São Paulo – O setor automotivo não espera que as exportações de veículos cresçam este ano, principalmente por causa dasituação na Argentina, que passa por uma crise cambial. “Infelizmente, neste ano, as exportações de veículos não serão as melhores notícias”, disse hoje (11) o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Carlos Botelho Megale.
“O nosso principal problema é o nosso principal parceiro, que é a Argentina, que infelizmente, está em uma situação muito difícil e acreditamos que o mercado argentino será muito baixo este ano. Estamos fazendo um esforço importante para mandarmos veículos para outros países como Colômbia, Chile e Uruguai. Estamos buscando novos mercados fora da América Latina também”, disse Megale.
Segundo ele, as empresas devem se esforçar para substituir o mercado argentino por outros. “Mas isso leva tempo. E o mercado argentino é o segundo maior mercado da América do Sul. Então, quando ele se retrai, nós, que somos os maiores fornecedores, sentimos”, acrescentou.
Em fevereiro, as exportações atingiram a marca de US$ 876 milhões. “Abaixo de US$ 1 bilhão. E US$ 1 bilhão é uma referência boa para a gente. Acima é um número razoável. Mas estamos abaixo. Se somarmos janeiro e fevereiro estamos com R$ 1,6 bilhão. É muito aquém, 36% abaixo do ano passado”, disse Megale.
Produção e vendas
Em fevereiro, a produção de veículos no país cresceu 29,9% na comparação a janeiro e 20,5% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. Segundo a Anfavea, 257,2 mil veículos foram produzidos no país em fevereiro.
Já as vendas de veículos (o que engloba veículos leves, caminhões e ônibus e incluindo também os importados) apresentou queda de 0,6% em comparação a janeiro e aumento de 26,6% em comparação a fevereiro do ano passado, com 198.641 veículos produzidos.
“A boa notícia neste mês de fevereiro foi a produção, quando ultrapassamos 257 mil veículos. Para um mês de fevereiro, que é um mês curto, é um bom número. Tivemos um mercado interno bom, com mais de 198 mil unidades comercializadas, o que dá uma média diária de 9,9 mil unidades comercializadas. Então o ano está começando bem”, disse Megale.
Segundo ele, esses números positivos na produção e na venda se devem principalmente ao aquecimento do mercado interno. “O primeiro ponto é a confiança. Há um clima mais otimista, as pessoas estão mais confiantes na manutenção de seus empregos e achando que o país está voltando a crescer. O segundo ponto é o financiamento. O nível de inadimplência está muito baixo no país. Os bancos estão mais animados para oferecer crédito”, falou o presidente da Anfavea.
Programas
Megale também comentou sobre o programa IncentivAuto, do governo paulista, que prevê incentivos fiscais a montadoras que façam novos investimentos no estado. Serão concedidos descontos de até 25% no valor do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para empresas que apresentarem planos de construção ou ampliação de plantas industriais em valores superiores a R$ 1 bilhão. Para se beneficiarem das reduções tributárias, as companhias deverão gerar pelo menos 400 novos postos de trabalho.
Para Megale, o plano é positivo porque ajuda a reduzir a carga tributária e mostra sensibilidade do governo com o setor. Mas, para ele, a proposta não trará benefícios em curto prazo e não contempla a maior preocupação da indústria automobilística, que são os créditos acumulados.
“Acho que toda redução de carga tributária no país é bem-vinda. O Brasil tem uma carga tributária muito elevada para o nosso setor, muito acima de outros países, então, qualquer redução de carga, mesmo que seja de um estado, é positiva. Mas esse é um programa que parece que vai ter efeito mais de médio a longo prazo. A curto prazo ele não tem efeito. E o que temos falado é que hoje, a curto prazo, temos um problema que precisa ser equacionado, que é dos créditos de ICMS retidos pelo governo de São Paulo”, falou o presidente da associação.
Segundo ele, essa questão já está sendo negociada com o governo paulista. “A gente espera que novas medidas venham no sentido de a gente aproveitar esse crédito, talvez até revertendo ele para novos negócios na indústria”, falou.
“O que resolveria [o problema] é a devolução dos créditos, que são de direito das montadoras. Quando, por exemplo, você compra uma peça, você paga o ICMS. Quando você exporta o veículo, a exportação é isenta de ICMS. E isso fica retido no governo. Isso é dinheiro das montadoras. Inclusive, o cálculo do preço do veículo a ser exportado considera isso como recurso nosso. Se isso fica retido no estado e o estado não devolve para as montadoras, isso acaba virando prejuízo. E isso preocupa as empresas”, explicou o presidente da Anfavea. A soma desse recursos retido, disse ele, chega a ser superior a R$ 5 bilhões.
Ford
Sobre o fechamento da fábrica da Ford, Megale disse não poder comentar sobre a decisão da empresa em fechar sua unidade em São Bernardo do Campo. Ele disse apenas que a medida deverá trazer impactos para a região, mas que espera que os funcionários dessa unidade sejam absorvidos por outras montadoras.
“Nos preocupa, naturalmente, o fechamento de fábricas no Brasil porque a gente entende que o mercado vai crescer e que o Brasil tem potencial para ser um dos cinco maiores mercados do mundo. Acho que se a economia trouxer bons resultados, como a gente espera este ano, nosso mercado vai continuar crescendo. Nossa projeção é de crescimento de 11,4%, que poderá até ser superado”, falou Megale.
(*) Com informações da Agência Brasil