Helena Fragomeni (*)
Será que a inteligência artificial veio para eliminar empregos ou para criar carreiras? Essa é, sem dúvida, a pergunta que mais escuto. Nunca se falou tanto sobre o futuro do trabalho quanto agora, e a inteligência artificial está no centro desse debate. A verdade é que ambas as coisas estão acontecendo ao mesmo tempo. Sim, alguns postos de trabalho estão sendo substituídos, mas também estão surgindo novas profissões — e em uma velocidade maior do que podemos imaginar.
É fato que a IA já está transformando o mercado de trabalho, e não podemos ignorar esse impacto. Mas seria um erro olhar apenas para o risco de substituição: a tecnologia também amplia nossa capacidade produtiva e abre espaço para novas funções.
O Fórum Econômico Mundial estima que até 2030 cerca de 92 milhões de empregos atuais deixarão de existir. Ao mesmo tempo, pelo menos 170 milhões de novas vagas devem ser criadas. Ou seja, a balança tende a ser positiva.
Atualmente, empresas estão em busca de profissionais com qualificações ligadas à IA. De acordo com a PwC, os salários de programadores especializados cresceram, em média, 56% só em 2024, o dobro do ano anterior. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) reforça essa perspectiva: cerca de 25% dos empregos no mundo serão impactados pela IA generativa, mas apenas 3% estão realmente sob risco de substituição completa pelas máquinas.
Estando no mercado de tecnologia há mais de 20 anos, acompanho de perto esse movimento, assim como a necessidade de requalificação da força de trabalho. Profissões até então inexistentes começam a ganhar espaço. Entre elas estão o auditor de algoritmos, que avalia decisões automatizadas e garante a conformidade ética; o intérprete de IA, que traduz a lógica dos algoritmos para gestores e áreas de negócio; e o coordenador de qualidade em IA, responsável por verificar os resultados gerados por máquinas e assegurar padrões de excelência.
Neste contexto, também cresce a demanda por engenheiros de IA, capazes de criar e implementar sistemas de aprendizado, inclusive com soluções para combater deepfakes, e por engenheiros de prompt, especialistas em projetar comandos textuais que tornam chatbots mais eficientes e assertivos. Essas funções já aparecem em descrições de vagas e começam a ser discutidas em projetos de clientes e parceiros.
Eu não vejo a inteligência artificial como uma ameaça, e sim como aliada poderosa. É inevitável que algumas funções desapareçam, mas tantas outras vão surgir; e cabe a nós aproveitar esse movimento para trabalhar de forma mais inteligente e produtiva.
Acredito que o futuro do trabalho será sim moldado pelas máquinas, mas quem dará direção a essa transformação somos nós. No fim das contas, não é a tecnologia que dita o jogo, mas a forma como escolhemos usá-la. E é nessa escolha que mora o verdadeiro diferencial.
(*) Helena Fragomeni é CEO e fundadora da Hands-on, edtech pioneira na criação de cursos online personalizados e automatizados por IA. Com mais de 20 anos de experiência nos setores de tecnologia, educação, e-learning e inovação, é formada em Inovação Corporativa pela Stanford Business School, sendo uma das líderes mais influentes e respeitadas no mercado de educação corporativa no Brasil.