José Ricardo dos Santos Luz Júnior (*)
O gigantesco conglomerado Evergrande, também conhecido como Evergrande Group ou Evergrande Real State Group (anteriormente Hengda Group) tem passado por enorme desafio dado o atual passivo da companhia no valor de USD 304 bilhões até 30.06.21.
Listada na Fortune como empresa Global 500, a Evergrande possui hoje 1,3 mil projetos imobiliários em mais de 280 cidades, com quadro de 125 mil colaboradores e mais de 12 milhões de clientes chineses.
Atuando principalmente no ramo imobiliário, mas com atuação também nos segmentos automotivo, tecnologia e saúde, a Evergrande tem sido acompanhada de perto pelas autoridades chinesas, dado o risco de calote e o não cumprimento de suas obrigações financeiras, prejudicando todos os stakeholders, incluindo-se clientes, colaboradores, credores e fornecedores desse grande conglomerado, bem como trazendo grande apreensão no mercado doméstico chinês e internacional, não obstante a Evergrande ter tomado empréstimo apenas de instituições financeiras chinesas.
Mesmo considerada por alguns com uma empresa “too big to fail” (muito grande para quebrar), esse caso tem sido de formas míope comparado por alguns analistas internacionais como caso análogo ao subprime, com a quebra do Lehman Brothers em 2008 ao reconhecer a insolvência de créditos imobiliários.
Em que pese o pronunciamento preliminar dos técnicos do Ministério da Economia do governo brasileiro, afirmando ser ainda muito cedo para avaliar os desdobramentos dessa crise, especialmente no mercado brasileiro de commodities, o empresariado tupiniquim está apreensivo com o risco do efeito cascata dessa crise, especialmente por conta da dependência do Brasil em relação ao ávido mercado chinês.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, tendo a relação Brasil-China chegado a cifra de USD 101.72 bilhões no que tange às importações e exportações em 2021, e já atingiu 70 bilhões somente no primeiro semestre desse ano, isto é, a cada 60 horas exatas USD 1 bilhão são fechados nesse fluxo comercial sino-brasileiro no presente ano, podendo chegar a USD 120 bilhões até o final de 2021.
Parte da angústia do empresariado foi externada inclusive com a queda das ações de empresas brasileiras voltadas a exportação de minério de ferro e siderúrgicas na Bolsa de Valores B3. O preço do minério de ferro tem diminuído no mercado internacional, pois chegou a ser cotado em maio/21 em USD 240.00 a tonelada e hoje tem o preço de mercado inferior a USD 100.00/tonelada. Mas essa baixa não é resultado exclusivo da situação da Evergrande, pois o governo chinês vem estimulando a diminuição da produção de aço por conta da emissão de carbono, consoante as diretrizes para se tornar um país carbon free até 2060.
Ainda que se trate de um caso complexo, pois pode macular todo mercado imobiliário chinês, correspondente a 25% do PIB chinês, bem como afetar outros setores da economia chinesa, é inconteste que o governo chinês tem capacidade monetária e fiscal para intervir, de forma a não colocar em risco todo o setor imobiliário e não prejudicar ainda mais a retomada da economia pós-COVID-19.
Independentemente da Evergrande honrar ou não as dívidas contraídas, o governo chinês certamente regulará o mercado para conter a especulação imobiliária e evitar os grandes monopólios, dadas as diretrizes para promover políticas voltadas ao bem social do povo, ou melhor dizendo, filosofia centrada no povo chinês (“prosperidade comum”), diminuindo um dos três desafios chineses – moradia, ao lado da educação e saúde do povo.
É crucial, portanto, acompanhar a evolução do gigante asiático, consoante as diretrizes estabelecidas pelo governo chinês. Não nos esqueçamos que a China pretende se tornar líder em inovação em 2035 e alcançar em 2049 a condição de uma nação moderna, harmônica, próspera e líder global, ao completar 100 anos de sua fundação – e o país tem exitosamente demonstrado planejamento e execução para atingir esses objetivos.
(*) José Ricardo dos Santos Luz Júnior – CEO do LIDE China