Da Redação (*)
Brasília – O ano de 2024 apresentou desafios relevantes para a economia global, com o dólar desempenhando um papel central no comércio exterior. Traçando uma retrospectiva, o dólar comercial iniciou 2024 cotado a R$4,89, em um cenário de otimismo em relação à política fiscal e monetária brasileira. No entanto, após uma combinação de fatores internos, como a política fiscal, e externos, como mudanças geopolíticas internacionais, o dólar atingiu a marca de R$6,16 em 17 de dezembro, sinalizando uma perda de competitividade do real no mercado internacional.
Contudo, apesar de o país ter fechado o ano com superávit comercial, a desvalorização do real frente ao dólar influenciou no aumento dos custos das importações e, com o barateamento das mercadorias nacionais voltadas à exportação, o avanço no faturamento das vendas externas foi mais contido.
Para aprofundar a análise desse impacto, a Logcomex, líder em soluções tecnológicas para planejamento e automação de operações do comércio global, conduziu um estudo inédito sobre as oscilações cambiais. A pesquisa, que será divulgada integralmente nas próximas semanas, analisa como as variações do dólar afetaram o cenário econômico em 2024 e oferece insights sobre o que pode ser esperado para 2025.
Para Helmuth Hofstatter, CEO da Logcomex, o estudo chega em um momento oportuno, após a divulgação da análise da agência de risco Austin Ratings, baseada em dados do Banco Central, que posicionou o real como a 8ª moeda mais desvalorizada frente ao dólar em 2024. “Muitos fatores explicam essa desvalorização. Quando compreendemos essas razões de maneira estruturada, podemos agir com maior assertividade, ajudando empresas a mitigar riscos e tomar decisões mais sólidas em suas operações internacionais”, analisa Hofstatter.
Flutuações do dólar e efeitos no Comércio Exterior
O dólar americano desempenha um papel central no comércio exterior desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Atualmente, cerca de 88% das operações de comércio exterior utilizam o dólar como moeda principal, mesmo após o início de iniciativas globais para diversificar as transações. Desde 2022, com os impactos da Guerra na Ucrânia, muitos países têm firmado acordos bilaterais que permitem o uso de outras moedas, sinalizando uma busca por maior autonomia nas negociações internacionais.
Com base no estudo, a Logcomex identificou que a imprevisibilidade das flutuações cambiais afetou diretamente as negociações, reduziu as margens de lucro e agravou os gargalos logísticos para importadores. Entre os exportadores, um dos setores mais impactados foi o agronegócio, com produtores enfrentando dificuldades para prever preços e firmar contratos de longo prazo. Como resultado, o setor deve enfrentar o primeiro recuo no valor total de vendas externas em cinco anos.
Essa conjuntura também se refletiu em outros campos da economia. Considerando o período de janeiro a outubro de 2024, em comparação com igual intervalo de 2023, houve queda de -10,2% no valor exportado pela agropecuária, que somou US$ 68,52 bilhões. Já o setor de tecnologia lidou com o aumento nos custos de equipamentos e insumos importados, enquanto a indústria observou suas margens operacionais encolherem devido à elevação dos custos logísticos e operacionais, especialmente para produtos de maior valor agregado.
“Quando o dólar se valoriza em relação a uma moeda local, significa que fica mais caro para as empresas ou países que utilizam essa moeda importar produtos. Isso acontece porque será preciso gastar mais da moeda local para adquirir os mesmos bens, que estão cotados em dólar”, esclarece Hofstatter, citando em especial segmentos-chave como petróleo e gás, mineração e commodities agrícolas — que são altamente dependentes da cotação do dólar.
Estratégia, tecnologia e inteligência aliadas contra a incerteza cambial
Para 2025, especialistas apontam um cenário ainda incerto, com o dólar mantendo uma volatilidade elevada, em parte devido à política monetária dos Estados Unidos e à desaceleração econômica da China. Isso representa um risco significativo para empresas que dependem do comércio exterior, exigindo delas novas abordagens para proteger suas operações contra as pressões cambiais e as mudanças na demanda global.
Diante dessas incertezas, a capacidade de prever cenários tornou-se crucial. Para Hofstatter, a adoção de tecnologias que ampliam a visibilidade operacional e possibilitam análises preditivas surge como um diferencial para empresas que buscam maior previsibilidade financeira
“O planejamento financeiro é fundamental em tempos de incerteza cambial. Ter acesso a dados confiáveis e desenvolver estratégias antecipadas permite às empresas uma maior resiliência, reduzindo perdas e preservando sua competitividade no mercado global”, explica ele.
Além disso, o empresário também aponta práticas essenciais para minimizar o impacto da volatilidade cambial, como a diversificação de mercados, o uso de ferramentas de inteligência de dados e a adoção de instrumentos financeiros como hedge cambial. Essas estratégias ajudam as empresas a protegerem seus custos e garantem maior estabilidade para expandir, investir e atender à demanda internacional, mesmo em tempos de incerteza econômica.
(*) Com informações da Logcomex