Foto Jin Liangkuai/Xinhua

China se consolida como principal opção da África para enfrentar tempestade tarifária dos EUA

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* Dados do Centro de Comércio Internacional indicam que, em 2024, o comércio da África com os Estados Unidos totalizou aproximadamente US$ 67,4 bilhões americanos, representando apenas 5% do comércio exterior total do continente.

* O comércio China-África continua na liderança, atuando como uma âncora estável na estrutura comercial da África. Em 2024, o comércio bilateral atingiu US$ 295,6 bilhões, estabelecendo um novo recorde pelo quarto ano consecutivo. A China permaneceu como o maior parceiro comercial da África por 16 anos consecutivos.

Da Redação (*)

Brasília – Conforme a tempestade tarifária dos EUA perturbava o cenário comercial da África, o continente respondeu fortalecendo ativamente a integração regional, diversificando mercados e aprimorando seu papel nas cadeias industriais e de suprimentos.

Em 31 de julho, o presidente dos EUA, Donald Trump, assinou um decreto para modificar ainda mais as tarifas com 69 parceiros comerciais. Agora a maioria das economias africanas está sujeita a tarifas de 15%, enquanto a África do Sul e várias outras enfrentam taxas de até 30%.

Apesar da crescente pressão da política comercial dos EUA, a África demonstrou notável adaptabilidade e resiliência ao navegar pelas mudanças no ambiente comercial global.

As novas tarifas americanas alteraram fundamentalmente a estrutura de 25 anos da Lei de Crescimento e Oportunidades para a África (AGOA, na sigla em inglês), de um programa comercial americano que concedia acesso isento de impostos aos países africanos para um modelo comercial denominado “recíproco”, marcado por tarifas punitivas.

No entanto, seus impactos gerais na África continuam administráveis, principalmente porque a participação dos Estados Unidos no comércio com a África é limitada e vem diminuindo constantemente.

De acordo com o Relatório de Comércio Africano de 2025, divulgado pelo Banco Africano de Exportação e Importação (Afreximbank), entre 2010 e 2023, a participação da América do Norte nas importações da África caiu de 7% para 5%, enquanto sua participação nas exportações caiu drasticamente de 17% para apenas 7%. O comércio intra-africano, juntamente com o comércio com a Ásia, a Europa e o Oriente Médio, representa atualmente mais de 90% do total das importações e exportações da África.

Dados do Centro de Comércio Internacional (ITC, na sigla em inglês) indicam que, em 2024, o comércio da África com os Estados Unidos totalizou aproximadamente US$ 67,4 bilhões, representando apenas 5% do comércio exterior total do continente.

Enquanto isso, o comércio China-África continua na liderança, atuando como uma âncora estável na estrutura comercial da África. Em 2024, o comércio bilateral atingiu US$ 295,6 bilhões, estabelecendo um novo recorde pelo quarto ano consecutivo. A China permaneceu como o maior parceiro comercial da África por 16 anos consecutivos.

 

Mesmo sob a pressão de tarifas adicionais dos EUA, as importações chinesas da África continuaram crescendo, fornecendo suporte essencial para as exportações africanas.

A recente decisão da China de estender o tratamento tarifário zero a 100% das linhas tarifárias de 53 países africanos com os quais mantém relações diplomáticas foi amplamente aclamada.

Essa política não apenas reduz efetivamente os custos de exportação de produtos africanos, mas também emite um sinal claro e positivo: a China está pronta para compartilhar oportunidades de desenvolvimento e trabalhar em conjunto com a África para resistir a choques externos.

O economista camaronês Nformi Eugene Tawe disse que, conforme a África continua diversificando seus parceiros comerciais, o continente deve prestar mais atenção à Ásia, particularmente à China.

Na era do caos global causado pela política comercial dos EUA, ele disse: “essa iniciativa chinesa oferece grandes oportunidades para os comerciantes africanos”.

Forçar a resiliência interna

A Área de Livre Comércio Continental Africana (AfCFTA, na sigla em inglês) vem ganhando força de forma constante como uma proteção contra a volatilidade do mercado global.

Lançado como um projeto emblemático da Agenda 2063 da União Africana, o pacto visa criar um mercado único continental para expandir o comércio de bens e serviços em toda a África.

De acordo com o Afreximbank, o comércio de mercadorias da África se recuperou 13,9% em 2024, para US$ 1,5 trilhão, revertendo uma queda de 5,4% no ano anterior. Enquanto isso, o comércio intra-africano aumentou 12,4%, para 220,3 bilhões de dólares, destacando o impulso renovado que a AfCFTA está ajudando a sustentar.

Em fevereiro de 2025, 48 países haviam ratificado o acordo e 19 haviam começado a negociar sob seus protocolos, de acordo com o jornal queniano The EastAfrican. O progresso marca um passo significativo em direção à integração continental.

A AfCFTA também começou a servir como um “amortecedor econômico”. Diante das altas tarifas americanas, as nações africanas estão reduzindo sua dependência dos mercados externos, fortalecendo o comércio intra-africano. Os esforços para harmonizar as normas e reduzir as tarifas estão criando um ambiente mais previsível para impulsionar a capacidade industrial e a adição de valor.

Os governos também estão investindo pesadamente em transporte, energia e telecomunicações, reduzindo o custo do comércio regional. Políticas comerciais coordenadas e procedimentos alfandegários simplificados estão abrindo caminho para uma implementação mais tranquila do pacto comercial.

Analistas dizem que essas medidas podem liberar todo o potencial da AfCFTA e acelerar a tão almejada busca da África pela integração econômica.

Fortalecer a cooperação

Enfrentando a pressão das tarifas dos EUA, a Europa, que é uma parceira tradicional da África, continua desempenhando um papel estabilizador. O comércio entre as duas regiões representou 34,3% do comércio global da África em 2024, com volumes se mantendo estáveis, de acordo com dados do ITC. A parceria foi fortalecida por meio da integração da cadeia de suprimentos, padrões harmonizados e controles de qualidade aprimorados.

A Índia e os países do Golfo, por sua vez, estão emergindo como novos impulsionadores da cooperação Sul-Sul.

O comércio entre a Índia e a África tem crescido de forma constante, atingindo cerca de US$103 bilhões em 2023, de acordo com o Centro Africano de Estudos Estratégicos. No Golfo, os Emirados Árabes Unidos vêm expandindo o comércio não energético com parceiros africanos, que atingiu US$ 60 bilhões em 2022, informou a Observer Research Foundation Middle East.

“A única verdadeira resiliência reside na integração, produção e autodeterminação”, disse Chloe Maluleke, especialista sul-africana em questões do BRICS. Analistas dizem que a busca da África por uma integração mais profunda e cooperação diversificada está ajudando-a a garantir uma posição mais forte na ordem comercial global em transformação.

Olhando para o futuro, os líderes africanos sinalizam uma abordagem aberta às parcerias globais, ao mesmo tempo em que buscam impulsionar um renascimento comercial marcado por maiores avanços em comércio e investimento.

(*) Com informações da Agência Xinhua

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