Brasília – Com 75% dos fertilizantes usados no país adquiridos no exterior, o Brasil enfrenta o risco de aumentar a cada ano a importação do produto se não forem feitos novos investimentos na produção nacional, disse nesta terça-feira (14) José Carlos Polidoro, vice-líder da Rede BrasilFert, criada em 2009 pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para pesquisas na área.
Para Polidoro, o Brasil precisa de uma política nacional sobre o assunto, como tem para outros setores do país, “porque é um setor que requer altíssimos investimentos no processo de mineração e fabricação”.
O vice-líder lembrou que, em 2010, o governo elaborou um Plano Nacional de Fertilizantes que, entretanto, não chegou a ser implementado. O plano abrangia ações para incentivar investimentos no setor, visando a ampliar a produção nacional. O Brasil consome atualmente em torno de 32 milhões de toneladas de fertilizantes por ano, das quais 75% são importados, segundo a média dos últimos cinco anos. Os demais 25% são produzidos no país, o que corresponde a cerca de 10 milhões de toneladas.
Polidoro explicou que a tendência é aumentar o percentual de importação se não houver investimentos, porque enquanto o mundo aumenta, em média, o consumo de fertilizantes, anualmente, em 2%, o Brasil aumenta 4%. “Nós somos, hoje, o quarto maior consumidor mundial”.
Pesquisador da Embrapa Solos, Polidoro informou que a Rede FertBrasil objetiva estimular e promover a inovação tecnológica em fertilizantes tanto no país, como na América Latina. Ele esclareceu que o incentivo ao aumento da produção cabe ao governo, por meio dos ministérios da Agricultura e de Minas e Energia, “para fazer um plano nacional de fertilizantes”.
Para a Rede FertBrasil, ele acentuou que o mais importante é evitar desperdícios no uso dos fertilizantes na agricultura. O pesquisador diz que do total de fertilizantes aplicado hoje na agricultura, em torno de 40% são perdidos de várias formas no solo por falta de uma tecnologia adequada.
Nesse sentido, a luta da Rede FertBrasil, em parceria com outros órgãos de pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia do Brasil, é aumentar a eficiência e o aproveitamento do fertilizante, seja ele importado ou não. Quanto maior for a eficiência, menor será o custo da produção agrícola no país. Outro desafio é zerar o desperdício. “É um desafio muito grande, mas é a nossa meta”.
Polidoro destacou também que no Brasil existem várias fontes de nutrientes que não são utilizadas na indústria convencional de fertilizantes por limitações tecnológicas. Ele citou, entre elas, fontes minerais e orgânicas, como a cama de frango (resíduos da produção de frando de corte), que a Política Nacional de Resíduos Sólidos determina, inclusive, que tenham uma destinação correta e não sejam mais dispostas no ambiente.
A Rede FertBrasil busca superar esses entraves tecnológicos, com tencologias mordernas para viabilizar fontes alternativas para a produção de novos fertilizantes no país. Ele ressaltou que se todos os resíduos orgânicos e minerais fossem aproveitados para a produção de fertilizantes, isso reduziria a importação. “Não diminuiria acentuadamente, mas em torno de 10% a 20% da demanda poderiam ser cobertos com esses novos fertilizantes”. Uma das matérias-primas de resíduos orgânicos é a cama de frango.
Segundo Polidoro, entre 8 e 9 milhões de toneladas de cama de frango são produzidos por ano no país. Se elas forem misturadas com outra parte de fertilizante convencional mineral, se produz um fertilizante organomineral granulado, “que é um fertilizante ecologicamente correto, porque faz a reciclagem de resíduos”.
A rede está procurando ainda desenvolver novas formas de produção de fertilizante convencional a partir de fontes minerais que não são aproveitadas atualmente na indústria brasileira. Entre essas fontes estão o potássio e o fósforo, minerais encontrados em várias regiões brasileiras.
“É preciso que sejam viabilizados processos químicos e biológicos para desenvolver rotas tecnológicas que possibilitem o aproveitamento dessas rochas que são encontradas no país para a produção de fertilizantes”, disse.
Mapeamento feito pelo Ministério de Minas e Energia identificou que o Pará e Mato Grosso são estados que apresentam ocorrência dessas fontes minerais, mas necessitam de inovação tecnológica que viabilize a produção.
O Rio de Janeiro vai sediar a partir da próxima segunda-feira (20), o 16º Congresso Mundial de Fertilizantes. Será a primeira vez que esse evento ocorre no Brasil. Polidoro informou que 350 especialistas em fertilizantes do mundo, em várias áreas do conhecimento, participarão do congresso. Durante o evento, serão apresentados os trabalhos efetuados pela Rede FertBrasil e pela Embrapa Solos.
“Esse evento é um marco para nós porque, pela primeira vez, vai se discutir a inovação tecnológica, a ciência dos fertilizantes, em um país da América Latina”. A Rede FertBrasil tem 300 pesquisadores, sendo metade da Embrapa e 50% de outros institutos de pesquisa, universidades e fundações de apoio ao desenvolvimento agropecuário de todo o país.
Segundo o Ministério da Agricultura, há possibilidade de ser elaborado um novo Plano Nacional de Fertilizantes ou mesmo de se implantar o que foi feito em 2010.
Fonte: Agência Brasil