Balança comercial de junho reflete instabilidade global e pede reorientação das exportações brasileiras
Da Redação
Brasília – A balança comercial de junho mostrou contrastes: soja e açúcar sustentaram o agronegócio, enquanto siderurgia, manufaturados e carnes processadas recuaram com a desaceleração global e tarifas dos EUA. O superávit de US$ 6,7 bilhões foi menor que em 2024, refletindo a pressão da instabilidade internacional, que continua a pressionar a performance das exportações nacionais.
De acordo com Thiago Oliveira, CEO da Saygo, holding especializada em comércio exterior, câmbio e soluções tecnológicas para operações internacionais, avalia que os números reforçam a urgência de uma reorientação estratégica por parte dos exportadores. “O que vimos em junho foi um reflexo claro da volatilidade global. As empresas dependentes de um único mercado estão mais vulneráveis às oscilações tarifárias e cambiais. Diversificação e proteção são hoje obrigatórias para manter a competitividade”.
De acordo com o CEO, com 5 dicas é possível usar a balança comercial como ferramenta de planejamento:
- Mapeie tendências setoriais: identifique quais produtos mantêm resiliência, como soja e açúcar, e quais estão em retração, como aço e autopeças.
- Monitore o câmbio em tempo real: variações de centavos no dólar podem alterar margens em milhares de reais. Use contratos de hedge e ferramentas digitais de projeção.
- Aproveite regimes especiais: o Drawback pode reduzir até 18% do custo final da exportação, mas exige gestão documental rigorosa.
- Diversifique mercados: busque oportunidades em Ásia, Europa e Canadá, reduzindo a dependência dos EUA.
- Antecipe gargalos logísticos: use plataformas de análise de dados para prever atrasos, revisar contratos e adaptar portfólios com rapidez.
Commodities, câmbio e restrições internacionais
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), a soja sustentou o superávit de junho, enquanto aço e de autopeças perderam fôlego com tarifas de até 25% nos EUA. “Tomar decisão estratégica sem visibilidade das variações cambiais é como pilotar no nevoeiro. É fundamental estruturar uma política de gestão que envolva hedge, contas em moeda estrangeira e ferramentas de projeção de cenários”, reforça Oliveira. Ele ainda alerta que a reeleição de Donald Trump e a retomada de políticas protecionistas nos Estados Unidos criaram um ambiente de maior incerteza que podem afetar até 10 mil empresas nacionais e comprometer mais de 120 mil empregos.
Recomendações para exportadores
Medidas práticas podem proteger margens e aproveitar as oportunidades abertas por mudanças nas cadeias globais. O regime de Drawback, por exemplo, pode reduzir em até 18% os custos de exportação, mas ainda é restrito às grandes companhias. “A chave está em gestão documental e previsibilidade. Um dado incorreto pode travar uma operação inteira. Quem antecipa demanda, custos logísticos e riscos cambiais tem vantagem competitiva”, diz Oliveira.
Diante das barreiras nos Estados Unidos, companhias brasileiras ampliam presença na União Europeia e no Sudeste Asiático. “Os mercados mais promissores também são os mais exigentes. É preciso estar pronto para atender aos padrões internacionais. Só sairão fortalecidas as empresas que aliarem eficiência, dados e estratégia cambial. A previsibilidade deixou de ser regra, é preciso operar com método e agilidade”, finaliza o CEO da Saygo.