O país se reafirma como potência emergente e pode abrir grandes possibilidades de negócios.
Rodrigo Solano (*)
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Não é exagero dizer que a Índia esteve entre os propulsores do comércio internacional mundial e da globalização. Rica em conhecimento, filosofia e produtos diferenciados, constituiu, por muito tempo, fonte de conhecimento e abastecimento comercial revelados ao mundo pelo próprio país, pelos árabes e depois pelos portugueses, entre outros.
A chegada dos europeus à América deve muito ao interesse comercial pela Índia. O desejo pelas especialidades índicas era tanto que, por equívoco, os nativos do continente, ainda desconhecido pelos que aqui chegaram, foram batizados de índios. Este minúsculo recorte já demonstra o protagonismo indiano na história do comércio internacional mundial.
O período colonial estabeleceu laços com o Brasil que, ao fazer parte do império português, recebeu das terras indianas a laranja, a manga, grande parte do gado entre outros itens que hoje desempenham um grande papel na economia brasileira.
Pelo que tudo indica, o país do sul asiático continua seu papel de relevância internacional e tem assumido grande importância no cenário global por diversos fatores, entre eles o crescimento econômico, populacional e o desenvolvimento de indústrias de qualidade.
A matéria da revista internacional, The Economist, de 13 de maio deste ano destaca: “The Indian economy is being rewired. The opportunity is immense”. Grosso modo, pode ser traduzido “A economia indiana está se renovando”. A oportunidade é imensa”. Tanto o título quanto o conteúdo resumem a maior parte da percepção dos players globais, dado o grande volume de conteúdos produzidos na mesma direção. Não diferente, cresce a relevância indiana para o comércio exterior brasileiro.
Com base na análise de dados do ComexStat do Mdic, o comércio entre o Brasil e a Índia tem praticamente quintuplicado a cada 5 anos considerando as últimas duas décadas. Enquanto as exportações brasileiras para o mundo cresceram 4,7 vezes no período, para a Índia foram mais de 11 vezes. Situação não muito diferente ocorreu com as importações, o que demonstra a ascensão da Índia como parceiro comercial do Brasil.
A partir dos números da mesma fonte, a pauta de exportações brasileiras para a Índia em 2022 é liderada por soja ouro e minérios (HS6), se diversificando para outras classificações e produtos de menor valor participativo. Na contrapartida, destacam-se medicamentos, petróleo, inseticidas e alumínio. Contudo, o comércio entre os dois países pode ter oportunidade para outros diversos produtos.
De acordo com Gautam Sen Gupta, diretor indiano da consultoria Market Vision DWC-LLC estabelecida em Dubai, 75% das exportações brasileiras para a Índia correspondem a commodities. Haveria oportunidades para mais produtos no comércio entre o Brasil e a 5ª maior economia do mundo como produtos químicos para abastecer a indústria farmacêutica indiana. Ele destaca que entre os fatores que dificultam uma maior diversificação da pauta estão o desconhecimento acerca do que o Brasil tem a oferecer, dificuldade na comunicação (Português – Inglês) e distância, com seus custos logísticos.
O especialista em mercados internacionais também menciona que os indianos já têm uma percepção que o Brasil produz carros, aeronaves, minério de ferro, químicos e açúcar, o que tem maior relação com as grandes empresas. Com base na experiência de atuação de sua consultoria desde 1997, as pequenas empresas de ambos os países poderiam desenvolver negócios em segmentos além dos realizados pelos big players, mas que hoje agregam pouco volume comercial.
Oportunidades como estas abrangem praticamente todos os segmentos industriais, principalmente quando se trata de nichos, haja visto que a Índia possui hoje a maior população mundial. Nela inclui diferentes classes sociais, etnias, religiões e línguas, muitas delas escritas em alfabetos diferentes, o que abordo no livro “Usando a língua para conquistar”.
O Brasil possui órgãos que apoiam empresas, incluindo pequenas e médias, a desenvolverem negócios com a Índia. Entre eles destacam-se as Federações das Indústrias, o CIN a Câmara de Comércio Brasil-India e a apexBrasil que possui estudos de mercado sobre o país e ações de promoção comercial programadas com área técnica especializada.
Oportunidades de negócios na Índia foi meu primeiro tema de pesquisa na iniciação científica em Administração e Comércio Internacional em 1999. Na época o país era o 27º destino das exportações brasileiras. Se hoje o país está entre os 10 principais destinos comerciais do Brasil, percebo que meu contínuo interesse pela Índia que levou eu e meu sócio, Leandro Joia, a visitar o país, se tornou gratificante.
Conhecer mais sobre a Índia, e os demais países que estudamos ao longo de décadas, contribuiu com a aquisição de conhecimento que deve ser cada vez mais compartilhado com empresas e organizações parceiras, sejam elas indianas ou brasileiras. Tudo indica que as “Índias” voltaram ao radar com força e devemos nos preparar para desenvolver negócios frutíferos.