Aumenta para 5% a participação de países árabe nas exportações brasileiras de calçados

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São Paulo – As exportações de calçados do Brasil ao mundo árabe somaram US$ 35,16 milhões de janeiro a julho, um aumento de 23,8% em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) compilados pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Ao mesmo tempo, as vendas externas totais de sapatos do País recuaram 2,61% e ficaram em US$ 728 milhões. Isso fez com que a participação do Oriente Médio e Norte da África nos embarques brasileiros saltasse de 3,9% para quase 5%.

Para o gestor de projetos da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Cristiano Körbes, o avanço dos embarques aos países árabes pode ser explicado por um crescimento do consumo nestes mercados aliado a uma situação de comércio favorável para as marcas brasileiras na região. “O relacionamento do Brasil com estes países é muito bom”, afirmou ele. “As empresas fazem um trabalho bem feito e várias marcas importantes trabalham estes mercados”, acrescentou.

De fato, é comum ver sapatos brasileiros nas vitrines de países árabes e até lojas de marcas nacionais como Havaianas e Dumond, por exemplo, especialmente nos Emirados Árabes Unidos.

Segundo o presidente do Sindicato da Indústria de Calçados de Franca (Sindifranca), polo calçadista do interior de São Paulo, José Carlos Brigagão do Couto, no passado as vendas eram concentradas no mercado norte-americano, mas os negócios diminuíram e a concorrência asiática aumentou. “[Então] o setor procurou novos mercados, com produtos específicos e com marca própria, atendendo as exigências de cada um, tanto em design, preços, etc.”, destacou o executivo.

Várias empresas de Franca exportam ou já exportaram para países árabes, como a Ferracini, Radamés, Ilustre, Villione e Jovaceli, todas fabricantes de sapatos masculinos e anteriormente citadas em reportagens da ANBA. Os modelos masculinos são especialidade da cidade do interior paulista. “[O tipo de calçados mais vendido ao mundo árabe é o] social masculino e alguns da linha conforto”, declarou Couto. “[Os clientes] são muito exigentes quanto à qualidade”, ressaltou.

Arábia Saudita e Emirados são, respectivamente, o segundo e o terceiro maiores destinos dos produtos de Franca, atrás apenas dos Estados Unidos. O próximo país árabe a aparecer na lista é o Kuwait. Estes são também os três principais mercados da indústria calçadista brasileira como um todo no Oriente Médio e Norte da África.

Mas considerada toda a produção nacional, não são os sapatos masculinos que lideram a lista de itens exportados aos árabes, e sim as sandálias, chinelos e calçados com cabedal de borracha, de acordo com Körbes. “A tendência do mercado árabe é comprar mais produtos de borracha e plástico em função do calor e o Brasil tem marcas bastante fortes nesse segmento”, afirmou. Uma marca que exporta sandálias à região é a Amazônia Sandals, divisão do Grupo Amazonas, também sediado em Franca.

Concorrência internacional

Na opinião do gerente da Abicalçados, a concorrência asiática, em especial da China, não prejudicou as vendas externas brasileiras como ocorreu em outros destinos e no próprio mercado interno do País. Isto porque os mercados árabes, principalmente os do Golfo, são majoritariamente importadores e não impõem barreiras protecionistas no setor.

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Couto: mercado tem potencial para crescer mais

A indústria brasileira sofre mais nos negócios com nações latino-americanas, onde o preço é um fator decisivo. “Na América Latina a produção de calçados é menor do que a demanda, o único país da região que produz mais do que consome é o Brasil, e sobram produtos para exportações”, disse Körbes. “Mas o Brasil não consegue competir em preço [com os chineses]”, acrescentou.

Segundo ele, mesmo com os custos tradicionalmente baixos, as fábricas chinesas sofreram com a crise na União Europeia e decidiram desovar sua produção em outros lugares, como América Latina e África “a preço de banana”.

Além da concorrência asiática, Couto cita como causa da redução das exportações de modo geral a perda de competitividade em função do câmbio valorizado e do “Custo Brasil”, ou seja, dos impostos, encargos trabalhistas e gastos com logística existentes no País. “Temos dois exemplos a serem seguidos, o México e Portugal, onde a indústria calçadista tem sido incentivada”, declarou.

Para o mundo árabe, no entanto, a expectativa dos dirigentes é de crescimento. “A perspectiva é de aumento das exportações”, destacou Körbes. “É um mercado que tem potencial se forem mantidas as condições estabelecidas atualmente”, observou Couto, mas com um alerta: “A expectativa sobre um possível aumento da burocracia com a inclusão de testes caros e específicos [por países importadores] é motivo de preocupação para os calçadistas francanos”.

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Na seara da promoção comercial, as entidades destacam a realização de visitas, missões empresariais, nomeação de agentes nos mercados de destino e participação em feiras de negócios. “Os clientes do Oriente Médio gostam muito de fazer compras fora da região, eles viajam bastante para buscar fornecedores”, contou Körbes. Nesse sentido, segundo ele, é comum fazer contatos com importadores árabes em eventos nos Estados Unidos e na Europa.

O gerente da Abicalçados disse ainda que a associação estuda realizar ações de promoção nos Emirados e que uma empresa do país foi convidada para o Projeto Copa, rodadas de negócios organizadas durante o mundial de futebol no Brasil pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). “As empresas entendem estes mercados como prioritários”, afirmou.

Para Couto, outras iniciativas do gênero podem ser positivas. “Uma das ações que poderiam aumentar os embarques é a participação de lojistas daqueles países no Projeto Comprador realizado pela Abicalçados em parceria com a Apex. Assim, esses importadores seriam trazidos a Franca para conhecerem as fábricas e estreitarem os laços comerciais”, concluiu.

Fonte: ANBA

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