Brasília – O setor agropecuário brasileiro tem potencial para expandir a produção com sustentabilidade, suprir parte da crescente demanda mundial por alimentos e ainda garantir bons ganhos socioeconômicos aos trabalhadores do campo. Tais conquistas só serão possíveis com o aumento da produtividade agrícola por meio da implementação de estudos acadêmicos, pesquisas, organização do segmento e o uso intenso de tecnologias no processo produtivo. Basta que o conhecimento especializado chegue à área rural e o governo a apoie com políticas públicas. Essas constatações vêm dos especialistas que palestraram no 1º Seminário de Economia Agrícola da AgroBrasília, realizado na manhã desta sexta-feira (16). O evento contou com a participação de 150 produtores e estudantes.
Para o mediador do evento, o professor Angelo Costa Gurgel, o distanciamento existente entre a informação da universidade e o produtor rural pode ser um fator decisivo que ainda impede esses ganhos necessários de produtividade. “É muito importante conseguir trazer ao agricultor a mensagem do que está sendo estudado e descoberto hoje no Brasil, informação sobre produção sustentável da academia direto para o produtor rural. Isso é algo pioneiro no país. Nenhuma outra Feira tecnológica tem um evento de cunho acadêmico e com pessoas que tem conhecimento e prática de produção, que circulam nos meios produtivos, mas estão na academia fazendo ciência”, destacou Gurgel que é doutor e coordenador do Mestrado Profissional em Agronegócio da Escola de Economia de São Paulo– FGV.
O agricultor brasileiro precisa ter acesso às informações sobre tecnologia e sustentabilidade para aumentar a produtividade das lavouras, segundo Eduardo Delgado Assad, doutor e secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. Ele enfatizou também a necessidade de mobilizar as instituições de assistência técnica e extensão rural para orientar de forma mais expressiva os produtores.
“Temos uma reserva de tecnologias muito grande no Brasil. O que nos deixa angustiados é que essa tecnologia não está chegando como deveria chegar ao campo. Estamos com 180 milhões de toneladas de grãos produzidas e poderíamos chegar a 330 sem expansão de área. Não falta área, está faltando é conhecimento, faltando que a informação chegue até o agricultor”, pontuou o palestrante. Ele também ressaltou a necessidade de priorizar a implementação do novo Código Florestal, com adesão dos agricultores ao Cadastro Ambiental Rural (CAR) para alinhar preservação e produção.
Já Juliano Assunção, doutor e professor de economia da PUC-RJ, ressaltou que o Brasil avançou na preservação dos recursos ambientais e também na produção agropecuária nos últimos anos. Alguns desafios, no entanto, ainda precisam ser vencidos para aproveitar as boas possibilidades que a conjuntura econômica mundial e a demanda por alimentos garantem ao segmento produtivo brasileiro.
“O Brasil tem uma oportunidade bastante ampla de expansão da produção que não necessariamente vai comprometer nossa capacidade de proteger os recursos ambientais. Mas existe uma variação muito grande da produtividade agrícola. Temos uma séria de situações semelhantes e que operam com produtividades bastante diferentes, e isso precisa ser solucionado. Isso determina todo um espaço para a expansão do agronegócio que não está associado com desmatamento e abertura de novas áreas”, afirmou.
Para José Garcia Gasques, doutor e pesquisador do Ipea e do Ministério da Agricultura, o debate sobre as oportunidades para o setor agropecuário brasileiro com o aumento da produtividade alinhado à sustentabilidade é extremamente necessário. Ele destacou ainda a importância dessa discussão ser feita na AgroBrasília, já que o Distrito Federal apresenta os maiores rendimentos em culturas como feijão, milho e trigo.
“Aqui é um lugar onde a tecnologia está muito presente. Ela é muito mais importante que expandir área. A agricultura já tem crescido basicamente com o aumento da produtividade e não da área. Precisamos muito de investimento público e privado em pesquisa. A abertura de novos mercados, com mais exportações, também é importante, pois instiga a produtividade, força o aumento da produção”, opinou.
Fonte: AgroBrasilia
Texto: Rafael Walendorff
Foto: Tiago Oliveira