Jackson Campos, Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo

Tarifaço de Trump: uma análise de um mês da medida, reflexos para o exportador brasileiro e contramedidas

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Especialista em comércio exterior Jackson Campos avalia que primeiro mês de tarifa trouxeram boas movimentações, mas que reciprocidade pode ser destrutiva para o mercado brasileiro

Da Redação

Brasília – No próximo sábado (6), completa um mês que o tarifaço aplicado pelos Estados Unidos contra o Brasil está em vigor. Com medidas de auxílio às exportadoras anunciadas e até mesmo a lei da reciprocidade sendo considerada no momento, o cenário atual tem se mostrado difícil para segmentos que dependem dos americanos.

Produtos como soja e especialmente o café têm sofrido com a taxa e os produtores têm buscado alternativas viáveis para este período de incertezas. Para o especialista em comércio exterior Jackson Campos, o problema também chegou no consumidor americano, que viu um de seus principais itens de consumo encarecer.

“No complexo soja, a China antecipou compras na América do Sul e ocupou parte da janela que tradicionalmente cabia aos EUA no fim do terceiro trimestre, sustentando o line-up brasileiro no curto prazo. Já no café, a incerteza tarifária elevou prêmios e pressiona repasses ao consumidor nos EUA, um mercado majoritariamente dependente de importação. O encarecimento reforça a ideia de que tarifas sobre bens sem oferta doméstica relevante funcionam como imposto no consumidor e alimentam o debate interno americano”, explica o especialista.

A carne bovina é outro ponto preocupante do comércio exterior brasileiro, mas tem encontrado outros países dispostos a acomodar parte do que seria vendido aos EUA. O México surge como principal interessado no produto e tem feito avanços significativos para abrir, de fato, o seu mercado para o Brasil.

“No boi, o México avançou para auditar 14 plantas brasileiras em setembro, sinal de que assumirá papel mais relevante como destino imediato, enquanto os embarques de agosto caminham para recorde em volume e receita. Essa realocação compensa a queda para os Estados Unidos e reduz a ociosidade nas indústrias locais”, diz Campos.

Além disso, o especialista explica que a lista de exceções aliviou diversos setores brasileiros que seriam duramente atingidos com a medida, como “a celulose e suco de laranja, que iriam ter muitos problemas, mas seguem poupados pela ordem executiva, amortecendo o impacto nessas cadeias”.

Impactos e o futuro

As tarifas não são apenas uma questão econômica, Trump está usando o comércio internacional como arma para pressionar o Brasil em outros setores. Para Campos, o Brasil tem agido de maneira correta reafirmando sua soberania, mas usar a lei da reciprocidade e devolver a tarifa pode ser destrutivo para diversos segmentos.

“O país tem se posicionado de maneira contundente a respeito de sua autoridade e Trump não esperava essa resistência, mas temos que ser cautelosos. Autorizar o processo de reciprocidade é um recado político-jurídico, mas não resolve por si só. A Camex tem 30 dias para avaliar e calibrar eventuais contramedidas. Se for aprovada, será a primeira vez que o país acionará esse instrumento. Se migrarmos para tarifas-espelho sem critério, corremos o risco de punir nossa própria base produtiva e encarecer insumos aqui dentro”, afirma o especialista.Para ele, sobra ao Brasil a missão de negociar isenções adicionais, especialmente

para carne e café, enquanto o governo busca diversificar mercados, estreitando laços com Europa e China.

“A leitura para o primeiro mês pós-tarifaço é que a diversificação de destinos e a priorização chinesa por origem sul-americana evitaram ruptura na oferta brasileira, mas o risco persiste nos itens expostos ao mercado dos EUA sem alternativa logística ou sanitária rápida. Não há outro caminho a não ser insistir pelos caminhos diplomáticos, buscando negociar diretamente com a Casa Branca, enquanto encontra outros mercados que são capazes de mitigar o impacto da tarifa e manter a produção brasileira”, finaliza Campos.

 

 

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