Crise na Argentina explica aproximação com a China e busca de adesão à Rota da Seda, diz Welber Barral

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Da Redação

Brasília – Uma maior aproximação entre a Argentina e a China e que pode mais adiante resultar na adesão do país à Nova Rota da Seda, ainda que seja motivo de certa apreensão por parte do Brasil, é compreensível ante a gravidade do momento econômico vivido pelo país vizinho e pela dificuldade em obter recursos internacionais para financiar obras de infraestrutura. A declaração foi feita por Welber Barral, uma das maiores autoridades brasileiras em comércio internacional e sócio-fundador da BarralMJorge Consultores Associados, em entrevista ao Comexdobrasil.com.

Ao falar sobre o contato telefônico entre os presidentes Alberto Fernández e Xi Jinping no dia 29 de setembro, para tratar do assunto, Welber Barral considerou relevante lembrar dois fatores importantes:  “o primeiro deles é que a Argentina, devido à difícil situação macroeconômica em que se encontra, tem enfrentado muitas dificuldades de acesso a linhas internacionais de crédito. Em segundo lugar, a China, é também um destino importante para a Argentina, principalmente para a soja e outros alimentos, como o é também para o Brasil. A junção dessas duas  coisas tem feito com que a Argentina busque uma maior aproximação com  a China e em alguns meses deste ano o país asiático chegou a ser o maior parceiro comercial da Argentina, superando o Brasil”.

Welber Barral destacou que “a China tem, inclusive, negociado com a Argentina uma linha de crédito para financiar a importação de equipamentos chineses para a modernização do parque industrial argentino e essa é uma das poucas linhas de crédito às quais a Argentina tem tido acesso. Além disso, a China tem prometido realizar investimentos importantes na área da infraestrutura da Argentina, que da mesma forma que o Brasil tem carências enormes nesse setor”.

Segundo o especialista em  Comércio Exterior, o governo brasileiro tem se limitado a observar essa aproximação entre Buenos Aires e Pequim e que “embora não tenha nenhum efeito imediato”, o estreitamento de laços entre a Argentina e a China “é motivo de preocupação, já que o mercado argentino é muito importante para o Brasil, principalmente no que diz respeito às exportações de produtos manufaturados”.

O vazio surgido depois que o governo brasileiro praticamente interrompeu as linhas de crédito usadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para promover as vendas de produtos, equipamentos e bens manufaturados brasileiros nos mercados vizinhos e na Argentina em especial é visto por Welber Barral como um dos motivos pelos quais a Argentina tem buscado alternativas para renovar seu parque industrial.

 Segundo ele, “o Brasil precisa ter mais atenção com os parceiros regionais como a Argentina, no sentido de retomar essas linhas de crédito do BNDES que foram praticamente extintas”.

Ex-secretário de Comércio Exterior do então Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Welber Barral acredita que a recuperação da economia brasileira certamente contribuirá para o crescimento da economia argentina e, consequentemente, do comércio bilateral.

Em sua avaliação, ele sublinha que “é inegável que uma recuperação da economia brasileira ajudará bastante a Argentina e ao comércio bilateral. E é importante destacar também o pacote que a Argentina aprovou recentemente de incentivo às exportações e que também pode contribuir para uma retomada do comércio entre os dois países, especialmente no setor automotivo, que foi o que mais perdeu nessa crise e tem uma relevância muito grande, de quase 40%, no peso do comércio bilateral. Mas isso não exime o Brasil de dar mais atenção aos parceiros regionais e principalmente a um parceiro como a Argentina”.

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