Cuiabá – Além dos problemas com o clima e o câmbio, agricultores de Mato Grosso (MT), que é um dos maiores produtores de grãos do País, estão preocupados com o futuro dos escoamentos de produção, que somente em relação ao frete chegam a consumir mais de 30% do valor da carga. Essa porcentagem vale tanto para o modal rodoviário, que ainda é o maior responsável pelo transporte de commodities, quanto para o ferroviário, que segundo eles é apenas 3% mais barato.
“O estado mato-grossense está vivenciando um grave problema logístico”, comentou o diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Otávio Canesin. Para ele a falta de incentivo governamental a cabotagem, que é a navegação realizada entre portos interiores do país pelo litoral ou por vias fluviais, a falta ou monopólio das ferrovias e a condição das estradas brasileiras estão afetando muito a rentabilidade do produtor.
“O frete rodoviário chega a representar 30% do valor da carga. Mas como iremos fugir disso se não existe uma estrada de ferro descente para esse deslocamento de Mato Grosso para o Sul do Brasil. Outra solução seria a cabotagem, mas ela é quase inexistente”, disse o diretor.
Canesin afirmou que por diversas vezes transportar o milho de Mato Grosso para o Sul, considerado por ele o maior mercado do produto no Brasil é inviável. “Um exemplo, se o milho custa no Paraná em média R$ 24 a saca, para levar o produto do Mato Grosso para lá, o milho não pode custar mais de R$ 14. Hoje esse é o pior problema que temos.”
Carlos Fávaro, diretor da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (Aprosoja MT), acredita que uma parte do problema possa ser resolvida com o término da construção da rodovia BR-163, que vai do Mato Grosso ao Pará, encurtando a viagem de dois mil quilômetros para apenas mil.
“Para começar a solucionar os problemas do estado, é preciso virar o mapa do Brasil de ponta cabeça, e com a construção da BR-163 deixaremos de transportar commodities para os portos de Paranaguá, e o de Santos, e passaremos a levar os grãos para o norte e nordeste, que é muito mais barato”, garantiu.
Entretanto, a construção da nova rodovia está prevista para terminar apenas em 2012. Com o objetivo de minimizar estas perdas, os produtores do MT voltam suas atenções liberação do novo marco regulatório das ferrovias, que mudará a forma com que elas são operadas. Hoje a concessionária de uma via férrea usa a estrutura com exclusividade, cobrando o valor de frete conforme a carga, peso e distancia.
No novo modelo a concessionária dará espaço também a operação de outras empresas ferroviárias, tendo como cobrança um valor teto por quilômetro, aumentando a concorrência e reduzindo custos.
Para Fávaro essa medida pode incentivar a concessionária da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), que atua no estado, a investir em mais vagões e trens, e dividir a atenção dada as grandes empresas com os produtores agrícolas. “A ferrovia existente no estado tem uma concessão arcaica, e que deixa muito a desejar, as novas ferrovias já devem vir com a nova regulamentação, que pode estimular a competição, e reduzir as tarifas de fretes.
Hoje a concessionária responsável cobra apenas 3% a menos que o transporte rodoviário, porque ela é exclusiva na linha e cobra quanto quer. Além disso, os espaços para carga já foram todos comercializados com multinacionais”, afirmou.
Mesmo assim, a Fico não tem grande extensão, limitando as áreas a receberem os produtos do MT. Outra solução em curto prazo encontrada pelo presidente da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), Gilson Pinesso é a cabotagem, ainda pouco explorada pelo governo brasileiro. “A cabotagem pode ser uma grande saída também, porque podemos ir até o Pará de caminhão passar a carga para os barcos e assim elas seguirão para o porto de Santarém (PA) e Belém, com preços mais atrativos e tempo mais curto”, enfatizou.
Para Pinesso o cenário ideal traz um frete de até 10% o valor da carga, e uma concorrência mais saudável com a ligação de todos os meios de transportes (Intermodalidade). “Há 10 anos atrás o frete estava em 15%, o melhor seria uns 10%, porque ai o agricultor mato-grossense lucraria mais como em outros estados.”
Fonte: DCI