China avança célere na conquista de mercados do Brasil na America do Sul

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Da Redação

Brasíia – Em 2009 a China superou os Estados Unidos e se transformou no principal parceiro comercial do Brasil e nesses quase 14 anos o intercâmbio comercial com o país asiático vem crescendo a taxas avassaladoras. Nos seis primeiros meses de 2023 a corrente de comércio com a China foi mais que o dobro daquela registrada com os americanos: US$ 75,376 bilhões contra US$ 36,874 bilhões.  Mas o avanço chinês no comércio com os países da América Latina, e da América do Sul em especial, não se restringe ao Brasil.

Nos últimos cinco anos, a China vem conquistando grandes espaços como fornecedor  relevante para esses países de uma série de produtos dos quais, tradicionalmente, o Brasil foi o grande abastecedor. E é de se destacar que esse avanço se dá principalmente na exportação de produtos industrializados, bens que o Brasil sempre teve nos países vizinhos seu grande mercado.

Domínio chinês em cinco mercados importantes para o Brasil

Entre 2019 e 2022, a China ampliou significativamente suas exportações para países como a Argentina, Colômbia, Peru, Chile, Equador, as cinco principais economias sul-americanas depois do Brasil.

Com isso, os chineses se tornaram o maior parceiro comercial de quase todos esses países, desbancando uma histórica liderança brasileira. No ano passado, a China forneceu pelo menos 20% das importações desses países e no tocante ao Peru, Chile e Equador essa participação superou os 25%. A participação brasileira nesses mercados não passa de 10%

O avanço do voraz apetite chinês pelos mercados sul-americanos pode ser atestado pelo fato de que entre 2019 e 2022, o Brasil não só perdeu preciosos espaços no mercado argentino como viu a China assumir a condição de líder nas exportações para o principal país de destino de bens manufaturados brasileiros.

No ano passado, as exportações chinesas para esses cinco países totalizaram US$ 81,4 bilhões enquanto as empresas brasileiras embarcaram para esses países produtos no valor total de US$ 34,1 bilhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).

Além da avassaladora e crescente presença chinesa na região, o Brasil ainda enfrenta a concorrência de outro peso pesado do comercio internacional, os Estados Unidos. De 2019 a 2022, os americanos foram os responsáveis por cerca de 20% das importações realizadas por esses países. As exportações americanas para esse bloco somaram US$ 71,2 bilhões, mais que o dobro do montante embarcado pelo Brasil.

Avanço chinês sobre o mercado da Argentina

Com as movimentações recentes do governo da Argentina em busca de financiamentos externos para auxiliar o país a enfrentar as dificuldades de sua economia atingida por uma tempestade perfeita composta por hiperinflação anual acima de 110%, reservas cambiais negativas, débitos vencidos junto ao FMI no valor de alguns bilhões de dólares, agronegócio afetado por uma das mais severas secas das últimas décadas, a Argentina tem buscado uma maior aproximação com a China na esperança de que o gigante asiático se converta numa espécie de boia capaz de salvar o país do naufrágio que se avizinha.

Nesse contexto, é de se esperar que nos próximos anos a China venha a conquistar do Brasil um de seus principais nichos no mercado argentino, o setor automotivo. No primeiro semestre deste ano, as exportações de partes e acessórios de veículos somaram US$ 951 milhões e corresponderam a 19% das exportações totais do Brasil para a Argentina. Nesse mesmo período, as vendas de veículos automotores somaram US$ 859 milhões, uma fatia de 9,1% do total negociado com o país vizinho.

Pelo lado argentino, as vendas do setor automotivo são ainda mais relevantes. Nos últimos seis meses, a Argentina obteve uma receita de US$ 1,11 bilhão com as exportações de veículos de transporte de mercadorias (participação de 19% nas vendas totais ao Brasil) enquanto as vendas de veículos de passageiros geraram uma receita de US$ 1,064 bilhão (participação de 17% no total embarcado para o Brasil).

A esses números se somam as cifras do igualmente importante intercâmbio brasileiro-argentino envolvendo partes e peças de todo o setor automotivo. Outro setor em que em breve os dois países certamente terão que enfrentar a dura concorrência dos chineses.

Com um setor automotivo moderno aliado a uma agressiva política de exportações e generosos financiamentos, é de se esperar para breve o desembarque de algumas das principais montadoras chinesas em território argentino com o objetivo de produzir não apenas para abastecer o mercado local mas também visando exportar para toda a vizinhança.

Segundo a agência alemã Germany Trade and Invest (GTAI), ligada ao Ministério da Economia do país europeu, o volume comercial entre a China e a América Latina deve dobrar nos próximos anos.

Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil,  (AEB), José Augusto de Castro, o avanço chinês se deve  não apenas ao avanço tecnológico alcançado pelas empresas do país asiático mas também pelas condições de financiamentos fornecidas por Pequim a esses países: “a China avança na região e essa é uma realidade irreversível com a qual o Brasil terá que lidar”, afirmou. Esse avanço deverá ganhar ainda maior celeridade à medida em que os países da região vierem a aderir maciçamente ao ambicioso projeto “Cinturão e Rota”, que a China vem implantando em todo o mundo.

Enquanto o avanço sobre o setor automotivo é uma questão de tempo, a conquista de espaços pelos chineses em outro mercado dos mais relevantes para o Brasil já é uma dura realidade: a indústria calçadista já começa a dar sinais dos efeitos causados pela crescente presença dos calçados chineses que chegam à região com preços sem competidores.

Recentemente, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) manifestou sua preocupação com o fato de que nos últimos meses as exportações chinesas como um todo cresceram mais de 20%.

Preocupado com esse crescimento, o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, afirmou que “quando o maior player do mercado mundial, que entre janeiro e abril exportou 2,8 bilhões de pares de calçados, retoma o seu espaço no mercado mundial, a tendência é de que outros países produtores percam espaço”.

É o que já acontece e cada vez mais acontecerá com o Brasil, que terá que fazer o impossível para competir com os calçados chineses que chegam aos países vizinhos sul-americanos ao custo irrisório e injustificável de até US$ 1 dólar o par.

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