Tarifas dos EUA: impactos e caminhos para o agro brasileiro

Compartilhe:

André Bertolino (*)

A decisão dos Estados Unidos de aplicar novas tarifas sobre produtos brasileiros, como carne bovina, café e aço, evidencia a instabilidade presente no comércio global. Para o agronegócio brasileiro, que enfrenta desafios como mudanças climáticas e questões logísticas internas, essas medidas representam um novo fator a ser considerado nas relações comerciais internacionais.

Por um lado, as tarifas podem incentivar a diversificação de mercados e a busca por novos parceiros comerciais, reduzindo a dependência de um número limitado de países. Elas também reforçam a necessidade de incorporar o risco externo nas estratégias de médio e longo prazo do setor.

Por outro lado, há impactos imediatos. Estima-se que a tarifa sobre a carne bovina possa comprometer cerca de R$ 890 milhões em exportações. Além disso, a medida gera incertezas, como revisões contratuais e atrasos em embarques.

A ampliação das tarifas, no entanto, deixou de fora alguns produtos brasileiros de peso, como petróleo, suco de laranja, aviões, celulose e determinados itens têxteis. Esses segmentos seguem isentos das novas medidas, preservando sua competitividade no mercado norte-americano e ajudando a atenuar, ainda que parcialmente, o impacto sobre outros setores.

Ainda assim, mesmo fora da atual linha de impacto, são cadeias produtivas que não estão imunes a futuras reavaliações e, por isso, também devem estar atentas ao cenário de crescente imprevisibilidade nas relações comerciais.

Decisões como essas, tomadas fora do Brasil, têm efeitos em toda a cadeia produtiva — da produção à logística, afetando desde pequenos produtores até grandes exportadores. Esses impactos, apesar de difíceis de prever, influenciam diretamente a operação e o desempenho do setor.

Nesse contexto, é inevitável reconhecer o papel estratégico do setor de seguros na sustentação das exportações brasileiras. Diante de um cenário internacional cada vez mais instável, a proteção contra riscos comerciais e logísticos deixa de ser acessório e passa a ser elemento central na tomada de decisões.

Soluções como o seguro de crédito à exportação não apenas oferecem respaldo em casos de inadimplência ou interrupções operacionais, como também funcionam como instrumentos de confiança para quem negocia em um ambiente sujeito a tensões políticas e medidas tarifárias inesperadas. Em tempos como este, antecipar riscos é tão importante quanto saber enfrentá-los — e o seguro pode ser um aliado decisivo nesse processo.

O agronegócio brasileiro apresenta eficiência, competitividade e modernização, mas enfrenta a necessidade de refletir sobre a segurança comercial. A preparação para lidar com alterações frequentes nas regras do comércio internacional, a existência de alternativas de mercado e o fortalecimento da diplomacia econômica são pontos relevantes para a continuidade das exportações.

O setor agropecuário brasileiro já enfrentou diferentes momentos de instabilidade ao longo de sua trajetória e mostrou capacidade de adaptação. Ainda assim, a recorrência de tensões externas, como a atual política tarifária dos Estados Unidos, sugere a necessidade de um planejamento mais estruturado e contínuo.

Diversificação de mercados, fortalecimento das relações institucionais e maior compreensão das dinâmicas políticas de parceiros comerciais são caminhos que podem contribuir para reduzir vulnerabilidades e dar mais previsibilidade à cadeia produtiva. Mais do que reagir a eventos pontuais, trata-se de incorporar essa lógica ao modelo de atuação do setor.

O agronegócio tende a manter seu protagonismo na economia brasileira, mas, diante de um cenário internacional cada vez mais volátil, a antecipação de riscos pode ser tão relevante quanto a capacidade de produção. O momento atual reforça a necessidade de definir o posicionamento do Brasil no comércio global para os próximos anos.

(*) André Bertolino é Diretor Executivo na Avla Brasil

 

Tags: