É possível exportar calçados a um preço médio de US$ 2,82 o par? Sim. Saiba os motivos que levam a concorrência predatória da China a atemorizar o setor calçadista brasileiro e mundial.
Da Redação
Brasília – As exportações predatórias de calçados da China seguem trazendo dor de cabeça para a indústria calçadista nacional. O calçado chinês chega ao Brasil ao preço médio de US$ 2,82 (menos de R$ 15) o par, o menor preço desde o início da série histórica, em 1997. A exemplo do que acontece em todo o mundo, que a cada mês vê crescerem as exportações dos veículos elétricos chineses, no caso da indústria calçadista, a concorrência chinesa se mostra cada vez mais difícil de ser enfrentada.
De acordo com dados elaborados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), no mês de maio entraram no Brasil mais de 862 mil pares de calçados chineses, pelos quais foram pagos US$ 2.43 milhões. A alta em número de pares é de 77,4% em relação ao mesmo mês de 2023. Entretanto, em termos de valores, foi registrada uma queda de 44,3%.
Segundo o presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, “a queda em valores é explicada pelo preço incrivelmente baixo praticado pela indústria calçadista do país asiático: “a agressividade dos exportadores chineses é algo que assusta o mundo, com claras práticas de concorrência desleal, o chamado dumping (venda de um produto a um preço mais baixo que o custo de produção). Como se produz um calçado a menos de US$ 3 o par? Com baixo nível de ratificação das Convenções da Organização do Trabalho (OIT), desrespeito aos critérios de sustentabilidade, entre outras questões”.
Para reforçar sua argumentação, Haroldo Ferreira destaca que entre janeiro e maio deste ano, a China embarcou para o Brasil 6,23 milhões de pares por US$ 18.98 milhões (em média, menos de US$ 3 o par), retração de 13,2% em volume e de 22,5% em receita, no comparativo com o mesmo período do ano passado.
Queda nas vendas aos principais mercados
Além das práticas desleais implementadas pela indústria calçadista chinesa e pela forte competição com outros grandes produtores asiáticos, como Vietnã e Indonésia, o setor calçadista brasileiro enfrenta um cenário internacional bastante instável, com a economia dos Estados Unidos “patinando” e a crise econômica na Argentina. “São dois dos nossos principais destinos”, dia o executivo da Abicalçados.
Haroldo Ferreira destaca ainda que “na América Latina, onde estão outros dos nossos principais parceiros, o mercado também está instável economicamente. E temos também a concorrência de outros países asiáticos, como o Vietnã e Indonésia, que normalizaram suas exportações após a baixa do preço do frete internacional. Com tudo isso, 2024 será um ano difícil para as exportações de calçados”.
Principal destino do calçado brasileiro no exterior, entre janeiro e maio, os Estados Unidos importaram 4,38 milhões de pares do produto nacional por US$ 87,66 milhões, quedas de 3,8% e de 4,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Na sequência dos principais destinos dos cinco meses apareceram a Argentina (3,9 milhões de pares e US$ 79,68 milhões, quedas de 40,6% e 25,3%m respectivamente) e o Paraguai (3,22 milhões de pares e US$ 17,9 milhões, quedas de 27,3% e 12,8%).