Fagner Santos (*)
O comércio exterior com a China deixou de ser uma opção distante e passou a ser uma das maiores oportunidades para empresas brasileiras que desejam crescer. O protagonismo do país asiático nas relações comerciais globais — e sua abertura estratégica para novos parceiro — cria espaço para que o Brasil amplie sua presença de forma consistente.
A experiência mostra que não basta oferecer bons produtos. É preciso preparo, adaptação e, sobretudo, respeito à cultura chinesa. Entender como pensam os empresários locais, como se estruturam as negociações e quais são as exigências legais é tão importante quanto ter qualidade e competitividade.
Mercado plural
Quando falamos em “mercado chinês”, não estamos tratando de algo homogêneo. O país funciona como um conjunto de mercados regionais, cada um com hábitos de consumo, padrões logísticos e setores mais desenvolvidos. O Sudeste, por exemplo — como Cantão, Guangzhou e Shenzhen — concentra polos de produção, cadeias logísticas rápidas e forte presença estrangeira.
Essa organização territorial é parte de uma estratégia: concentrar setores em áreas específicas gera escala, eficiência e competitividade. Para o empresário brasileiro, conhecer essa lógica é o primeiro passo para saber onde o seu produto se encaixa.
Cultura como ativo estratégico
Na China, confiança vale mais do que preço. As relações comerciais se constroem no longo prazo, e isso exige disciplina e credibilidade. Cumprir prazos, adequar rótulos, traduzir embalagens e respeitar a hierarquia nas negociações não são meros detalhes — são condições para que um negócio avance.
Um erro simples, como etiqueta mal traduzida ou produto sem certificação, pode inviabilizar toda a negociação. Da mesma forma, participar de feiras estratégicas e se apresentar com profissionalismo reforça a imagem de confiabilidade que o mercado chinês espera de seus parceiros.
Como PMEs podem acessar esse mercado
As oportunidades estão abertas também para as pequenas e médias empresas, desde que haja planejamento. Entre os passos fundamentais estão:
Estudar o mercado e escolher a região certa para o produto;
Participar de feiras estratégicas, como a Canton Fair (importação – acontece em abril e
outubro) e a CIIE (exportação – acontece em novembro);
Formar parcerias locais confiáveis, que facilitem a entrada no mercado;
Adequar rótulos, embalagens e certificações às exigências chinesas;
Produtos brasileiros em alta na China
O consumidor chinês valoriza qualidade, origem e diferenciação. Essas são características encontradas nos produtos brasileiros, o que tem levado ao aumento da demanda por café, açaí, frutas tropicais e cosméticos naturais. Esses setores brasileiros já começam a conquistar espaço em cidades chinesas e têm potencial de expansão nos próximos anos.
Logística e novas rotas
Outro ponto estratégico é a logística. As rotas bioceânicas que devem integrar China, Paraguai e Peru vão reduzir custos e tempo de transporte, criando novos hubs de exportação no continente. Isso aumenta a competitividade do Brasil frente a outros países exportadores.
Diversificar mercados
O cenário internacional mostra que depender de um único mercado é arriscado. Diversificar destinos e aprender a operar com a China é mais do que uma oportunidade: é uma necessidade estratégica.
Quem se prepara agora, estudando o mercado, respeitando a cultura e investindo em relações de longo prazo, terá vantagem competitiva. A China está aberta. Mas só entra, e permanece, quem entende e respeita a forma chinesa de fazer negócios.
(*) Fagner Santos é especialista em comércio exterior e mercado chinês