Rodrigo Solano (*)
Desde relações comerciais e diplomáticas até a atuação da Câmara Árabe e seus integrantes, a obra aborda um rico conteúdo que sugere novas formas de interpretar mercados, sobretudo o cultural.
“Rubens Hannun… Diplomata notável e economista formidável”
As aspas são do Secretário-Geral da União das Câmaras Árabes, Dr. Khaled Hanafy, já no prefácio do livro. E não é para menos. O autor possui um vasto currículo de atuação plural: é ex-presidente da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, cônsul honorário da Tunísia em São Paulo, condutor de aulas e palestras, e escritor, com vasta experiência. Estrategista de marketing como CEO na H2R Soluções & Trends, Hannun é uma autoridade para tratar de uma grande diversidade de mercados. Mas não se pode deixar de considerar a íntima relação que Hannun tem com o “Mundo Árabe” em sua produção.
Um livro atual tanto em conteúdo quanto no uso de recursos modernos
O século XXI tem se transformado cada vez mais na era das imagens, uma influência da cultura digital que demanda atenção de empreendimentos, inclusive os literários. A obra demonstra atenção a essa cultura geracional e diversificada, apresentando QR codes para acesso a textos em árabe e uma riqueza de gráficos e imagens coloridas que marcaram a história das relações entre o Brasil e as Nações Árabes, facilitando uma interpretação ágil.
Temas Relevantes
Entre a vastidão de temas abordados de forma didática e com conhecimento aplicado, estão:
- A forte presença árabe no Brasil: 6% da população identificada, com maior participação em cargos de liderança;
- As semelhanças entre árabes e brasileiros, além dos aspectos econômicos, aprofundando-se em fatores culturais que influenciam a tomada de decisão de compra;
- Através do uso de ferramentas de Inteligência Cultural, a obra apresenta um comparativo entre indicadores de populações islâmicas e não islâmicas, aspecto central para entender a dinâmica de negócios e a propensão ao consumo de determinados itens;
- Apresenta grandes semelhanças entre o conceito de ESG (boas práticas Ambientais, Sociais e de Governança) e a Certificação Islâmica – حلال – “Halal”, vista como importe pela maioria consumidores árabes. Além disso, ganhos com juros não são adequados, conferindo força a projetos de desenvolvimento socioeconômico.
O Mercado Árabe como unidade cultural
Claro que existem diferenças entre os árabes, conforme Hannun aponta na obra. Ao mesmo tempo, ele apresenta diversos aspectos que o “Mundo Árabe” pode ser interpretado como uma unidade, o que é oficializado pelas Câmaras de Comércio Árabes espalhadas pelo mundo. Essa visão está em sintonia com Tim Mackintosh-Smith, renomado pesquisador do mundo árabe. Em seu livro Arabs: A 3,000-Year History of Peoples, Tribes, and Empires (em português, Uma História de 3.000 Anos de Povos, Tribos e Impérios), destaca como a língua árabe formou a base da identidade cultural da região muito antes do advento do Islã, que a fortaleceu ainda mais.
Mercados Culturais: As “Fronteiras” na Era Digital
A abordagem de Hannun sobre o Mundo Árabe reforça as tendências de desvincular a dimensão de mercado das nomenclaturas geopolíticas de países, como se costumava fazer com mais frequência no século passado. No livro Marketing 5.0, o pai da mercadologia, Philip Kotler, aponta tendências de consumo baseadas em comportamentos ou culturas geracionais, que se ramificam na dimensão digital e suas plataformas em rede. Dessa forma, as fronteiras mercadológicas são definidas pelo número de pessoas que desejam, necessitam ou estão propensas a comprar, o que tem forte relação com a cultura, salvo aquelas relacionadas a barreiras comerciais ou tarifárias.
Árabes entre os Três Maiores Mercados para o Brasil
Com base nos dados consolidados de 2024, do MDIC, o Mundo Árabe comprou mais de US$ 23,6 bilhões do Brasil, ficando apenas atrás da China e dos EUA. Mesmo que a comparação seja entre um mercado cultural e países, não se pode ignorar que compreender mais sobre os árabes e as oportunidades de negócios mútuos é de grande relevância. Deste modo, o livro “Brasil e o Mundo Árabe” está em sintonia com tratativas do que pode ser chamado de mercados culturais.
Produções dessa natureza ajudam empresas a prosperar ao combinar cultura e tecnologia. O obra de Rubens, nos faz pensar que dimensionar mercados de diferentes maneiras, não é apenas uma questão de comércio—tudo indica que é uma estratégia indispensável para o sucesso profissional em um mundo com cada vez menos fronteiras.
(*) Rodrigo Solano – Think Global Intercultural e FuncexSP
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