Estudo elaborado pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira mostra que países do Norte da África e do Oriente Médio podem ser o destino de produtos afetados pelo aumento de taxas imposto pelos americanos.
Da Redação (*)
Brasília – Um estudo elaborado pelo departamento de Inteligência de Mercado da Câmara de Comércio Árabe Brasileira mostra que o Brasil pode ter nos países árabes o destino de parte dos produtos impactados pelo aumento de tarifas imposto pelos Estados Unidos. Nesta quarta-feira (6) passou a valer a taxação de 50% de produtos brasileiros que entram em solo americano, o que pode até inviabilizar sua comercialização na maior economia global.
O levantamento da Câmara Árabe leva em consideração apenas os produtos e setores que foram incluídos no “tarifaço” imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump. Estão fora da pesquisa, portanto, itens que foram isentos da taxa em uma lista de exceções anunciada mais recentemente, como aviões de pequeno e médio porte, suco de laranja, petróleo bruto e pasta química de madeira, entre outros.
O estudo foi elaborado com a ideia de encontrar “caminhos” para que o Brasil incremente suas exportações aos países árabes. Presidente da Câmara Árabe, William Adib Dib Junior afirmou que o aumento das tarifas nos Estados Unidos abre a oportunidade para que os exportadores encontrem nos árabes um novo mercado.
Mercados com alta capacidade de fidelização
“São mercados que serão fidelizados, porque o árabe é mais fiel, mais conservador. A tendência é que os novos relacionamentos se mantenham. Ainda que ocorra alguma modificação nas tarifas, seja no governo Trump ou futuramente, acho que essas portas abertas neste momento mais difícil permanecerão”, afirmou. Dib disse que há espaço para produtos brasileiros que não chegam ao mundo árabe, como subprodutos de ferro-aço, mas acredita que as principais oportunidades estão em aumentar os volumes daquilo que os árabes já compram.
Inicialmente, Trump impôs uma tarifa de 10% a produtos brasileiros que entram nos Estados Unidos, valor que foi acrescido de mais 40% em anúncio feito em 9 de julho. Entre as justificativas, Trump acusou questões judiciais – que não competem ao Poder Executivo – envolvendo o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e um suposto déficit que os Estados Unidos teriam nas transações entre os dois países. Este comércio bilateral, contudo, é superavitário para os norte-americanos e deficitário para o Brasil, embora a margem de ganho dos Estados Unidos esteja se reduzindo.
Sempre conforme os dados apresentados pelo estudo da Câmara Árabe, que utiliza estatísticas do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) e das Nações Unidas, em 2024, o Brasil exportou US$ 40,4 bilhões e importou US$ 40,7 bilhões dos Estados Unidos, registrando um déficit de cerca de US$ 300 milhões. Em 2022, o Brasil exportou US$ 37,4 bilhões e importou US$ 51,3 bilhões, ocasião em que o déficit fora de US$ 13,9 bilhões.
Os principais produtos exportados pelo Brasil aos Estados Unidos são óleos de petróleo em bruto, semimanufaturados de ferro ou aço, café, polpa química de madeiras não coníferas, ferro-gusa não ligado, petróleo leve, aviões de pequeno e médio porte, carne bovina e suco de laranja.
Já em sua relação com os 22 países árabes consolidados, o Brasil tem registrado superávit crescente. Em 2022, foram exportados US$ 17,7 bilhões e importados US$ 15,03 bilhões pelo Brasil, com superávit de US$ 2,68 bilhões. No ano seguinte, o saldo comercial positivo subiu para US$ 8,66 bilhões até chegar ao recorde de US$ 13,4 bilhões em 2024. Esta troca comercial é pautada no comércio de commodities. Do Brasil partem, majoritariamente, açúcar, carnes bovinas e de frango e grãos.
Arábia Saudita, Kuwait e Argélia, os principais mercados
A partir das novas tarifas, o documento apresenta uma lista dos principais produtos exportados aos Estados Unidos nos últimos cinco anos que poderiam encontrar – ou ampliar – seu mercado no mundo árabe. E, dentro do universo de 22 países, o estudo seleciona três nações com potencial de absorção de cada produto.
Arábia Saudita, Kuwait e Argélia oferecem oportunidades para semimanufaturados de ferro ou aço não ligados, enquanto o café não torrado poderia ter mais participação de mercado na Arábia Saudita, Argélia e Egito. Arábia Saudita e Egito, além dos Emirados Árabes Unidos, poderiam ser destino de remessas de petróleo refinado e carne bovina congelada, enquanto Egito, Emirados e Marrocos são mercados potenciais para semimanufaturados de outras ligas de aço.
Bulldozers e angledozers, carregadoras e pás carregadoras, açúcar, madeira de coníferas, portas e seus caixilhos e soleiras de madeira, niveladores de solo, outras madeiras compensadas constituídas por folhas de madeira de espessura inferior a 6 mm e madeira de pinheiro serrada ou fendida longitudinalmente de espessura superior a 6 mm são outros produtos exportados aos Estados Unidos com potencial a ser explorado nos países árabes.
O documento apresenta, também, a tarifa média empregada pelos países árabes sobre os produtos que agora sofrem taxa de 50% para entrar nos Estados Unidos. Café, por exemplo, tem tarifa de 0%, enquanto carne bovina é taxada entre 0 e 6%, madeira de pinheiro de espessura superior a 6 m entre 0 e 5% e produtos semimanufaturados de ferro/aço entre 0 e 12%, dependendo do país. Açúcar tem taxa de entre 0% e 20% nos países árabes, petróleo refinado, bulldozers e angledozers e niveladores de solo, taxas fixas de 5% e carregadoras e pás carregadoras, taxas entre 5% e 6%.
Outras madeiras compensadas de espessura inferior a 6 m são taxadas de 5% a 10%, produtos semimanufaturados de ligas de aço, entre 5% e 12%, madeiras de coníferas entre 5% e 20%; e portas e seus caixilhos e soleiras de madeira, entre 5% e 30%.
Caminho em busca de novos mercados
O documento apresenta um plano de trabalho que pode ser explorado para que esses produtos encontrem mercado ou ampliem sua presença nos países árabes. Ele prevê ações em três “pilares”: sensibilização para engajar sobre as novas dinâmicas do comércio internacional; diversificação de comércio, por meio da organização de missões internacionais e atração de investimentos; e facilitação do comércio por meio da remoção de barreiras, emissão de vistos de negócios e aceleração de acordos já em negociação entre países árabes e o Mercosul.
Nesta semana ainda, os executivos da Câmara Árabe farão uma série de encontros com órgãos governamentais, representantes do Legislativo brasileiro e diplomatas árabes em Brasília. Nestas ocasiões, eles apresentarão o levantamento feito pela instituição e discutirão as oportunidades que se abrem a partir deste momento.
“São países diferentes, com hábitos diferentes e é aí que a Câmara pode auxiliar, não só ao empresário, mas ao governo, que pode direcionar esse mercado seja através de missão governamental, empresarial. Temos diversas alternativas de proporcionar para eles alguma segurança, alguma facilidade. Seja por meio de consultoria ou mesmo apresentações de empresas, de compradores e vendedores, temos condição de ajudar e dar tranquilidade a pequeno e médio empresário, que precisa dar destino ao produto que tem”, disse Dib.
(*) Com informações da Câmara Árabe Brasileira