Tarifaço de Trump impacta carne, café e autopeças e reacende pressão sobre exportações brasileiras

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Relatório da Acrefi destaca impacto assimétrico das medidas sobre empresas nacionais, riscos ao setor agropecuário e cenário de incertezas para o comércio exterior

Da Redação (*)

Brasília – A imposição de uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras para os Estados Unidos, formalizada pelo governo Trump no dia 30 de julho e em vigor desde o último dia 6, reacendeu a tensão entre interesses econômicos e disputas geopolíticas nas Américas. A medida acrescenta 40 pontos percentuais à tarifa de 10% já existente sobre importações brasileiras e, segundo a nova edição do boletim Visão Financeira da Acrefi, pode afetar diretamente setores estratégicos da economia nacional. O documento é assinado por Nicola Tingas, economista-chefe da instituição.

Apesar de uma lista de 694 exceções tarifárias anunciada pelos EUA, abrangendo produtos como aeronaves, peças, suco de laranja, ferro-gusa e petróleo, itens de alta representatividade na pauta exportadora brasileira, como carne, café e pescado, seguem sendo taxados. De acordo com a Amcham Brasil, as exceções correspondem a cerca de 43% das exportações brasileiras para os EUA em 2024, o que significa que 53% das exportações permanecem expostas às novas barreiras comerciais. Para além dos já citados, segmentos têxteis, autopeças, máquinas, celulose, papel, açúcar e minério de ferro estão entre os mais impactados.

A análise destaca que empresas de grande porte, com maior capacidade de crédito e gestão de fluxo de caixa, devem conseguir absorver parte dos impactos no curto prazo. Já negócios de menor escala, especialmente aqueles concentrados em produtos perecíveis e altamente dependentes do mercado norte-americano, podem sofrer consequências imediatas como cancelamento de contratos, queda de margem e impactos na cadeia de fornecedores locais. “A estratégia adotada por Trump combina pressão comercial e coerção política. Além de afetar o comércio bilateral, ela revela interesses mais amplos: conter a presença da China na América do Sul, influenciar a política interna brasileira e fortalecer o domínio geopolítico dos EUA na região”, analisa Tingas.

Tarifaço e escalada política

Além das medidas tarifárias, o boletim chama atenção para a escalada política entre os dois países. No mesmo pacote de ações, os EUA acionaram a chamada “Lei Magnitsky” para aplicação de sanções pessoais ao ministro Alexandre de Moraes (STF), além do avanço de uma nova legislação no Congresso americano que prevê punições automáticas a países que negociem com a Rússia – medida que, se aprovada, pode atingir em cheio as importações brasileiras de fertilizantes e petróleo russo, vitais para o agronegócio.

Embora o impacto comercial direto das tarifas seja menor para o Brasil do que para economias mais abertas, devido ao perfil estruturalmente fechado da economia nacional, os autores destacam que essa “vantagem momentânea” pode se converter em desvantagem estratégica no médio prazo. O relatório aponta que a agenda atual expõe a vulnerabilidade do Brasil diante da polarização global e mostra que o comércio exterior será cada vez mais condicionado por decisões de poder e política, não apenas por lógica econômica.

No campo doméstico, a economia brasileira continua demonstrando resiliência, mesmo com sinais de desaceleração após o crescimento de 3,4% registrado em 2024. A perspectiva do economista é de que o nível de atividade siga moderadamente aquecido até 2026, sustentado por emprego elevado, expansão do crédito, investimentos públicos e políticas sociais.

FGC terá novas regras a partir de 2026 para conter risco e reforçar estabilidade 

Enquanto o cenário internacional impõe desafios externos ao comércio e à diplomacia econômica, o sistema financeiro brasileiro também passa por ajustes estruturais internos. Um deles diz respeito às regras do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), que passam por reformulação com foco em maior estabilidade e prevenção de riscos no ambiente bancário.

Segundo boletim Radar Crédito & Economia, assinado também por Nicola Tingas, o Conselho Monetário Nacional aprovou uma resolução que altera a metodologia de cobrança da Contribuição Adicional (CA), exigindo uma gestão mais prudente das captações. As mudanças, que entram em vigor em 1º de junho de 2026, reduzem o limite a partir do qual a contribuição é exigida e dobram o multiplicador aplicado, ampliando o custo da CA para instituições com perfil mais alavancado.

A nova norma também impõe restrição de alocação para recursos que excedam dez vezes o patrimônio líquido ajustado da instituição, obrigando sua aplicação em títulos públicos. De acordo com o Banco Central, a medida visa mitigar riscos excessivos e preservar a higidez do sistema financeiro. Para o economista, a mudança deve estimular práticas mais conservadoras de captação e reforçar a confiança no sistema bancário nacional.

(*) Com informações da Acrefi

 

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