Da Redação
Brasília – O Brasil é a décima segunda economia do mundial e tem o 15º. maior parque industrial do planeta mas o país ocupa apenas a 25ª. posição no ranking mundial dos exportadores de bens, com um percentual de 1,26% dos produtos comercializados no mundo, com uma ligeira alta em relação ao percentual de 1,19% registrado em 2020.
Esse é o maior percentual alcançado pelo Brasil desde 2013, quando o país respondeu por 1,28% dos produtos comercializados pelos países. Os dados constam da última Carta IEDI, divulgada no mês passado pelo Instituto para Estudos de Desenvolvimento Industrial e elaborada com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Os dados mostram que as exportações mundiais de mercadorias totalizaram US$ 21,6 trilhões e naquele ano as vendas externas brasileiras de bens somaram US$ 281 bilhões. Já as importações de bens pelo Brasil atingiram em 2021 o valor de US$ 235 bilhões, correspondentes a 1,004% do total mundial, com um ligeiro aumento em relação ao ano anterior (0,93%). Com isso, o Brasil ocupou a 27ª. posição entre os maiores importadores mundiais de bens.
E se os números da participação brasileira no comércio global de bens fica muito aquém do potencial da sua economia, os dados são ainda mais modestos quando se analisa apenas a presença do país nas trocas internacionais de produtos manufaturados.
Pela primeira vez em mais de uma década, a fatia do Brasil no intercâmbio mundial de manufaturas ficou abaixo de 0,5%, de acordo com a Carata IEDI. A queda contribuiu para que o país perdesse seis posições no ranking mundial dos principais exportadores de manufaturados nos últimos onze anos. Em 2010, o Brasil ocupava o 28º. lugar nesse ranking e há dois anos passou a ocupar o 34º. posto.
Segundo Rafael Cagnin, economista do IEDI e responsável pelo estudo, “o Brasil exporta cada vez menos manufaturados em relação a outros países, apesar de termos a 15ª. maior indústria do mundo. Isso mostra o quanto a indústria brasileira está pouco integrada ao mercado externo”.
Com uma pauta exportadora fortemente concentrada em commodities agrícolas e minerais (apenas três produtos, soja, minério de ferro e petróleo respondem por quase 80% de todo o volume negociado com a China, o maior parceiro comercial do Brasil) o país precisa diversificar suas exportações com o acréscimo de produtos industrializados, de maior valor agregado.
Rafael Cagnin não vê nenhum problema no fato de o Brasil ser um grande exportador de matéria-prima mas ele faz a ressalva de que “a concentração da pauta exportadora nesses produtos prejudica a diversificação da estrutura produtiva do país”.
Percepção semelhante da situação tem José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), para quem “a exportação de manufaturados gera mais empregos e de melhor qualidade e também traz maior valor adicional à economia”.
Segundo dados da AEB, no ano 2000, os produtos manufaturados tiveram uma participação de 59,07% nas exportações totais brasileiras, estabelecendo o recorde da série histórica que perdura até hoje. Em 2021, essa participação caiu para 27,35%, superior apenas ao percentual de 15,19% registrado em 1970. E essa realidade registrada em 2021 não é uma redução circunstancial da contribuição dos produtos de maior valor agregado às vendas externas brasileiras.
A queda vem acontecendo nos últimos seis anos, desde 2016, quando apurou-se um percentual de 39,91% e assim sucessivamente nos cinco anos posteriores, até se chegar à segunda pior marca da série, no ano passado, quando a indústria de transformação viu sua participação nas exportações totais do país cair para 27,35% e o setor amargou um déficit de US$ 111,778 bilhões, o pior desde o ano 2000, segundo dados da “Radiografia do Comércio Exterior do Brasi”l, compilados pela (AEB), a partir de levantamento da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
De acordo com o documento, em 1970, as exportações brasileiras somaram US$ 2,738 bilhões e 74,84% desse total eram de produtos básicos e apenas 15,19% de bens manufaturados. A partir daquele ano, a participação dos manufaturados na pauta de exportação vem sendo reduzida continuamente, e atingiu em 2021 o índice de 27,38%, o menor desde o ano de 1975.
Segundo o presidente da AEB, José Augusto de Castro, “esse cenário sinaliza como se o Brasil tivesse voltado quase 50 anos no tempo e depois ficasse congelado, hibernando. A análise dos dados nos permite afirmar que, ao cair de uma participação dos produtos manufaturados de 59,07% no ano 2000 para 27,35% no ano 2021, foi gerada uma perda de participação de 31,71 pontos percentuais, ou uma expressiva perda de participação de 53,7% nas exportações brasileiras”.
“O responsável por esta situação é conhecido de todos e se chama Custo Brasil”, afirmou o dirigente da AEB, reforçando que “o aumento da participação dos produtos manufaturados nas vendas externas do País passa, necessariamente, pela diminuição da burocracia que ainda impera no comércio exterior brasileiro. É necessário aprovar e implementar reformas estruturais, como as reformas tributária, administrativa e do imposto de renda, promover as privatizações, investir em infraestrutura, reduzir os custos de logística e ter previsibilidade, entre muitos outros temas que elevam os custos e dificultam as exportações”.
Segundo o presidente da AEB, o Brasil está diante de uma escolha relevante: “compete ao País escolher entre continuar exportando commodities sem valor agregado, mas com elevada tecnologia, ou exportar produtos manufaturados com valor agregado e gerar mais empregos qualificados no País”.
Para reforçar o raciocínio, ele lembrou que estima-se que para cada bilhão de dólares de produtos manufaturados exportados, são gerados cerca de 35 mil empregos diretos e indiretos no Brasil: “em outras palavras, se o Brasil implementasse uma política comercial de estímulo às exportações de bens manufaturados, cada dólar gerado contribuiria para reduzir o déficit comercial do setor e ainda possibilitaria a geração de milhões de empregos qualificados”.
(*) Com informações do IEDI