Brasília – O Brasil está próximo de conquistar a condição de país livre de aftosa. Um novo passo nesse sentido deve ser anunciado em maio de 2014, quando a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) poderá reconhecer sete estados nordestinos e o norte do Pará como zona livre da doença com vacinação. A expectativa na região é grande e deve abrir novas possibilidades à produção e ao comércio de produtos pecuários locais.
O tema é tratado, segundo o diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Guilherme Marques, como uma das prioridades do Governo Federal, com o intuito de desenvolver a economia pecuária na região Nordeste. Durante entrevista, o diretor fala sobre os passos que levaram a essa conquista, as perspectivas a partir do novo status sanitário e a possibilidade de abertura de mercados externos.
Qual o processo para a região ser declarada livre de aftosa com vacinação?
O processo é composto de várias etapas: avaliação das condições técnicas e estruturais dos serviços veterinários estaduais, por meio auditorias e supervisões; avaliação soroepidemiológica para descartar a possibilidade de circulação do vírus da febre aftosa; reconhecimento nacional de zona livre, por meio de ato do Mapa; e encaminhamento de pleito à OIE para reconhecimento internacional da zona livre. No dia 11 de outubro de 2013, foi encaminhado um relatório sobre essa região à OIE, aonde será discutido o pleito brasileiro com um grupo de especialistas em saúde animal. Se o grupo julgar o relatório favorável, este será submetido à apreciação do comitê científico da entidade. O próximo passo, caso o comitê aprove o pleito, será consultar os países os 178 países membros, que têm um prazo de 60 dias para se manifestar sobre o pleito. Se, após esse período, todos eventuais questionamentos forem respondidos a contento pelo Brasil e nossas considerações forem convincentes – e nós acreditamos que elas são, em maio do próximo ano, quando se reunirá a Assembléia Geral dos Delegados da OIE, será dado o reconhecimento internacional da área que envolve sete estados nordestinos e o norte do Pará como livre da doença com vacinação.
Quais as perspectivas para a bovinocultura de corte e leite, caprino e ovinocultura nordestina?
Acredito que ocorrerá uma especialização do rebanho, principalmente de caprinos e ovinos. A condição sanitária hoje presente é um dos fatores que, certamente, limita os nordestinos ampliarem os rebanhos dessas espécies e investirem em melhoramento genético. A situação gerou um grande desestímulo aos produtores em investirem nessa região, devido às restrições para transitarem animais do Nordeste e do norte do Pará para o restante do País. Com a nova condição sanitária esse impedimento não deverá mais existir, facilitando o comércio dos produtos da região.
Com a nova condição sanitária, quais os benefícios que a região Nordeste ou seus pecuaristas podem esperar a curto, médio e longo prazos?
Em curto prazo, o acesso imediato a todo o mercado nacional. A genética caprina, que é mais de 60% do rebanho nacional, também poderá ser enviada a todos os rincões do país com a simples emissão de guia de trânsito animal (GTA), que é o documento que ampara o controle de tráfego de animais no País. Há no Nordeste animais de alto valor genético. Presenciei, em exposições agropecuárias locais, a existência de diversas espécies interessantes tanto para o mercado brasileiro como para o exterior. São animais extremamente adaptados às condições adversas, como as dos nossos sertões.
No médio e longo prazo, o foco será atender aos mercados internacionais em cima de certificações específicas. Outros ainda podem ser abertos conforme a conveniência do exportador e interesse do importador, o que ficará a cargo do setor privado brasileiro, que sabe trabalhar bem esse tema.
O Nordeste também te nde a se equiparar e até ultrapassar o Pará em relação à venda de animais em pé. Hoje, 90% das exportações de animais vivos saem daquele estado da região Norte, sendo alguns do próprio Estado e outros de localidades nordestinas.
Já existem expectativas de mercado para a região a partir do novo status?
Um dos principais nichos novos é a venda de animais vivos para o exterior. Já há mercados abertos para esse tipo de comercialização, tanto de animais para abate imediato quanto para engorda e reprodução. Por exemplo, a Venezuela, o Egito, o Líbano e a Turquia. Uma das vantagens da região é a possibilidade de embarques por via marítima para esses países. Devido à proximidade com a Europa, a economia com frete será muito maior.
Um navio leva de 20 a 30 mil animais meio sangue e meio gordos que terão sua terminação no navio, já que passam cerca de um mês até chegarem ao destino. Esses navios se parecem com fábricas de ração, a fim de que os animais desembarquem gordos. O preço desses animais é alto quando comparado aos praticados, para animais de abate, na região nordestina.
O Ministério tem condições de aprovar um estabelecimento para embarque, pois já há legislação que estabelece as diretrizes a serem cumpridas para autorização desse tipo de estabelecimento. Os animais ficam em situação de quarentena em estabelecimentos quarentenários.
Nestes, será feita uma bateria de exames conforme a exigência do importador. Após o período de quarentena, será permitido o embarque. Sendo a zona reconhecida internacionalmente como livre de aftosa a partir de maio de 2014, só será necessário existir empresários interessados e ter oferta de matéria prima.
É preciso lembrar que serão necessárias políticas públicas para fomentar a produção e o Ministério da Agricultura, por meio da Secretaria de Defesa Agropecuária, buscará mercados externos para os nossos pecuaristas. Hoje somos importadores de carne de ovino e de caprino do Uruguai e, a partir de maio, poderemos reverter isso, passando a ser auto-suficientes nesses tipos de carne. Em um futuro próximo, seremos até exportadores desses produtos.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social