Da Redação (*)
Brasília – O comércio exterior brasileiro sofrerá forte impacto em 2020 devido à queda no valor das matérias-primas, que têm forte participação nas exportações do país, assim como nos demais países da América Latina. A previsão foi feita nesta terça-feira (21) pela Comissão Econômica para a America Latina (Cepal), ao analisar os efeitos da pandemia do coronavírus sobre as economias da região. Para a economia brasileira em seu conjunto, a Cepal prevê uma forte queda de 5,2% neste ano.
Em sua análise, a Cepal não se arriscou a projetar um percentual da queda que a Covid-19 provocará no comércio exterior dos países latino-americanos. Ainda assim, a projeção de queda já é refletida nos últimos números da balança comercial brasileira, divulgados na última segunda-feira (20) pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia.
Enquanto a Cepal se limita a uma referência nominal sobre os efeitos das exportações de commodities na retração das economias da região, os dados estatísticos da Secex revelaram uma forte contração nos embarques de petróleo e minério, que compõem, juntamente com a soja em grãos, o trio dos principais itens da pauta exportadora brasileira.
No caso do petróleo ou de minerais betuminosos crus, dados da terceira semana de abril, revelam uma queda de 45,4%, com uma retração de US$ 63,56 milhões na média diária. Esse recuo significativo deverá ser ainda maior a partir da quarta semana do mês, devido ao recuo monumental nos preços internacionais do petróleo, aliado a uma contenção não menos impressionante no consumo da commodity em todo o mundo..
Também caíram as exportações de minérios de outros minérios e concentrados dos metais de base (entre eles o minério de ferro), com um recuo de 46,4% na terceira semana de abril.
Queda de 5,2% na economia brasileira
A pandemia provocada pelo novo coronavírus fará a economia brasileira encolher 5,2% neste ano, prevê a Cepal. Segundo o órgão, vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), a América Latina sofrerá a pior crise social em décadas, com milhões de pessoas passando por desemprego e pobreza.
O número está próximo da previsão para o impacto na América Latina, cuja economia se contrairá 5,3% em 2020, o pior desempenho desde que começaram os levantamentos no continente, em 1900. Os principais impactos econômicos sobre a região virão da queda no valor das matérias-primas, da qual dependem as exportações de muitos países, inclusive o Brasil, e da paralisação de setores como o turismo.
De acordo com a Cepal, os países mais afetados pela crise econômica provocada pela covid-19 serão Venezuela (-18%), México (-6,5%), Argentina (-6,5%), Equador (-6,5%), Nicarágua (-5,9%) e Brasil (-5,2%). No pelotão intermediário, estão Chile (-4%), Peru (-4%), Uruguai (-4%), Cuba (-3,7%), Costa Rica (-3,6%), Haiti (-3,1%), El Salvador (-3%), Bolívia (-3%) e países do Caribe (-2,5%).
As economias menos impactadas pela pandemia serão Guatemala (-1,3%), Paraguai (-1,4%), Panamá (-2%), Colômbia (-2,6%) e Honduras (-2,8%). A República Dominicana, de acordo com as projeções, será o único país da América Latina e do Caribe a não registrar recessão, com variação de 0% no Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas produzidas em um país).
Antes da pandemia de covid-19, a Cepal estimava que a América Latina e o Caribe cresceriam 1,3% em 2020. No ano passado, o crescimento somou apenas 0,1% na região, de 626 milhões de habitantes e com altos índices de desigualdade.
Pobreza
A crise econômica afetará o mercado de trabalho e os indicadores sociais de forma significativa na região. A taxa de desemprego na América Latina e no Caribe saltará de 8,1% em 2019 para 11,5% em 2020. Isso significa que a região fechará o ano com 37,7 milhões de desempregados, alta de 11,6 milhões em relação ao ano passado.
Os indicadores de pobreza se deteriorarão em ritmo pior. A Cepal projeta que 28,7 milhões de pessoas passarão para a situação de pobreza na América Latina neste ano, com a taxa subindo de 30,3% para 34,7%. Em relação à extrema pobreza, 16 milhões de latinos americanos e caribenhos migrarão para essa categoria, com a taxa aumentando de 11% para 13,5%.
Segundo a Cepal, as remessas de emigrantes para a América Latina deverão cair de 10% a 15% em 2020, levando até oito anos para se recuperarem em relação aos níveis de 2019. Diversos países da região, como Haiti, Honduras e El Salvador, dependem do dinheiro de emigrantes que vivem em países avançados e enviam recursos para a família no país de origem.
(*) Com informações da Agência Brasil