Estudo indica abrandamento no tom tarifário dos EUA, revisão positiva para o comércio global e impactos diretos sobre Brasil e América Latina
Da Redação (*)
Brasília – O Brasil deve encerrar 2025 com um superávit comercial equivalente a 2,8% do PIB, segundo novo relatório do time de economistas da Allianz Research, divisão de pesquisa macroeconômica da Allianz Trade, líder mundial em seguro de crédito. De acordo com o estudo What to watch: Fed preview, AI bubble risks for US households and a softening tone on tariffs – for now, o resultado permanece positivo mesmo com o impacto das tarifas impostas pelos Estados Unidos, que seguem no nível mais alto em décadas.
O estudo mostra que as tarifas americanas ficaram entre 11% e 12% em outubro, podendo chegar a 14% até o fim do ano. Apesar disso, os analistas explicam que o ritmo de aumento desacelerou e que o governo dos EUA tem dado sinais de suavização, especialmente ao reduzir tarifas sobre diversos alimentos nos últimos meses. A medida ocorre em um momento em que o consumidor americano já sente o peso dos preços mais altos.
Brasil: adaptação positiva às tarifas
Segundo o relatório, a América Latina tem conseguido se adaptar melhor a esse cenário, pois muitos países ampliaram suas vendas para mercados que estavam com falta de oferta, principalmente na Ásia. O Brasil aparece entre os destaques, já que a redução das tarifas aplicadas aos produtos brasileiros em novembro, que caíram em média de 40% para 25%, deve evitar perdas estimadas de US$ 6 bilhões no próximo ano. As exportações de soja permanecem essenciais para o desempenho nacional, com cerca de três quartos das vendas externas destinadas à China.
Os economistas observam que alguns produtos brasileiros, como insumos agroquímicos e bens processados, continuam sujeitos às tarifas dos EUA. Isso pode gerar incertezas para setores que dependem de investimentos de longo prazo e para cadeias de produção que envolvem diversos fornecedores.
Na Argentina, o relatório aponta que a ampliação da cota de carne que pode ser exportada para os Estados Unidos deve aumentar a participação do produto argentino no mercado americano de 3% para 11%, mesmo com a manutenção da tarifa de 10%. Ainda assim, a maior parte da carne argentina continua indo para a China.
O estudo também mostra que o tom da política comercial americana se afrouxou, especialmente em relação a países asiáticos nos últimos meses. O monitor desenvolvido pelos economistas, que analisa a relação dos EUA com seus principais parceiros comerciais, registrou em novembro o nível mais alto desde 2016. A melhora foi concentrada em países como China, Índia, Japão, Coreia do Sul e membros da ASEAN.
Em contrapartida, as relações com países europeus pioraram, segundo os economistas. De acordo com o relatório, esse movimento se explica em parte pela possibilidade de que o governo Trump evite elevar tarifas sobre semicondutores, medida que reduziria custos internos e evitaria riscos para setores ligados à inteligência artificial.
Crescimento no comércio global
Diante desse cenário, os economistas revisaram para cima a previsão de crescimento do comércio global. Em 2025, a expectativa é de expansão de 3,5%. Para 2026, o crescimento projetado é de 1,3%, com chance de melhora caso tendências recentes se mantenham. A revisão positiva foi influenciada pelo abrandamento da política tarifária americana e pela capacidade das empresas em reorganizar rotas e fornecedores para lidar com custos maiores.
O relatório também observa que 2026 deve registrar uma desaceleração das exportações de países asiáticos, como Taiwan, Tailândia, Indonésia, Vietnã e China. Mesmo assim, acordos de livre-comércio em negociação ou prestes a entrar em vigor, incluindo o acordo entre União Europeia e Mercosul, podem abrir espaço para um crescimento mais forte e alterar o mapa global do comércio no longo prazo.
Os economistas destacam que ainda há pontos de incerteza. Uma decisão aguardada da Suprema Corte americana pode mudar as regras usadas para impor tarifas, o que levaria o governo a buscar outras bases legais para mantê-las. Investigações em curso também podem resultar em tarifas sobre novos produtos.
Para acessar o relatório completo em inglês, clique aqui
(*) Com informações da Allianz Trade








