Da Redação
Brasília – Após ter atingido em 2012 o recorde histórico de US$ 6,052 bilhões, o fluxo de comércio entre o Brasil e a Venezuela não parou de cair e em 2016 somou apenas US$ 1,691 bilhão, chegando ao mais baixo patamar desde 2003 quando as trocas bilaterais totalizaram pouco mais de US$ 883 milhões. Os dados são do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).
Mas se os números de 2016 foram extremamente negativos, as expectativas para 2017 são ainda piores. E são vários os motivos para que isso aconteça: a crise política, econômico-financeira e social no país vizinho se torna cada vez mais grave, à medida em que também se agudiza a crítica situação gerada pela escassez de divisas em moedas internacionais. Sem recursos, a Venezuela se limita a importar o básico do básico. E ainda assim encontra dificuldades em quitar as faturas com seus fornecedores internacionais e os débitos se acumulam.
Para tornar o panorama na Venezuela ainda mais sombrio, analistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) estimam que em 2016 a economia venezuelana teria encolhido 10%, o que transformaria o país na pior economia do mundo. E a situação é ainda muito no aguda cenário montado por economistas privados que calculam a queda em até 15%, uma retração de colapso quase sem precedentes fora de tempos de guerra.
Com a agudização de uma crise que já é dramática, a cada ano o Brasil deixa de ter na Venezuela uma de suas principais –se não a principal- fonte de superávits robustos em seu comércio exterior.
O ciclo de saldos positivos, que existiu desde sempre, atingiu o ápice em 2008, quando o Brasil exportou para a Venezuela bens no total de US$ 5,150 bilhões (com participação majoritária de produtos industrializados, de maior valor agregado) e importou US$ 539 milhões, em petróleo e naftas principalmente), o que gerou um saldo de US$ 4,611 bilhões em favor do Brasil.
Entre 2005 e 2015, a balança comercial bilateral proporcionou ao Brasil um superávit acumulado de mais de US$ 53,6 bilhões, o maior saldo obtido pelo país com qualquer outro de seus parceiros comerciais em todo o mundo.
Passados os tempos de bonança, a corrente de comércio entre os dois países não parou de cair e em 2016 o Brasil exportou para a Venezuela pouco mais de US$ 1,276 bilhão (queda de 57,28% comparativamente com 2015) e importou produtos no valor de US$ 415 milhões (uma contração de 38,93% comparativamente com o ano anterior).
Analisadas por categorias de produtos, as exportações brasileiras apresentaram contrações expressivas em todos os segmentos. Entre os produtos industrializados, responsáveis por 59,1% de todo o volume exportado para a Venezuela, a queda foi de impressionantes 53,9% para US$ 755 milhões. Igualmente expressivas foram as quedas nos embarques de produtos básicos (-65,7% para US$ 409 milhões) e de -31,6% nas vendas de bens seminanufaturados, que caíram 31,6% para US$ 110 milhões.
Em termos de produtos, foram registradas quedas em praticamente todos os principais itens que integram a pauta exportadora para o mercado venezuelano: -75,7% nas vendas de carne bovina (receita de US$ 131 milhões e participação de 10% nas exportações), -57,8% para US$ 129 milhões nos embarques de carne de frango (participação de 10%) e contração de -65,8% nas exportações de leite e creme de leite (receita de US$ 81 milhões e participação de 6,3% no total exportado para a Venezuela).
De positivo apenas o aumento de +108% nos embarques dos demais produtos manufaturados, que somaram US$ 212 milhões e responderam por 17% das exportações totais para a Venezuela.