Sandeep Wasnik (*)
O ano de 2025 marca um ponto de inflexão no comércio global. Washington agora depende em grande parte de avaliações e tarifas como suas principais ferramentas econômicas, remodelando o comércio internacional. O regime de sanções da OFAC foi ampliado para atingir a Rússia, o Irã, a Síria, a Coreia do Norte, a Venezuela, a Bielorrússia e outros países, punindo não apenas os governos, mas também exercendo empresas globais e países terceiros a cumprir ou correr o risco de serem excluídos das redes financeiras controladas pelos EUA.
Essa estratégia agressiva alimentou o que muitos chamam de realinhamento econômico global. Juntamente com as avaliações, as tarifas foram níveis elevados a níveis nunca vistos em décadas: 50% sobre produtos chineses e indianos e entre 25% e 50% sobre aço, automóveis e metais provenientes do México, Brasil e Índia. Embora o objetivo seja proteger a indústria americana, os custos para os consumidores aumentaram, fragmentando as cadeias de abastecimento e dividindo o comércio global em blocos rivais.
BRICS: De coalizão a contrapeso
Nesse contexto, os BRICS passaram de um clube econômico informal para um sistema estratégico. A expansão do grupo em 2025 para incluir Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia lhe confere um peso crítico: uma comunidade que representa quase metade da humanidade e uma proporção cada vez maior do PIB global. A Arábia Saudita, agora à beira de adesão, acrescentaria um peso extraordinário graças ao seu poder energético.
Essa expansão não é simbólica. Os fluxos comerciais destacam a influência do BRICS. Em 2024, a China ultrapassou os Estados Unidos como principal parceiro comercial da América do Sul, representando 28% de suas exportações, contra 16% dos EUA. Só o Brasil inveja bens no valor de US$50 bilhões para a Ásia — evidência de uma reorientação econômica mais profunda entre o Oriente e o Sul, que transforma os BRICS no núcleo de uma nova geografia comercial não ocidental.
Redes de pagamento digital: construindo barreiras financeiras
Diante da pressão das avaliações e tarifas, os membros do BRICS redobraram sua aposta na soberania financeira digital. A UPI da Índia processou agora quase 675 milhões de transações diárias, tornando-se a espinha dorsal do comércio nacional e transfronteiriço, incluindo ligações formais com os Emirados Árabes Unidos e o Sudeste Asiático. O Pix do Brasil bateu recordes em 2024, gerando mais de 6 bilhões de pagamentos mensais, superando até mesmo as transações com cartão.
O sistema Mir e o rublo digital da Rússia oferecem uma capacidade de pagamento à prova de avaliações. O CIPS da China já ultrapassou os 24 trilhões de dólares em liquidações anuais e continua a adicionar mais instituições globais. Juntos, esses projetos estão tecendo uma arquitetura integrada chamada “BRICS Pay”, projetada especificamente para contornar os sistemas dominados pelo dólar e evitar as vulnerabilidades expostas pelos controles do OFAC.
BRICS Pay: Finanças sem um guardião
Em essência, o BRICS Pay é uma rede baseada em blockchain, o que significa que nenhuma nação — e certamente não Washington — pode suspender ou monitorar unilateralmente os fluxos. Contratos inteligentes e conexões API permitem a conversibilidade fluida entre sistemas locais como UPI e Pix. O efeito: comércio em moedas locais, sem recorrer ao dólar ou ao SWIFT.
De acordo com estimativas atuais, o BRICS Pay já gerencia um comércio no valor aproximado de US$10 trilhões por ano, o que representa cerca de 21% do volume global, com uma projeção de atingir US$15 trilhões até 2030. Até 2025, cerca de 90% do comércio intra-BRICS já será realizado em moedas nacionais, uma mudança drástica em relação ao sistema centrado no dólar de uma década atrás.
Fugindo da gravidade do dólar
A China e o Brasil estão trabalhando para reduzir sua dependência do dólar americano, liquidando o comércio em suas respectivas moedas, o yuan chinês e o real brasileiro. Em março de 2023, eles chegarão a um acordo que permitirá negociar em suas moedas locais, em vez de usar o dólar. Posteriormente, em maio de 2025, o Banco Central do Brasil anunciou sua intenção de formalizar um acordo de swap cambial com o Banco Central da China, permitindo uma troca de até 157 bilhões de reais (US$27,69 bilhões).
Em 2015, o dólar representava aproximadamente 67,8% das reservas mundiais de moeda estrangeira alocadas, mas no primeiro trimestre de 2025, essa proporção havia diminuído para aproximadamente 57,7%, refletindo uma queda de cerca de 10 pontos percentuais em uma década.
Os BRICS estão despertando, novas rotas comerciais estão surgindo e o declínio gradual do dólar americano como moeda de reserva deixa Washington com um controle de juros limitado.
(*) Sandeep Wasnik, Consultor de negócios internacionais com vasta experiência na promoção de relações comerciais entre a Ásia, o Oriente Médio e a América Latina. Especialista em negócios internacionais e relações comerciais com a América Latina, oferecendo expertise em entrada em novos mercados, compliance local, estratégias de go-to-market e desenvolvimento de negócios.