Da Redação
Brasília – Em 2022, o Brasil obteve um superávit de US$ 28,684 bilhões no comércio bilateral com a China e neste ano, até o mês de novembro, o saldo no intercâmbio com os chineses somou mais de US$ 46,8 bilhões, o maior da série histórica elaborada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), desde 1997. Pela primeira vez na história, o saldo em favor do Brasil deverá superar os US$ 50 bilhões em um único ano.
O megassaldo comercial foi alcançado graças a uma alta de 14,1% nas exportações brasileiras, que totalizaram US$ 91,382 bilhões no período janeiro-novembro deste ano, o que garantiu aos chineses uma participação recorde de 30,7% em todo o volume exportado pelo Brasil no período. O superávit deveu-se, também, ao encolhimento de -13,5% nas importações de produtos chineses, no total de US$ 48,556 bilhões, correspondentes a 21,9% das importações globais brasileiras no período.
Segundo o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, José Augusto de Castro, o comércio com os chineses segue impactado por uma forte concentração nas exportações de produtos primários, de menor valor agregado. Até novembro, três desses produtos -soja, petróleo e minérios de ferro- responderam por 76% de todo o volume embarcado pelas empresas brasileiras para o país asiático.
Brasil: falta de competitividade e entraves do Custo Brasil
José Augusto de Castro ressalta que “historicamente, as exportações brasileiras para a China se concentraram nesse pequeno grupo de commodities e é importante que o Brasil busque adicionar bens de maior valor agregado à pauta exportadora para os chineses”.
Segundo ele, a diversificação das exportações para um mercado altamente competitivo como o da China esbarra na falta de competitividade dos produtos industriais brasileiros e no chamado Custo Brasil: “o Brasil vem perdendo espaço nas exportações de bens manufaturados aqui na América Latina exatamente para a China e isso se deve à baixa competitividade dos produtos brasileiros, aos problemas de infraestrutura e logística e aos entraves que constituem o Custo Brasil. Sem ultrapassar esses obstáculos é praticamente impossível o país aumentar as vendas de bens industrializados e não apenas para a China”.
De fato, apenas um produto manufaturado, a celulose, aparece na relação dos principais bens embarcados pelo Brasil com destino à China. Dos cinco itens que integram a relação, quatro apresentaram altas expressivas nas exportações de janeiro a novembro (soja, petróleo, minérios de ferro e celulose) e a carne bovina, com uma retração de -30% foi o único bem com queda nas exportações.
As vendas de soja cresceram 20% (alta de US$ 6,2 bilhões) e somaram US$ 37,2 bilhões, com uma participação de 39% no volume embarcado para a China. Alta igualmente expressiva foi registrada nas exportações de petróleo, que cresceram 25,2% para US$ 18,3 bilhões, equivalentes a 19% do total exportado. Com uma participação de 18%, os minérios de ferro geraram uma receita de US$ 17,1 bilhões, uma ligeira alta de1,7% sobre o mesmo período de 2022 e participação de 18% no volume total negociado com os chineses. Em relação à carne bovina, as exportações somaram US$ 5,2 bilhões, apesar da forte retração de 30% (-US$ 2,2 bilhões em onze meses). Por outro lado, os embarques de celulose somaram US$ 3,4 bilhões, alta de 14%, comparativamente com o mesmo período de 2022.
Do lado chinês, pauta integral de manufaturados
Superpotência industrial e segunda maior economia do planeta, a China tem, ao contrário do Brasil, uma pauta exportadora de mais de US$ 3 trilhões, segundo dados da Administração Geral das Alfândegas, com altas de 2,8% nas exportações de máquinas e produtos eletrônicos (que em conjunto representam 56% do total exportado) e de automóveis, que neste ano já cresceram 79,6%.
As exportações chinesas, compostas exclusivamente por bens industrializados, é pulverizada em uma vasta gama de setores e produtos de uma das mais diversificadas cadeias produtivas de todo o mundo.
Em seu conjunto, as vendas chinesas tiveram até novembro uma retração de -13,5% e todos os cinco principais itens embarcados para o Brasil registraram quedas que oscilaram entre -33% e -0,9% no período. As exportações foram lideradas por válvulas e tubos termiônicas (US$ 5 bilhões e queda de -23%); equipamentos de telecomunicações (US$ 3 bilhões e -22%); compostos organo-inorgânicos (US$ 2,4 bilhões e redução de – 4,8%); demais produtos da indústria de transformação (retração de 0,90% para US$ 2,4 bilhões); e adubos ou fertilizantes (corte de -33% para US$ 1,46 bilhão)