidade do café”, destacou.
A Colômbia promove o turismo do café. Na região do Triângulo do Café, ou Eixo Cafeeiro, existem hotéis, resorts, fazendas e parques destinados ao descanso e ao lazer. A região, com clima temperado e paisagem verde é um atrativo, assim como os parques temáticos que contam a história do café no país.
As pequenas propriedades produtoras têm roteiros de visitação turísticas para que as pessoas conheçam o trabalho e o estilo de vida dos produtores. Nesses passeios é possível passar um dia em um sítio, colher o café manualmente e participar de todas as etapas do processo de produção do grão.
“Queremos que a cultura do café prevaleça sobre a adversidade e seja conhecida no mundo. Isso faz parte da Colômbia”, acrescentou Samper.
Fonte: Agência Brasil