Argentina em transformação: o novo fôlego do setor de eletrodomésticos na América Latina

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Juan Pablo García (*)

A Argentina atravessa um momento singular. Após anos de retração econômica, instabilidade cambial e desinteresse pela internacionalização, o país começa a impulsionar setores estratégicos rumo a um novo patamar de competitividade. Entre estes, o mercado de eletrodomésticos, não apenas pela retomada da produção e do consumo interno, mas, sobretudo, pelo avanço no processo de expansão.

Nos últimos meses, os indicadores econômicos mostraram sinais robustos de recuperação. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística e Censos (Instituto Nacional de Estadística y Censos – INDEC), o cenário econômico na Argentina apresentou expansão de 5,8% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024. Além disso, segundo relatório da Grant Thornton, rede global que oferece serviços de auditoria, consultoria e tributos, o índice de otimismo entre executivos de médio porte na Argentina atingiu 75% no primeiro trimestre de 2025.

As expectativas positivas também são impulsionadas por uma política de estabilização cambial, redução gradual da inflação e aumento da produtividade industrial. Ainda que os desafios macroeconômicos permaneçam, a postura mais aberta aos negócios já rende frutos: as exportações industriais cresceram e o setor de bens duráveis, no qual os eletrodomésticos estão inseridos, destaca-se neste movimento.

Operação e logística

Um reflexo direto dessa evolução está na valorização da cadeia de fornecedores locais e na reestruturação da malha logística, atualmente mais estruturada para atender à demanda externa. A eficiência logística positiva para exportações de bens duráveis é resultado de investimentos em centros de distribuição, melhoria na malha ferroviária e digitalização de processos alfandegários. Essa maturidade operacional confere mais agilidade às empresas que desejam ampliar a competitividade dos produtos argentinos.

Historicamente, a indústria argentina de eletrodomésticos teve como foco o mercado interno. Porém, a mudança de cenário, combinada a um amadurecimento produtivo e à busca por novos canais de crescimento, levou diversas companhias a mirar outros países da América Latina. Essa internacionalização tardia, porém, estratégica, encontra hoje uma região mais conectada, exigente e disposta a consumir produtos de maior valor agregado.

Inovações

Vale destacar também a efervescência do ecossistema de inovação, que tem desempenhado um papel essencial na modernização da indústria, o que envolve tanto processos produtivos como itens mais inovadores. Marcas agora exportam a combinação de inteligência e design.

Essa virada de chave no mindset empresarial argentino tem grande impacto não apenas no comércio exterior, mas também na forma como as marcas reposicionam a identidade, buscando diferenciação por meio de design, eficiência energética, durabilidade e experiências. Fogões com pedra refratária, cooktops com sistemas de segurança integrados e eletrodomésticos variados com design de luxo, são exemplos de como o setor vem se sofisticando e se tornando mais competitivo frente a players globais.

América Latina

Neste contexto, o Brasil surge como destino natural dessa expansão. O país representa não só uma grande vitrine e um vasto mercado consumidor, mas também um campo fértil para marcas que apostam na valorização do detalhe, da experiência gourmet e da tecnologia funcional. A presença argentina nesse cenário reforça um intercâmbio comercial que transcende as fronteiras e fortalece a integração produtiva regional.

Mais do que exportar produtos, as empresas argentinas estão desenvolvendo sinergias estratégicas com parceiros brasileiros e de outros países da América Latina. O futuro aponta para uma integração cada vez maior no setor de bens de consumo duráveis.

O novo ciclo de abertura econômica da Argentina redefine o papel do país como exportador de produtos inovadores, sofisticados e com identidade própria. Mais do que superar um histórico recente de retração, o país mostra que é possível usar a adversidade como alavanca para inovar, evoluir e conquistar novos mercados. O setor de eletrodomésticos é apenas o primeiro capítulo de uma transformação mais ampla que reposiciona a Argentina como protagonista no cenário industrial latino-americano.

(*) Juan Pablo García é Head Comercial da Morelli, multinacional argentina de eletrodomésticos premium.

 

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