José Ricardo dos Santos Luz Júnior (*)
O agronegócio brasileiro tem acompanhado atentamente as notícias sobre os recentes desafios chineses e os pronunciamentos das autoridades chinesas, dentre eles a suspensão da exportação de fertilizantes e a crise energética chinesa. E não é para menos.
Maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, o volume de importação e exportação sino- brasileiro de janeiro a setembro de 2021 já atingiu a cifra de US$ 105,6 bilhões, com possibilidade de atingir US$ 120 bilhões neste ano, já respondendo o país asiático por 65% do superávit brasileiro.
Em 2020 a China respondeu por 33,7% das exportações totais do agronegócio brasileiro, gerando receita de US$ 33,98 bilhões e há uma expectativa de aumento de compra pelos chineses, dado o aumento do consumo pela sociedade chinesa.
Contudo, o agronegócio brasileiro está aflito com a possível interrupção de exportação de fertilizantes pela China e o impacto da crise energética chinesa na produção brasileira.
Quanto aos fertilizantes, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China (NDRC) tem avaliado a possível suspensão de exportação de fertilizantes chineses para fins de proteção do mercado doméstico, podendo impactar fortemente o fornecimento de fosfatados e nitrogenados ao mercado brasileiro – a China produz 30% de todo o fosfato consumido no mundo.
Já no que pertine aos desafios chineses na produção de energia, vale dizer que o crescimento da demanda por energia na China no ano de 2021 foi de 15% comparado a 2020, enquanto que a oferta foi de apenas 5%.
Ademais, o movimento de transição energética chinesa para maior produção e consumo de energia limpa tem provocado dúvidas no mercado internacional sobre o resultado dessas políticas e o possível impacto dessa transição na economia mundial.
O país estabeleceu como meta gerar 20% do consumo total de energia do país a partir de fontes renováveis até 2025 e tem trabalhado arduamente para seguir à risca esse ambicioso plano.
Ademais, o governo chinês assumiu o compromisso de ser um país livre da emissão de CO2 (neutralidade do carbono) até 2060, tanto que tem trabalhado fortemente no pilar sustentabilidade no seu 14º plano quinquenal de metas de desenvolvimento econômico e social (2021-2025).
Além disso, em 21.09.21 o Presidente Xi Jinping anunciou oficialmente na Assembleia Geral das Nações Unidas que não financiará mais usinas a carvão no exterior, em que pese o país responder pelo financiamento de 80% das usinas de carvão no exterior e ainda obter 60% de sua energia no mercado doméstico através da queima do carvão.
Assim, as notícias sobre interrupção de fornecimento de fertilizantes, aliada a possível crise energética chinesa, poderão impactar ainda mais o agronegócio brasileiro, especialmente a produção e o preço dos alimentos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os alimentos no Brasil já acumulam alta de 12,54% em 12 meses até setembro de 2021, índice acima da inflação de 10,25%.
Dada a pandemia do COVID 19, o enfraquecimento da moeda brasileira frente ao dólar, a crise hídrica e energética brasileira, o aumento do preço mundial de energia, o salto exponencial dos custos logísticos e a substancial diminuição de mão de obra em alguns setores da economia, enormes serão os desafios ao agronegócio brasileiro, pilar de sustentação de nossa economia.
Urge, portanto, intensificar o diálogo entre autoridades e empresários brasileiros, com o objetivo de planejar uma política sustentável de desenvolvimento no curto, médio e longo prazo ao nosso país.
(*) José Ricardo dos Santos Luz Júnior – CEO do LIDE China