São Paulo – A balança comercial brasileira registrou em janeiro o maior déficit da sua história para o período e deverá continuar deficitária pelo menos até março. Só então desempenho tende a melhorar até fechar o ano com superávit. Esta é a avaliação de economistas e até do próprio Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).
Embora o País tenha aumentado suas importações de manufaturados neste ano, foram as compras de petróleo feitas pela Petrobras em 2012 que levaram ao déficit de US$ 4,036 bilhões em janeiro.
Quando divulgou os resultados negativos da balança comercial, a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, afirmou que US$ 1,6 bilhão das importações brasileiras se refere a compras de petróleo feitas em 2012, mas só contabilizadas em janeiro de 2013. Ela disse que outros US$ 2,9 bilhões deverão ser registrados em fevereiro e março. Isso foi possível graças a uma norma da Receita Federal que permite que a Petrobras registre importações até 50 dias depois do desembarque.
Para o presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), José Augusto de Castro, há mais do que os US$ 2,9 bilhões previstos pelo MDIC para ser contabilizados nas importações brasileiras.
“Faltou contabilizar um valor entre US$ 7 bilhões e US$ 12 bilhões para ajudar a Petrobras. Não fosse isso, o déficit comercial deles seria maior, a empresa iria precisar captar mais recursos. O governo fez isso para ajudar a Petrobras”, afirma Castro. O lucro líquido da companhia em 2012 foi de US$ 21,1 bilhões, 36,3% menor do que em 2011.
O presidente da AEB afirmou que se as importações da estatal feitas em 2012 tivessem sido registradas no balanço de 2012, o superávit comercial do ano passado não teria sido de US$ 19 bilhões, mas sim de aproximadamente US$ 12 bilhões.
Professor de Economia e Política das Faculdades Integradas Rio Branco, Carlos Stempnievski diz que a “maquiagem” dos números do governo federal prejudica o desempenho da balança comercial.
“O governo tem feito maquiagem nos números, que são ruins, e o fez na Petrobras e nos balanços para apresentar superávit fiscal. Mudou os registros de importação de petróleo de novembro e de dezembro na expectativa que nos 12 meses seguintes se encontrasse uma solução. Isto está refletindo nos resultados da empresa”, disse.
Outros motivos
Tanto Castro como Stempnievski observam que a Petrobras foi o principal motivo pelo mau desempenho da balança comercial. Mas houve outros. Castro afirma que em janeiro a balança comercial geralmente apresenta resultados ruins. No entanto, em janeiro de 2012, a situação não foi pior do que agora porque não havia contas “extras” da Petrobras e o preço da soja estava alto. Os produtores, então, optaram por antecipar os embarques da commodity, que geralmente começam em março, para janeiro. Esse foi outro motivo pelo qual o déficit de janeiro de 2012 foi menor do que o deste ano, apesar de ter sido de US$ 1,29 bilhão.
Stempnievski observa que além das compras da Petrobras há outro motivo que levou ao déficit comercial. “O País passa por uma inflação de demanda, ou seja, não está produzindo tudo o que consome e, por isso, aumenta as importações”, disse. Em janeiro deste ano, as importações chegaram a US$ 20,003 bilhões, alta de 14,6% em relação aos US$ 17,44 bilhões de 2012, ou US$ 2,555 bilhões a mais.
Os dois economistas preveem que apesar dos custos da Petrobras e do aumento das importações, a balança comercial terá superávit neste ano. Castro prevê superávit de US$ 14 bilhões e Stempnievski afirma que as exportações do agronegócio e de commodities em geral deverão manter as vendas externas maiores do que as importações até o fim do ano.
Fonte: ANBA