Embrapa e a cannabis medicinal: um passo que pode mudar o setor

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Michele Farran (*)

A recente autorização da Anvisa para que a Embrapa pesquise o cultivo de cannabis sativa ocorre em um momento de expansão do setor no Brasil. Segundo o anuário da consultoria Kaya Mind, o mercado nacional deve fechar 2025 com uma movimentação de R$ 971 milhões, enquanto o número de pacientes em tratamento com medicamentos à base de cannabis saltou para 672 mil. Esses dados mostram que o país não pode mais tratar a cannabis medicinal como um tema periférico.

Permitir que uma instituição pública com o prestígio da Embrapa conduza pesquisas estruturadas representa um avanço científico e regulatório. Essa etapa é essencial para que o Brasil desenvolva conhecimento próprio, genética adaptada às condições nacionais e protocolos agrícolas seguros — base indispensável para futuras discussões sobre cultivo regulado.

Do ponto de vista prático, essa pesquisa abre portas para resultados que podem transformar completamente o setor. A Embrapa poderá identificar cultivares mais estáveis e produtivas, desenvolver técnicas de plantio que reduzam custos, aprimorar formas de controle de qualidade e padronização, além de gerar dados robustos sobre segurança e eficácia dos compostos medicinais. Isso também cria oportunidades para que pequenas empresas, laboratórios e polos tecnológicos se conectem a uma cadeia produtiva nacional, incentivando inovação e competitividade.

A autorização também traz um impacto simbólico importante: reforça que a cannabis medicinal é, de fato, um tema de saúde pública. O respaldo de órgãos como a Anvisa e a Embrapa ajuda a reduzir o estigma que ainda envolve o assunto e oferece mais segurança a pacientes, profissionais e investidores. É um recado claro de que o país está preparado para tratar o tema com seriedade, técnica e responsabilidade.

Com pesquisas avançadas, o Brasil poderá ampliar o conhecimento sobre a planta, descobrir novas aplicações terapêuticas e desenvolver produtos mais acessíveis. Hoje, boa parte dos tratamentos depende de importações, o que encarece o custo final para as famílias. Um ecossistema produtivo nacional, baseado em ciência e regulação eficiente, pode reduzir preços e democratizar o acesso.

A decisão da Anvisa não encerra o debate — ela abre o caminho para uma nova fase. Se conduzido com rigor e transparência, esse movimento permitirá que o país avance para modelos de cultivo controlado, fortaleça sua indústria, gere inovação e finalmente coloque a cannabis medicinal em um lugar estratégico dentro da bioeconomia brasileira. É um passo que reconhece o presente e projeta um futuro mais justo, científico e acessível para todos.

(*) Michele Farran é empresária e fundadora da Cannabis Company, primeira farmácia do Brasil exclusiva para cannabis medicinal e com produtos à pronta-entrega.

 

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