Especialista prevê forte aumento do comércio Brasil-Irã no segundo mandato de Hassan Rouhani

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Da Redação

Brasília – O Brasil e o Irã podem, em alguns anos, elevar para o patamar de US$ 10 bilhões o fluxo do comércio bilateral (exportações+importações) e a reeleição do presidente Hassan Rouhani reforça ainda mais uma abertura para esse tão esperado aumento. Apostar em exportação de serviços e bens não-duráveis de alto valor agregado é uma saída para se alcançar esse potencial latente.

 A afirmação foi feita por Jorge Mortean, consultor da Mercator Business Intelligentsia, uma empresa de consultoria sediada em São Paulo, especializada em relações internacionais e que tem a missão de promover e assessorar intercâmbios entre o Brasil e os países do Oriente Médio, Ásia Central e Cáucaso, ao analisar as perspectivas futuras das relações entre o Brasil e o Irã no segundo mandato do presidente iraniano reeleito no mês passado por ampla margem de votos.

Jorge Mortean, consultor da Mercator Business Intelligentsia

Para o especialista, “estamos falando de um mercado consumidor de 80 milhões de habitantes, que tem se tornado cada vez mais dinâmico e sem a concorrência direta dos Estados Unidos. Nós pagamos caro pelo nosso preconceito e pelo desconhecimento não só do Irã mas daquela região como um todo. É importante lembrar que o Irã acaba de assinar um acordo com a Ásia Central para melhorar a infraestrutura logística a partir de seus portos no Golfo Pérsico e com isso o país se torna uma porta de entrada também para esses mercados”.

Em sua análise sobre as relações brasileiro-iranianas, Jorge Mortean sublinhou que “essas relações são estáveis há mais de um século. As mudanças de regime e de governo, tanto lá como cá, não alteraram nossa cordialidade recíproca. A reeleição de Rouhani responde claramente aos anseios do povo persa em um diálogo mais intenso e franco com o Ocidente, que já havia sido demonstrado em seu primeiro mandato, especialmente em relação ao acordo nuclear alcançado com as potências ocidentais, um exemplo diplomático”.

Ao falar sobre as relações comerciais bilaterais, o especialista da Mercator Business Intelligentsia afirmou que “as cifras do ano passado –exportações brasileiras no total de US$ 2,2 bilhões e embarques iranianos no montante de apenas US$ 79 milhões- foram as segundas maiores na nossa história comercial com o Irã, só sendo ultrapassadas pelo fluxo de US$ 2,4 bilhões registrado em 2010. O Irã é dos dois países naquela região, ao lado da Turquia, que nos dá amplo superávit comercial. Trata-se de um país extremamente estratégico para o comércio exterior brasileiro. Concordo que as cifras ainda são modestas, mas, para a média, até que são consideráveis. Em 2010 pensou-se que poderíamos ampliar esse fluxo de comércio para a cifra de US$ 10 bilhões num prazo de dez anos. Essa perspectiva ainda é possível”.

O especialista em Oriente Médio fez também uma avaliação sobre o atual momento do interâmbio comercial entre o Brasil e os países do mundo árabe lembrando que “não houve expansão significativa do nosso comércio com quase nenhum país e não somente com o Oriente Médio. O Brasil enfrenta uma cris econômica e uma instabilidade política que deixam todo o mundo numa posição de cautela e reserva. Enquanto nós não nos estabilizarmos a nossa confiança externa continuará abalada. Nossa produção, sob vários aspectos, não tem gerado excedentes para serem exportados, e isso diminuiu o nosso volume embarcado no ano passado. Houve, paradoxalmente, uma melhora em relação ao Irã. Isto porque nossa pauta exportadora para o país persa se dá somente através de commodities. Todos concordam que podemos e devemos ampliar nossas exportações de bens com alto valor agregado, porém, ainda relegamos ao segundo plano um mercado de 600 milhões de habitantes, com um Produto Interno Bruto per capita de US$ 18 mil, que se estende por uma vasta área, do Marrocos ao Cazaquistão (Norte da África, Oriente Médio e Ásia Central). Enfim, para haver uma significativa expansão do comércio entre o Brasil e esses países, resumo em dois passos a serem tomados: pelo lado deles, confiar mais na nossa economia, o que na verdade é um dever de casa que nós temos que fazer, e, pelo nosso lado, romper com o preconceito e desconhecimento em relação a essas regiões”.

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