Da Redação
Brasília – Apesar de ter sua economia duramente afetada pela pandemia da Covid-19, a China tem se consolidado como o principal parceiro comercial e no primeiro trimestre do ano foi o destino final de 28,6% das exportações brasileiras e por 22,4% de todo o volume importado pelas empresas brasileiras no mercado externo. Os números evidenciam uma clara dependência do Brasil em relaçao à China em seu comércio exterior.
Para se ter uma ideia dessa sino-dependência, no mesmo período, os Estados Unidos, segundo maiores parceiros do Brasil, responderam por 10,6% das exportações brasileiras e por uma fatia de 18,1% de todos os produtos importados pelo Brasil. Bem abaixo dos percentuais relacionados ao intercâmbio do Brasil com a China.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Economia, de janeiro a março as exportações para a China não foram afetadas pela Covid-19 e totalizaram US$ 14,161 bilhões (alta de 7,4% comparativamente com o mesmo período de 2019).
Por outro lado, as importações de produtos chineses somaram US$ 9,829 bilhões, com uma ligeira queda de 3,9%. No período, o intercâmbio comercial com a China proporcionou ao Brasil um superávit de US$ 4.332 bilhões.
Mas se os efeitos da Covid-19 não chegaram a afetar as trocas entre os dois países nos três primeiros meses do ano, as expectativas para o mês de maio, assim como para os meses subsequentes, não são animadoras e dificilmente o comércio sino-brasileiro repetirá os números robustos registrados no ano passado.
Em 2019, o Brasil obteve uma receita de US$ 63,358 bilhões com as exportações para a China e importou produtos chineses no montante de US$ 35,271 bilhões. Com isso, a balança comercial bilateral proporcionou ao Brasil um superávit de US$ 28,087 bilhões. Enquanto isso, no ano passado, o intercâmbio com os Estados Unidos gerou um deficit de US$ 2,728 bilhões para o Brasil.
A possibilidade de esses números se repetirem em 2020 é bastante remota, para não dizer nula. Na próxima sexta-feira, a China divulgará números de um PIB fortemente atingido pelos efeitos do coronavírus no primeiro trimestre do ano. A expectativa é de que a segunda maior economia o planeta tenha uma contração de 6,5% de janeiro a março. No ano, a estimativa é de uma retração de 2,5%, no que seria o dado mais negativo da economia chinesa nos últimos 24 anos.
Por tudo isso, os números do fluxo de comércio com a China relativos ao mês de abril, a serem divulgados na primeira semana de maio, são aguardados com grande expectativa pelos agentes do comércio exterior brasileiro e pelos exportadores em geral. Os dados deste mês certamente indicarão os rumos que o comércio com os chineses poderá seguir no restante do ano.
De janeiro a março, a exemplo do que vem acontecendo nas últimas décadas, a pauta exportadora brasileira para a China seguiu marcada por uma forte concentação nos produtos básicos, de baixo valor agregado. Apenas três produtos responderam, no primeiro trimestre deste ano, por 77% de todo o volume exportado para a China.
São eles a soja (exportações no valor de US$ 4,8 bilhões e participação de 33% no volume total exportado), petróleo (US$ 3,4 bilhões e participação de 24%) e minérios de ferro (embarques no valor total de US$ 2,8 bilhões, corresponentes a 20% do total vendido aos chineses).
De acordo com os dados da Secex, neste início de ano, o setor agropecuário foi o principal beneficiado pela demanda chinesa. Os embarques de carne de porco aumentaram 270%, os de carne bovina, 125%, os de algodão, 119%.
Dados relativos às duas primeiras semanas de abril indicam que as vendas do agronegócio para a segunda maior economia do mundo continuaram fortes: os embarques de produtos agropecuários tiveram alta de 71%, enquanto o total das exportações teve um leve aumento de 2%.
Os números de abril divulgados pela Secex mostram que a China é o maior comprador desse segmento. Mais de 70% das exportações de soja, por exemplo, vão para a nação asiática. Nas duas primeiras semanas de abril, as vendas do produto aumentaram em 86%. Resta saber quais serão os reflexos que uma forte desaceleração econômica na China terão sobre essa e outras exportações brasileiras para a segunda maior economia do mundo.