Da Redação
Brasília – “Os Estados Unidos devem adotar alguma medida de proteção comercial contra o Brasil, afinal, estamos na zona de tiro. O mundo caminha para um jogo de perde-perde, no qual ninguém sairá ganhando”. Esta é a opinião de José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) ao analisar a possibilidade de o presidente Donald Trump anunciar em breve a imposição de tarifas contra o Brasil, a exemplo do que já fez em relação ao Canadá, México e à China.
Mais otimista, Jackson Campos, especialista em Comércio Exterior, admite que a medida pode ser adotada pelo presidente americano, entretanto, ressalva que “me parece mais um discurso para levar outro assuntos à mesa {de negociações} do que uma ameaça real de aumento na tributação”.
Segundo José Augusto de Castro, “o presidente Trump anunciou tarifas de 25% para produtos do Canadá e México e de 10% para a China e, após negociações, adiou por 30 dias a entrada em vigor dessas medidas. O Canadá e o México anunciaram medidas de contrapartida às exportações americanas e o mundo aguarda o desenrolar desse processo. Um fato é certo: com tarifas de 25%, não há inflação nem desempenho econômico que resistam. Taxações dessa natureza afetarão tanto aqueles que participam diretamente da guerra comercial como aqueles que serão, das mais diferentes maneiras, atingidos pela guerra, que serão todos os países”.
Reciprocidade: perspectivas diferentes
Quanto à possibilidade de os Estados Unidos virem a impor tarifas contra os produtos brasileiros, como foi declarado publicamente pelo presidente Trump, o executivo da AEB considera é difícil falar sobre o que fazer agora, porque estamos falando apenas em teoria.
Para ele, “os Estados Unidos têm muito maior peso econômico que o Brasil. Nós não temos como retaliar os EUA. Qualquer medida retaliatória contra os americanos virá em dobro para o Brasil, fazendo com que os produtos brasileiros percam competitividade naquele que é o principal mercado para bens industrializados nacionais. Gostaria que o Brasil evitasse declarações oficiais sobre um tema tão delicado”.
Por sua vez, Jackson Campos tem posição bastante diferente e segundo ele, “o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já declarou que pode haver reciprocidade. Creio que seja possível, sim, confrontar os EUA. Mas são os norte-americanos que têm mais a perder se passarem a sobretaxar o mundo, pois eles não terão onde comprar os produtos e seus cidadãos acabarão pagando mais pelo mesmo produto. Entretanto, é importante lembrar que o presidente Trump usou esse assunto {a imposição de tarifas} para trazer outros temas à mesa, quando suspendeu por 30 dias as medidas após conversar com o primeiro-ministro do Canadá e com a presidente do México”.
José Augusto de Castro é enfático ao reafirmar que “o Brasil não tem nenhuma condição de discutir com os Estados Unidos e muito menos de ameaçar a maior potência econômica mundial. Corremos o risco de querermos retaliar os EUA e recebermos represálias em outras áreas e não apenas na área comercial. Pode ser na área financeira, no setor de investimentos, ou em alguma outra área. O presidente Lula da Silva admitiu que, se punido com taxações, o Brasil vai retaliar os Estados Unidos”.
Mineiro, experiente e cauteloso, o presidente da AEB aconselha o máximo de prudência no trato de um assunto explosivo e delicado. Segundo ele, “o cenário está tão nebuloso que deveria haver uma proibição de qualquer presidente de país se pronunciasse sobre o tema e transferisse essa atribuição aos diplomatas. O ideal é que apenas os diplomatas falassem nestes momentos. Presidentes eleitos pelo povo sempre se acham no direito de falar tudo e sobre tudo o que quiserem e acabam falando demais. 2025 deveria ser decretado como o ano da diplomacia “.