Da Redação
Brasília – O Brasil poderá voltar a ter superávits comerciais relevantes no comércio com a Venezuela desde que os exportadores brasileiros utilizem os canais adequados para efetuar a cobrança das importações realizadas, um obstáculo à expansão das vendas para o país vizinho que progressivamente vem sendo transposto e com isso já é possível vislumbrar a existência de um ambiente mais favorável para a expansão das relações comerciais entre os dois países.
A avaliação foi feita por Arno Gleisner, Diretor de Comércio Exterior da Câmara de Comércio, Indústria e Serviços do Brasil (Cisbra), para quem a expansão das exportações deverá ocorrer em médio e longo prazos, com a remoção gradual das questões ligadas aos pagamentos. Mas ele faz uma ressalva, indicando que outros obstáculos persistem: “temos problemas de natureza logística e a ele se soma uma forte concorrência por parte de países como a China”.
O Diretor da Cisbra destaca que “com a volta dos pagamentos pela Venezuela, desde que usados os caminhos corretos, a concorrência {em disputa pelo mercado venezuelano} tornou-se acirrada. Outros países estão com a mesma situação, com suas empresas recebendo os pagamentos de maneira normal e por isso voltaram a se interessar pelo comércio com a Venezuela. É o caso não só da China, mas também da Turquia, que aumentou consideravelmente suas exportações para a Venezuela”.
À forte concorrência chinesa e de outros países se somam dificuldades de natureza logística. Conforme destaca Arno Gleisner “os embarques marítimos não estão fáceis. Há problemas de regularidade das linhas de navegação, além dos elevados custos dos fretes, que cresceram 5 a 6 vezes durante a pandemia e depois recuaram para valores razoáveis. Mas, recentemente, em função da desregulamentação que aconteceu com os obstáculos no Canal de Suez {com os ataques dos terroristas Houtis a navios que trafegam pela área} houve restrições de navios no canal, acarretando problemas às cadeias logísticas. Com a restrição de navios, os fretes ficaram precificados. Entretanto, essa é uma situação que se regularizará com o tempo”.
Recuperação lenta das exportações
Dados disponibilizados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) mostram uma lenta recuperação das exportações para a Venezuela. Em 2023, as vendas para o país vizinho registraram uma retração de 13,3% para US$ 1,153 bilhão.
Os principais produtos embarcados foram açúcares e melaços (US$ 160 milhões); outros produtos comestíveis e preparações (US$ 150 milhões); gorduras e óleos vegetais (US$ 146 milhões); milho não moído (US$ 128 milhões); e arroz com casca (US$ 80 milhões).
No primeiro trimestre deste ano, as exportações tiveram ligeiro aumento e caíram apenas 7,6% comparativamente a igual período de 2023, somando US$ 249 milhões. A pauta exportadora manteve-se praticamente a mesma, com variações apenas nas colocações dos principais produtos embarcados pelas empresas brasileiras para a Venezuela.
Com a recuperação lenta, o Brasil se vê ainda distante dos áureos tempos da relação com o país vizinho, como aconteceu em 2012, quando a balança comercial proporcionou ao Brasil um superávit recorde de US$ 3,996 bilhões.
Naquele ano, a pauta exportadora brasileira, hoje fortemente concentrada em alimentos e commodities agrícolas, tinha uma participação de quase 60% dos produtos manufaturados, que geram riqueza e empregos qualificados. Nos anos recentes, essa participação caiu para menos de 30%.
