Daniel Cassetari - CEO da HKTC do Brasil Foto: Divulgação

Reunião entre Lula e Trump poderá marcar o início do degelo nas relações Brasil-EUA, avalia especialista

Compartilhe:

Da Redação

Brasília – A dois dias do encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e o americano Donald Trump, ainda não confirmado mas previsto para acontecer no final da tarde do próximo domingo (26), em Kuala Lumpur (Malásia), Daniel Cassetari, CEO da HKTC Brasil e especialista em comércio exterior, aguarda com otimismo prudente os resultados da cúpula que poderá marcar um ponto de inflexão no clima tenso que reina nas relações entre o Brasil e os Estados Unidos desde o dia 30 de julho passado, quando o presidente americano assinou um decreto executivo que oficializou a tarifa de 50% sobre os produtos exportados pelo Brasil ao mercado estadunidense.

Com uma vasta trajetória profissional no comércio exterior, Daniel Cassetari acompanha os momentos que antecedem o encontro presidencial na capital malaia com uma apreciável dose de pragmatismo. Para ele, “já é possível não só pensar no abrandamento das tarifas mas, sim, avançar nessa direção, até mesmo por falta de alternativas”.

O especialista ressalta que “num primeiro momento, os governos brasileiro e americano travavam uma queda de braço, com troca de declarações ásperas, deixando-se levar pela questão política e sem que o governo brasileiro se atentasse para aquilo que o governo americano estava se apegando. Essa situação somente começou a se modificar com o encontro do chanceler Mauro Vieira com o secretário de Estado americano, Marco Rúbio, no último dia 16 de outubro, quando foram aparadas algumas arestas, permitindo-se a criação de um ambiente propício ao encontro presidencial do próximo domingo”.

Segundo Daniel Cassetari, no encontro entre Vieira e Rubio, “o governo brasileiro passou a entender melhor as pretensões do governo americano em termos de comércio internacional em relação aos países em geral e ao Brasil em especial. Nesse sentido, a reunião permitiu que se avançasse na direção da cúpula presidencial, que efetivamente possibilitará o início das negociações envolvendo não apenas tarifas, mas também outros temas cruciais do relacionamento bilateral”.

Concessões recíprocas, essenciais para um acordo

Para que as negociações avancem, destaca o CEO da HKTC Brasil, é fundamental que os dois lados façam concessões: “se fizermos uma avaliação bastante simples veremos que, se por um lado as tarifas demasiadamente elevadas causam severos prejuízos aos exportadores brasileiros, a medida prejudica muito mais imediatamente o povo americano. No momento em que os preços ao consumidor americano de produtos importantes como a carne bovina, o café e o suco de laranja, entre outros, vêm subindo de forma exacerbada e alguns desses bens começam a desaparecer nas gôndolas dos supermercados, o grande prejudicado é o consumidor americano. Se o Brasil tem esses produtos a oferecer a preços altamente competitivos e a demanda existe, as duas partes precisam se ajustar profissionalmente para chegarem a um acordo”.

E se o Brasil acredita que os Estados Unidos poderão mencionar a possibilidade de um abrandamento, ou até mesmo a retirada das tarifas impostas aos produtos brasileiros, para Daniel Cassetari parece óbvio que o presidente Lula da Silva terá que fazer alguns acenos em relação a temas vitais, como por exemplo o acesso americano ao vasto estoque brasileiro das chamadas terras raras, que despertam grande interesse do governo Trump.

Na visão do CEO, “com certeza, o tema terras raras deverá ser colocado em pauta visando uma normatização do acesso a esses minerais considerados sensíveis e essenciais para a indústria moderna não só dos Estados Unidos, mas de todo o mundo. É importante ressaltar que os presidentes Lula e Trump tratarão desse tema sob o aspecto político, deixando as competências técnica e comercial, assim como os entraves existentes a cargo dos técnicos, devidamente capacitados para debaterem o tema em profundidade”.

Segundo o especialista, “o presidente Trump deverá colocar essa questão na pauta das conversas, da mesma forma que o Brasil também fará as suas colocações e apresentará as suas exigências visando algum tipo de acordo em relação à carne bovina, o café, o suco de laranja, os derivados do leite e às nossas frutas. Acredito que os dois presidentes tentarão fazer um alinhamento das respectivas posições diante dessa agenda abrangente. Brasil e Estados Unidos são, por exemplo, os maiores produtores e exportadores de soja e esse assim como outros assuntos ligados ao agronegócio deverão ser abordados. Da mesma forma, a questão do comércio de produtos industrializados também deve ser tratada pelos dois presidentes em um contexto em que, espera-se, ambos os lados venham a buscar um alinhamento de posições entre dois parceiros importantes e com economias complementares sob diversos aspectos “.

Daniel Cassetari acredita que o encontro presidencial, por si só, evidencia que algumas barreiras ao diálogo, que há pouco tempo pareciam intransponíveis, poderão começar a ser removidas a partir das conversas entre os dois presidentes na capital da Malásia. Em sua percepção, “a relação de uma certa cordialidade entre os dois governos e entre os dois presidentes em particular, deverá ser bem maior daqui para a frente”.

 

Tags: