Genebra (Suíça) – A Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) considera positivas as perspectivas gerais para o comércio em 2024, com a procura crescente de bens ambientais, especialmente automóveis elétricos, desempenhando um papel crucial na promoção do crescimento.
Segundo a instituição, a expectativa é de que o comércio internacional se recupere em 2024, depois de registrar quedas durante vários trimestres. Os números preliminares indicam uma contração de US$ 1 trilhão no comércio global em 2023, impulsionada principalmente pela procura moderada nos países desenvolvidos e pelo comércio mais fraco nas regiões da Ásia Oriental e da América Latina.
A UNCTAD destaca ainda que embora o comércio de bens tenha decaído em 2023, o comércio de serviços continuou a crescer, sinalizando resiliência num contexto de condições desafiadoras.
Depois de enfrentar quedas ao longo de vários trimestres, o comércio internacional está preparado para uma recuperação em 2024, de acordo com a última Atualização do Comércio Global da UNCTAD.
Em 2023, o comércio global registrou uma contração de 3%, equivalendo a cerca US$ 1 trilhão, em comparação com o máximo recorde de US$ 32 trilhões em 2022. Apesar deste declínio, o setor dos serviços mostrou resiliência com um aumento de US$ 500 bilhões, ou 8%, em relação ao ano anterior, enquanto o comércio de bens registrou um declínio de US$ 1,3 trilhão, ou 5%, em comparação com 2022.
O quarto trimestre de 2023 marcou um afastamento em relação aos trimestres anteriores, com a estabilização do comércio de mercadorias e de serviços em relação ao trimestre anterior. Os países em desenvolvimento, especialmente os das regiões de África, da Ásia Oriental e do Sul da Ásia, registaram um crescimento no comércio durante este período.
Dinâmica regional
Embora as principais economias tenham registrado, em geral, um declínio no comércio de mercadorias ao longo de 2023, surgiram algumas excepções, como a Federação Russa, que apresentou uma volatilidade notável nas estatísticas comerciais.
No final de 2023, o comércio de bens apresentou um crescimento em várias economias importantes, incluindo a China (+5% das importações) e a Índia (+5% das exportações), embora tenha diminuído na Federação Russa e na União Europeia.
Durante 2023, o desempenho comercial divergiu entre os países em desenvolvimento e os desenvolvidos, tendo os primeiros registrado um declínio de aproximadamente 4% e os últimos cerca de 6%. O comércio Sul-Sul fechou o ano com um declínio mais acentuado, de cerca de 7%. No entanto, essas tendências inverteram-se no último trimestre de 2023, com os países em desenvolvimento e o comércio Sul-Sul retomando o crescimento, enquanto o comércio nos países desenvolvidos permaneceu estável.
As tensões geopolíticas continuaram a ter impacto nos fluxos comerciais bilaterais, como demonstrado pela redução da dependência comercial da Federação Russa em relação à União Europeia, ao mesmo tempo que aumentava a sua dependência da China. Além disso, a interdependência comercial entre a China e os Estados Unidos diminuiu ainda mais em 2023.
Em nível regional, o comércio entre as economias africanas contrariou a tendência global, aumentando 6% em 2023, enquanto o comércio intrarregional na Ásia Oriental (-9%) e na América Latina (-5%) ficou aquém da média global.
Quadro setorial misto
Em nível setorial, a maioria das indústrias registrou quedas no valor comercial, com exceções como a farmacêutica, o equipamento de transporte (em grande parte devido ao aumento da procura de aeronaves de fuselagem larga) e os veículos automóveis, que cresceram 14%, impulsionados principalmente pela procura de veículos elétricos.
Por outro lado, setores como o vestuário, os produtos químicos e os têxteis registaram quedas significativas em 2023. No entanto, a maioria dos setores recuperou no quarto trimestre de 2023, exceto o vestuário, onde o comércio contraiu ainda mais.
Entre os serviços, o turismo e os serviços relacionados com viagens apresentaram a recuperação mais forte, aumentando quase 40% no ano passado.
Perspectivas para 2024
Os dados disponíveis para o primeiro trimestre de 2024 sugerem uma melhoria contínua no comércio mundial, especialmente considerando a moderação da inflação mundial e a melhoria das previsões de crescimento econômico. Além disso, espera-se que o aumento da procura de bens ambientais, especialmente veículos elétricos, impulsione o comércio este ano.
No entanto, as tensões geopolíticas e as perturbações na cadeia de abastecimento persistem como fatores cruciais que influenciam as tendências do comércio bilateral e exigem uma vigilância contínua. As perturbações nas rotas marítimas , especialmente as relacionadas com questões de segurança no Mar Vermelho e no Canal de Suez, bem como os efeitos climáticos adversos nos níveis de água no Canal do Panamá, têm o potencial de aumentar os custos de transporte, prolongar os tempos de viagem e perturbar as cadeias de abastecimento.
(*) Com informações da UNCTAD
