Da Redação
Brasília – Apesar de prever para o ano de 2015 um superávit de US$ 8,140 bilhões para a balança comercial brasileira em 2015, ante uma estimativa de deficit de US$ 4,582 bilhões este ano, o presidente a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, não vê motivo para comemoração. Segundo ele, “o resultado projetado para 2015 deve ser considerado um ‘superávit negativo’, pois é obtido pela forte queda das importações, e não pelo aumento das exportações”.
O presidente da AEB divulgou hoje (17), no Rio de Janeiro, a previsão elaborada pela Associação para a balança comercial em 2015. A previsão é de que as exportações devem ter uma queda de 4,3%, totalizando US$ 215,360 bilhões, contra US$ 225,033 bilhões estimados para 2014. Em relação às importações, o documento da AEB prevê uma retração de 9,8% para US$ 207,220 bilhões, ante US$ 229,615 bilhões exportados no ano que está terminando.
No tocante às exportações, o documento da AEB prevê uma queda de 10,2% na receita obtida com a venda dos produtos básicos, devido principalmente à retração dos preços desses bens no mercado internacional. Em 2015 as vendas externas de commodities devem totalizar US$ 98,290 bilhões, contra uma estimativa de US$ 109,445 bilhões este ano.
Em relação aos produtos industrializados, a AEB espera uma elevação de 2,0% e a expectativa é de que as vendas externas atinjam a cifra total de US$ 111,470 bilhões, contra uma previsão de US$ 109,288 bilhões para 2014.
Segundo José Augusto de Castro, muito mais preocupante que uma retração de 4,3% no volume a ser exportado pelo País no próximo ano é a queda de 9,8% nas importações: “o resultado gerado por exportações e importações deve gerar um superávit de US$ 8,140 bilhões mas não há nenhum motivo para se comemorar. Pelo contrário. O saldo somente será obtido graças a uma significativa redução das importações e por isso mesmo classificamos esse saldo como superávit negativo. Ele somente será conseguido graças à queda das importações e não via aumento das exportações, o que é muito ruim para a economia do País”.
A retração das importações deve acontecer em praticamente todos os setores. No que diz respeito aos bens de capital, a queda será de 6,5% e as compras devem somar US$ 45,050 bilhões no próximo ano. Já as importações de matérias-primas/produtos intermediários devem ser reduzidas em 6,3% e é pouco provável que ultrapassem a cifra de US$ 97,660 bilhões (contra US$ 104,220 bilhões previstos para 2014).
Em relação aos bens de consumo, a queda será ainda maior: 10,5% para US$ 16,600 bilhões entre os não duráveis e de 10,4% na categoria dos bens duráveis, que devem totalizar US$ 18,300 bilhões este ano, após terem gerado importações de US$ 20,430 bilhões este ao.
A AEB prevê ainda redução bem mais significativas nas importações de combustíveis e lubrificantes, que podem cair 22,6% em 2015 para um total de US$ 29,610 bilhões. Com respeito ao petróleo, a queda será ainda maior: 29,3%. A estimativa da Associação é de que as compras externas de petróleo venham a somar US$ 10,710 bilhões no próximo ano, contra uma estimativa de US$ 15,155 bilhões em 2014. Outros itens desse segmento importador devem cair 18,1% e somar US$ 18,900 bilhões, bem abaixo dos US$ 23,080 previstos para 2014.
Cenários
Nas projeções das exportações e importações para 2015 foram considerados os cenários descritos adiante.
Exportação
– taxa cambial oscilando entre R$2,60 e R$2,90, com média de R$2,75;
– apesar de esta taxa cambial proporcionar competitividade a alguns segmentos, será limitado seu impacto positivo sobre as exportações de manufaturados, pois nosso principal mercado de destino (Argentina) enfrenta problemas e outros mercados importantes (América do Sul e África) poderão ter menor poder de importação, devido à queda nas cotações de suas commodities de exportação;
– a estagnação e/ou queda nas exportações brasileiras de manufaturados desde 2008 afastou o Brasil de importantes mercados como EUA e Europa, transformando-o em “novo” exportador, demandando tempo para reconquistar estes mercados, atualmente ocupados por fornecedores de outros países, e, mesmo com preço competitivo, a concretização de novas vendas externas poderá ocorrer somente após o fim dos contratos em vigor;
– a maior taxa cambial não ampliará o valor das exportações de commodities, porém, aumentará a rentabilidades em reais das empresas exportadoras;
– exportações para Venezuela e Rússia, países que têm proporcionado superávits comerciais ao Brasil, poderão ter impactos negativos, devido suas situações econômicas.
Importação
De acordo com a projeção divulgada pela AEB, os fatores descritos abaixo certamente deverão provocar redução no crescimento econômico, retração na demanda interna e diminuição das importações, porém, não existem condições para quantificar a intensidade de seus impactos;
– alta na taxa cambial elevará custos de importação;
– índices de vendas internas sinalizam desaceleração;
– menor índice de geração de empregos, ou até mesmo de desemprego;
– elevado nível de inadimplência das pessoas e também, em menor escala, das empresas;
– após fixar em 1,2% o superávit primário para 2015, medidas a serem anunciadas pela nova equipe econômica sinalizam elevação da taxa SELIC, forte contingenciamento de gastos, elevação de tributos, redução ou suspensão de repasses aos bancos públicos, alta da TJLP, adiamento ou corte de investimentos, alta da inflação, etc;
– quadro atual vivido pela Petrobrás poderá provocar redução nas atividades econômicas internas desempenhadas por outros segmentos empresariais;
– últimos dados do PIB divulgados mostraram queda no consumo das famílias;
– taxa de crescimento do PIB projetada para 2015 deverá alcançar 0,5%.
Cotações das commodities em queda
- As cotações de nossas principais commodities projetam queda para 2015, decorrente de expansão da oferta em nível superior à demanda internacional de produtos como soja, minério de ferro e petróleo. A queda nas cotações será amenizada por esperada elevação do quantum exportado, principalmente de petróleo bruto e óleos combustíveis;
- Apesar deste quadro adverso, as commodities manterão índice de participação superior a 60% na pauta de exportação;
- A evolução das cotações das commodities, do quantum exportado e das receitas geradas pela exportação nos últimos anos pode ser observada no arquivo anexo, que mostra inclusive suas as estimativas para 2014 e as projetações para 2015;
- Dados sobre exportações de plataforma de petróleo para 2015 estão indisponíveis, embora possa ser inferido que serão superiores a 2014 e são estimados em US$2 bilhões.
Particularidades
- Minério de ferro continuará sendo o item de maior valor nominal de exportação, com US$ 21,3 bilhões, apesar da forte queda em sua cotação;
- As quedas projetadas nos totais de exportações e importações reduzirão o montante da corrente de comércio para US$422,580 bilhões em 2015, o menor valor nos últimos 5 anos, queda de 7% sobre os estimados US$454,648 bilhões de 2014;
- O valor da corrente de comércio de US$422,580 bilhões projetado para 2015, representa queda de 12,4% sobre o valor recorde de US$482,286 bilhões alcançado em 2011. Saliente-se que, o gerador de desenvolvimento econômico é a corrente de comércio, e não o superávit comercial, muito menos o déficit;
- A conta-petróleo apresentou déficit de US$23,677 bilhões em 2013, estima-se sua redução para US$18,205 bilhões em 2014 e projeta-se nova diminuição para US$10,745 bilhões em 2015.
Reflexos
- Após o Brasil atingir participação de 1.41% nas exportações mundiais de 2011, a maior nos últimos 50 anos, sua participação caiu para 1,33% em 2012, 1,32% em 2013, estima-se 1,21% em 2014 (similar 2008) e projeta-se 1,14% em 2015 (similar 2006);
- Em 2013 o Brasil ocupava a 22ª posição no ranking mundial de exportação, mas deverá cair para a 25ª em 2014 e permanecendo nessa 25ª posição em 2015;
- As quedas projetadas de 4,3% nas exportações e de 9,7% nas importações deverão gerar contribuição positiva do comércio exterior para o PIB de 2015;
- A queda no valor das exportações em 2015 será a quinta consecutiva.
Segundo José Augusto de Castro, “não obstante o superávit comercial projetado para 2015, o Brasil continua necessitando realizar urgentemente reformas estruturais nas áreas tributária e trabalhista, investir macissa e continuamente em infraestrutura para reduzir custos de logística e acelerar processos de desburocratização, condições indispensáveis para tornar os produtos exportados competitivos, sem ficar na dependência de taxa de câmbio”.