Da Redação
Brasília – O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, vê com apreensão e pessimismo as perspectivas para 2013 da balança comercial do país. Sem citar números, ele não deixa duvida de que a previsão feita ao final do ano passado, quando admitiu que o Brasil poderia chegar ao final deste ano com um saldo de US$ 14,62 bilhões, não tem nenhuma chance de se concretizar. Para ele, o saldo será bastante inferior. Apreensivo, José Augusto de Castro não descarta inclusive a possibilidade de o Brasil fechar o ano com saldo negativo em sua balança comercial, fato inédito desde que série histórica foi iniciada, há 20 anos.
O presidente da AEB evita citar números sobre o desempenho da balança comercial em 2013, ressaltando que “uma nova estimativa será feita no mês de julho”. Esse exercício foi realizado pela última vez no final de 2012, quando o dirigente fez uma previsão pessimista para a balança comercial em 2013. Enquanto julho não chega para que a AEB volte a divulgar seus prognósticos, o presidente da Associação acompanha atento e preocupado o desempenho atual e as perspectivas futuras do comércio exterior brasileiro.
A expectativa realisticamente pessimista é reforçada pelos números divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Segundo os dados, no primeiro trimestre do ano a balança comercial registrou um déficit de US$ 5,15 bilhões, o pior desempenho já registrado em igual período. Foi o resultado da queda de 3,1% das exportações, que somaram US$ 50,8 bilhões, e do crescimento de 11,6% das importações, num total de US$ 56 bilhões.
Os números foram afetados pela contabilização atrasada de US$ 4,5 bilhões (o governo fala em apenas US$ 2,5 bilhões) em importações de combustíveis realizadas pela Petrobrás em 2012. Desse total, ainda faltam registrar pelo menos US$ 1,8 bilhão, o que terá forte impacto nos resultados da balança comercial nos próximos dois ou três meses.
“Em sua análise, José Augusto de Castro revela que “este ano persistirá o quadro de incerteza e volatilidade no comércio exterior registrado no ano passado e que ficou evidente no primeiro trimestre”.
Segundo ele, ” o panorama continua sendo impactado pela crise na União Europeia, responsável por 38% de todo o comércio mundial e mercado de destino de mais de 20% das exportações brasileiras. O cenário vigente na Europa, marcado pela crise econômica aguda e desemprego recorde em diversos países, já influenciou negativamente as commodities exportadas pelo Brasil e o vinha fazendo mais sobre o preço do que em cima da quantidade. Entretanto, nos últimos meses essa situação começou a mudar. E vivemos um momento em que a crise europeia já começa a afetar negativamente tanto preços quanto volumes das commodities exportadas pelo Brasil”.
Exportações e importações
Na avaliação do presidente da AEB, “em relação ao superavit de US$ 19,4 bilhões obtido em 2012, está bastante claro que esse saldo será reduzido substancialmente e até mesmo não se pode descartar a possibilidade de o país fechar o ano com déficit em sua balança comercial”.
José Augusto de Castro lamenta que “em matéria de comércio exterior, abandonamos algo estável que são as exportações de manufaturados e abraçamos algo instável que são as commodities. Hoje, a pauta exportadora brasileira é composta por 70% de produtos básicos e apenas 30% de manufaturados. Com a crise na Europa, a desaceleração da China e a retomada lenta do crescimento nos Estados Unidos, somados a uma supersafra americana, temos quedas ou ameaças concretas de redução nos preços internacionais de açúcar, café e etanol, entre outros produtos.
O presidente da AEB faz uma análise igualmente sombria sobre sobre as exportações da soja o futuro das exportações de soja: “o volume da soja exportada segue aumentando mas os preços para o próximo ano devem sofrer forte retração. A expectativa é de que no segundo semestre a soja hoje cotada em torno de US$ 650 a tonelada caia para US$ 450 ou US$ 470. Ano passado, a previsão era de que o complexo soja lideraria a balança comercial brasileira mas isto não acontecerá. Com os preços internacionais em queda, é pouco provável que na próxima safra se consiga manter a área usada este ano para cultivo da soja”.
China superavitária
Na avaliação do presidente da AEB, os megassaldos obtidos pelo Brasil no comércio
com a China podem se transformar, já a partir deste ano, em déficit histórico. Ano passado, o intercâmbio com os chineses gerou um saldo de US$ 6,977 bilhões. Este ano, em apenas três meses, a China já acumula superávit de US$ 1,104 bilhão nas trocas comerciais com o Brasil.
Esse panorama pode sofrer mudanças no correr do ano. Porém, é pouco provável que isto ocorra. E o presidente da AEB explica: “a taxa de câmbio do Brasil é altamente atraente para as importações e com a queda de preços dos produtos básicos teremos redução de receita nas exportações para a China mas os chineses continuarão inundando o mercado brasileiro com seus produtos manufaturados. Saldos negativos também devem ser registrados nas trocas com os Estados Unidos e a União Europeia”.
José Augusto de Castro destaca que “os Estados Unidos foram durante muito tempo nosso maior parceiro comercial e em 2012 o país absorveu 11,1% das exportações brasileiras. A rigor, os Estados Unidos exportam tudo o que o Brasil também exporta. O principal item na pauta das exportações brasileiras para o mercado americano era o petróleo. Este ano, os Estados Unidos aumentaram a produção interna e reduziram as importações. Com isto, no primeiro trimestre a balança comercial com os americanos foi desfavorável para o Brasil em US$ 3,633 bilhões. No período, as exportações brasileiras tiveram uma queda de 24,49%. Na outra ponta, as vendas americanas cresceram 15,43% se comparadas com igual período do ano passado”.
Esse mesmo panorama preocupante é visto no intercâmbio com outros dois importantes parceiros comerciais do Brasil, Argentina e Venezuela, conforme relata o presidente da AEB: “a Argentina é o terceiro principal país de destino das exportações brasileiras, atrás apenas da China e dos Estados Unidos, mas as trocas comerciais com o país vizinho vêm caindo devido a uma série de medidas restritivas adotadas pelo governo de Cristina Kirchner. De 2003 a 2012, o Brasil acumulou saldos expressivos no comércio com a Argentina. Este ano, a situação se modificou e no primeiro trimestre a balança foi favorável aos argentinos em US$ 82 milhões. Em relação à Venezuela, também temos enfrentado problemas. Até o ano passado a Venezuela foi o segundo maior gerador de superávit para o Brasil mas este ano o saldo deverá ser reduzido”.
Até julho, o presidente da AEB diz que não fará nenhuma previsão de saldo da balança comercial brasileira. Mas, mesmo sem citar números, não deixa dúvida de que vê o quadro atual com preocupação: “a verdade é que precisamos reduzir o custo Brasil, investir na reforma tributária, realizar as obras de infraestrutura que deveriam ter sido feitas há vinte ou trinta anos e não foram eecutadas. Temos que fazer o dever de casa e não estamos fazendo. Somos a sexta economia do planeta mas ocupamos uma modesta vigésima-primeira posição no ranking dos países exportadores”.