Hugo Garbe (*)
O tarifaço promovido recentemente pelos Estados Unidos, com sobretaxas que chegam a 50% sobre determinados produtos, recolocou o Brasil no centro das tensões comerciais globais. Embora o governo norte-americano tenha concedido exceções relevantes, poupando parte das exportações de minérios, petróleo, aeronaves e suco de laranja, setores estratégicos como carnes, café, calçados e têxteis continuam sob forte pressão. O resultado direto é a perda de competitividade dos produtos brasileiros em seu segundo maior mercado externo.
Do ponto de vista macroeconômico, o impacto sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode parecer modesto em números absolutos, mas não deve ser subestimado. Em uma economia que já convive com juros elevados e baixo dinamismo, cada décimo de ponto perdido tem repercussões significativas sobre o emprego, a renda e a confiança empresarial.
As tarifas afetam a economia por múltiplos canais. O primeiro é direto: produtos encarecidos tornam-se menos competitivos no mercado norte-americano, reduzindo exportações e receitas em dólar. O segundo, indireto: setores prejudicados diminuem sua produção, cortam investimentos e retraem contratações. No agregado, a perda de dinamismo industrial compromete a Formação Bruta de Capital Fixo, indicador fundamental do crescimento de longo prazo.
Há ainda um efeito distributivo que merece destaque. As exportações atingidas pelo tarifaço estão concentradas em cadeias produtivas que geram muitos empregos formais e informais. Estudo da Federação das Indústrias de Minas Gerais estima que até 146 mil postos de trabalho podem ser comprometidos. Essa contração de renda se traduz em menor consumo interno, atingindo justamente o componente mais robusto do PIB.
Além do impacto econômico imediato, o tarifaço revela a vulnerabilidade estrutural do Brasil diante de mudanças repentinas no comércio internacional. Nossa pauta exportadora ainda depende de poucos produtos e destinos, o que amplia os riscos quando potências adotam políticas protecionistas. O desafio, portanto, não é apenas contornar os efeitos pontuais das tarifas, mas repensar a inserção internacional do país, diversificando mercados e investindo em setores de maior valor agregado.
Em última análise, o tarifaço reforça uma lição recorrente: economias abertas e dependentes de exportações precisam combinar diplomacia ativa com políticas domésticas de competitividade. Reduzir custos logísticos, simplificar o sistema tributário e ampliar investimentos em tecnologia são caminhos mais sólidos para sustentar o crescimento do PIB do que a busca por soluções de curto prazo. Sem essas reformas estruturais, o Brasil continuará vulnerável a cada mudança de humor do comércio global.
(*) Hugo Garbe, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM). PhD em Economia