Mesmo com a desvalorização do real, em 2024 a participação de produtos estrangeiros no consumo nacional atingiu o maior nível desde 2003; China foi o principal vetor do avanço das importações
Da Redação (*)
Brasília – Mesmo em um ambiente que favoreceria a produção nacional, a presença de produtos importados no consumo interno atingiu o maior patamar da série histórica iniciada em 2003, segundo a última edição do estudo Coeficientes de Abertura Comercial (CAC), produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O estudo é feito em parceria com a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex) e foi divulgado nesta quinta-feira (18). O aumento do indicador foi puxado pela presença de produtos chineses no consumo dos brasileiros.
O CAC é uma publicação anual que mede o grau de integração da indústria brasileira com o comércio exterior, por meio de quatro coeficientes – dois que avaliam as exportações e dois que medem a participação das importações no mercado brasileiro.
Em destaque no estudo, a participação de bens estrangeiros no dia a dia dos brasileiros é medida pelo coeficiente de penetração das importações, que avançou 2,2 pontos percentuais (p.p.) e passou de 24,5% em 2023 para 26,7% em 2024. O resultado chama atenção porque a forte desvalorização do real tende a encarecer produtos importados, mas ainda assim as importações cresceram 17,3% em 2024, em real e a preços constantes, impulsionadas pela expansão da produção industrial e pelo aquecimento da demanda interna.
Para a gerente de Comércio e Integração Internacional da CNI, Constanza Negri, os dados de 2024 chamam atenção para os desafios de competitividade que a indústria brasileira continua enfrentando. “Os coeficientes funcionam como um sinal de alerta. Na nossa avaliação, esses indicadores mostram que persistem uma série de desafios estruturais para melhorar a competitividade e a qualidade da integração da indústria brasileira no comércio internacional. São desafios que afetam a capacidade da indústria de competir no próprio mercado brasileiro e, ao mesmo tempo, de ganhar escala e espaço nos mercados externos”, afirma.
China amplia presença e tem participação recorde no consumo brasileiro
De acordo com o estudo da CNI, a China foi o principal vetor do avanço das importações brasileiras. A participação de produtos chineses no consumo do Brasil subiu de 7,1% para 9,2% em 2024, um aumento de 2,1 p.p. a preços constantes, atingindo o maior nível da série histórica. O crescimento foi puxado principalmente por setores de maior valor agregado e intensidade tecnológica, como máquinas e equipamentos, máquinas e materiais elétricos e equipamentos de informática e ópticos. O levantamento também destaca a alta presença de produtos têxteis chineses no consumo brasileiro do setor.
Em conjunto, China, União Europeia, Estados Unidos e outros países europeus responderam por 18,7% do consumo aparente da indústria de transformação em 2024, acima dos 16,9% registrados em 2023. Entre as 17 regiões analisadas no estudo, apenas a China ampliou participação, enquanto a UE teve leve retração, influenciada pela menor presença de produtos químicos, farmacêuticos e elétricos.
Dependência de insumos industriais estrangeiros cresce
A dependência externa da indústria brasileira não se limita aos bens finais. O uso de insumos industriais importados também atingiu nível recorde: em 2024, o coeficiente de insumos importados passou de 23% para 25%, o maior da série. As importações de insumos estrangeiros cresceram 16%, em reais a preços constantes, enquanto o consumo de insumos nacionais avançou apenas 4%, evidenciando uma dependência estrutural que persiste mesmo com o câmbio desvalorizado.
Os 20 setores analisados no levantamento registraram aumento no uso de insumos importados. Os maiores avanços ocorreram em máquinas e equipamentos, outros equipamentos de transporte, vestuário e acessórios têxteis.
Produção industrial destinada ao exterior recua
Enquanto as importações ganharam espaço, a importância do mercado externo para a indústria brasileira diminuiu. O coeficiente de exportação, que mede a parcela da produção destinada ao exterior, caiu de 19,3% em 2023 para 18,9% em 2024.
Embora as exportações da indústria de transformação tenham crescido 2,6%, em reais a preços constantes, o avanço foi menor do que a produção, diminuindo o peso relativo das vendas externas. Os EUA permaneceram como principal destino, seguidos pela UE, pela China e pelo Sudeste Asiático, que ultrapassou a Argentina no ranking de destinos da produção industrial do Brasil.
Receita com exportações ainda supera despesa com importação de insumos
Apesar do avanço das importações, o coeficiente de exportações líquidas da indústria de transformação, medido a preços correntes, permaneceu positivo em 2024, com aumento de 9,3% para 9,6%. O indicador mostra que, no agregado, a receita com exportações superou os gastos com insumos industriais importados.
Metade dos setores analisados apresentou resultado positivo, com destaque para celulose e papel, madeira e outros equipamentos de transporte. Por outro lado, setores como equipamentos de informática, eletrônicos e ópticos e têxteis registraram coeficientes negativos.
(*) Com informações da CNI








