Jackson Campos, Diretor de Relações Institucionais da AGL Cargo

Mercosul  não deve desistir do Acordo com a União Europeia, defende especialista

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Brasília – “O Mercosul não deve desistir do Acordo de Associação com a União Europeia mesmo se o documento não for assinado em janeiro próximo, conforme projetado. O Brasil deveria seguir trabalhando pela sua assinatura e, ao mesmo tempo, buscar outros acordos”. A opinião é de Jackson Campos, especialista em comércio exterior, que acompanha atentamente os desdobramentos das negociações do documento que se arrasta por mais de 25 anos.

Da parte do Mercosul, assegura o especialista, não existem obstáculos à assinatura do Acordo e o bloco dos países do Cone Sul estava pronto para concluir o processo por ocasião da reunião de cúpula do bloco, realizada no último dia 20 de dezembro, em Foz do Iguaçu.

Entretanto, com a crescente oposição da França, liderada pelo presidente Emmanuel Macron e com o apoio declarado da primeiro-ministro da Italia, Giorgia Meloni, a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa, enviaram carta aos presidentes dos países-membros do Mercosul comunicando a impossibilidade de assinatura do acordo na reunião dia 20 de dezembro, em Foz do Iguaçu, e  transmitindo o “firme compromisso em proceder com a assinatura do Acordo de Parceria e do Acordo Provisório de Comércio no início de janeiro”.

Em relação ao Brasil, o especialista destaca a determinação  com que o presidente Luiz Inacio Lula da Silva defende a importância da assinatura daquele que poderá vir a ser o maior acordo comercial já firmado por qualquer bloco ou país em todos os tempos.

Segundo ele, “acho que o presidente Lula vai aceitar qualquer coisa que Macron e Meloni peçam em termos de alteração do acordo porque sua assinatura será uma bandeira do governo {nas eleições presidenciais de 2026}. Se ele conseguir aprovar esse acordo, as pessoas em seu dia-a-dia não vão se preocupar em saber quais são os termos do Acordo. Em seu cotidiano, o brasileiro comum só vai saber que tem um acordo e vai ficar muito feliz se conseguir comprar alguma coisa mais barata da Europa. Por isso, ainda que venham com algumas exigências que não sejam boas para o Brasil, o nosso governo vai acabar aceitando com o objetivo de depois usar isso eleitoralmente. Esse é o motivo de eu estar otimista em relação à assinatura do Acordo, ainda que não ache que o tratado vai ser tão bom assim”.

Por outro lado, Jackson Campos acredita que, no contexto do Mercosul, nenhum país se posicionou ou virá a se posicionar contrariamente à assinatura do tratado: “não acredito que o presidente Javier Milei possa colocar obstáculos à conclusão do acordo. A Argentina só tem a ganhar com ele. As dificuldades ficam do lado europeu, por conta da França e Itália, que estão fazendo muita pressão para que se mudem alguns termos do acordo por causa de sua agricultura, com os seus produtores enfrentando custos muito altos e eles fazem uma pressão enorme sobre as autoridades de seus países. Mas a decisão no bloco europeu será tomada pelo voto e a maioria dos países europeus ganha com o acordo e tem muito interesse em sua assinatura”.

Não assinatura do Acordo e o futuro do Mercosul

Ceticismo é a palavra que mais bem define a posição do governo brasileiro em relação à assinatura do Acordo e se ela não acontecer em janeiro, fontes do governo acreditam que o Mercosul vai desistir definitivamente do tratado.

A possibilidade de a assinatura vir a acontecer em janeiro é considerada bastante reduzida pelo governo brasileiro, na medida em que persistem lacunas e divergências relevantes entre os membros da União Europeia e se não chegarem a um entendimento nas próximas semanas e a assinatura não se concretizar, mesmo os países do Mercosul que mais defendem a abertura de mercado, como a Argentina e o Paraguai, acabarão desistindo do acordo. Fontes do governo brasileiro também já não descartam essa possibilidade.

O tarifaço imposto ao Brasil pelo presidente Donald Trump, apesar das mudanças que abrandaram a medida, o governo brasileiro e o empresariado nacional trabalham em busca de uma maior diversificação de mercados. Com o recuo da União Europeia, o Brasil -e também o Mercosul como bloco- se voltarão ainda mais para a Ásia.

Segundo Jackson Campos, para fugir do tarifaço, “desviou-se os canhões que estavam voltados para os Estados Unidos e foram dirigidos para outros lugares do mundo, da Europa e da Ásia principalmente e é preciso continuar assim. Já que funcionou, não faz muito sentido parar. Vamos continuar, mesmo que o tarifaço caia”

 

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