Como a indústria deve enfrentar os desafios logísticos do comércio exterior 

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Eficiência da cadeia de distribuição se coloca como um diferencial competitivo decisivo para o setor industrial

Felipe Pazinatto, Juliana Gatti e Raguinal Fabiano (*)

No cerne da corrida pela competitividade da indústria brasileira em um contexto global de ampla disputa por mercados, uma logística eficiente emerge, sem dúvidas, como uma base de sustentação decisiva para os resultados das organizações.

Ao mesmo tempo, para que esses ganhos sejam colhidos, as áreas de distribuição do setor industrial precisam superar desafios estruturais que, diariamente, afetam a fluidez das operações ao redor do país.

Fato é que, em um cenário global marcado por incertezas econômicas, transformações geopolíticas e alta concorrência, otimizar cadeias de distribuição e reduzir custos logísticos não são somente metas de longo prazo, mas um norte que já se coloca como determinante para a sustentabilidade dos negócios.

Desafios logísticos para a indústria brasileira

E essa perspectiva é especialmente verdadeira para o Brasil, país que une dimensões continentais e uma distância relativa considerável dos principais mercados consumidores e que, por isso, enfrenta de largada desafios geográficos que impactam diretamente na competitividade de sua indústria no comércio exterior.

A infraestrutura logística nacional, apesar de alguns avanços recentes em modais como o aéreo, ainda apresenta gargalos significativos, como a concentração do transporte de cargas no modal rodoviário, altos custos portuários e entraves burocráticos.

Não por acaso, de acordo com dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), o chamado “Custo Brasil” já atinge R$ 1,7 trilhão, sendo a infraestrutura e a dificuldade logística componentes centrais desta conta, que são avultados quando frequentes greves de agentes públicos se fazem presente no âmbito do Comex.

Além disso, os custos de exportação são um fator crítico para as empresas nacionais. Segundo um estudo da CNI (Confederação Nacional da Indústria), os custos do transporte internacional são as maiores dificuldades para os exportadores brasileiros, superando até mesmo barreiras tarifárias impostas por outros países, fator inerente aos poucos tratados econômicos que o governo brasileiro tem com grandes potências, o que dificulta a o favorecimento das exportações para novos mercados.

O contexto geopolítico global, por fim, também adiciona camadas de complexidade à logística internacional. Tensões comerciais entre grandes economias, oscilações no preço dos combustíveis e disrupções nas cadeias de suprimentos – como as ocorridas durante a pandemia de COVID-19, apenas para citar um exemplo – evidenciam a necessidade de estratégias resilientes e adaptáveis.

Estratégias para superar entraves 

Para mitigar esses desafios, a indústria precisa adotar uma abordagem logística estratégica e integrada. A escolha do modal de transporte, por exemplo, pode ser um diferencial competitivo que depende de uma análise minuciosa.

Sobre esse ponto, embora o modal marítimo seja predominante no comércio exterior, em alguns casos, a adoção do transporte aéreo tem se mostrado uma alternativa viável, especialmente para produtos de alto valor agregado ou demandas urgentes.

Já a parceria com operadores logísticos especializados também é um fator essencial. Contar com uma rede de distribuição bem estruturada e fornecedores confiáveis reduz riscos e otimiza custos. Além disso, investir em tecnologia para gestão da cadeia de suprimentos possibilita maior previsibilidade, eficiência no planejamento de rotas e redução de desperdícios.

Outro ponto crucial é a qualificação da equipe interna. Profissionais capacitados para lidar com regulamentações aduaneiras, otimização de processos e negociação de contratos internacionais tornam-se um ativo estratégico para as empresas que buscam se consolidar no mercado externo.

A adaptação às variações econômicas e geopolíticas também deve ser um pilar cultural de todo departamento logístico. Monitorar tendências globais e entender as especificidades culturais dos mercados-alvo permite ajustes ágeis, minimizando impactos de crises e aproveitando oportunidades emergentes.

Eficiência e sustentabilidade: o novo diferencial competitivo

Se antes a qualidade e o preço eram os principais fatores de decisão de compra na economia, hoje, diante da grande oferta mercadológica e da evolução de marcas que, em diferentes segmentos, competem com indicadores qualitativos muito próximos, a eficiência logística se coloca um diferencial competitivo inegável.

Nesse sentido, empresas que conseguem entregar seus produtos com rapidez, previsibilidade e custos otimizados ganham vantagem em um mercado global cada vez mais dinâmico e inovador.

Além disso, a sustentabilidade vem se tornando uma exigência crescente na cadeia de suprimentos. Investimentos em soluções logísticas mais sustentáveis, como a utilização de combustíveis alternativos, mudanças em embalagens, otimização de cargas para reduzir emissões de carbono e o uso de modais mais eficientes, não apenas reduzem impactos ambientais, mas também atendem às novas exigências regulatórias e às expectativas dos consumidores.

Ou seja: em um cenário de concorrência acirrada, a logística, mais do que nunca, é um trunfo decisivo na diferenciação das marcas.

Assim, indústrias que estruturam suas operações com foco em eficiência, flexibilidade e inovação nas cadeias de distribuição certamente estarão mais preparadas para expandir sua presença global e consolidar sua competitividade no comércio exterior hoje e no futuro.

(*) Felipe Pazinatto é Supervisor de Exportação da Starrett, Juliana Gatti é Gerente de Exportação e Atendimento ao Cliente da Starrett, e Raguinal Fabiano é Gerente de Logística da Starrett.

 

 

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