AEB adverte para risco do peso excessivo das commodities na balança comercial

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Brasília (ComexdoBrasil) – A elevada dependência das commodities e a pequena participação de manufaturados na exportação tornam instável, e até mesmo insustentável, o mercado externo para o País, por fatores alheios a seu controle e sobre os quais não tem poder de decisão. Esta é uma das principais conclusões do informativo sobre a atual situação do comércio exterior brasileiro divulgado pela Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Apesar dessa constatação, a AEB reviu, para cima, suas projeções para a balança comercial brasileira em 2010 e estima que as vendas externas vão somar US$ 189,5 bilhões e as importações podem chegar a US$ 174,4 bilhões, gerando superávit comercial de US$ 15 bilhões. Trabalhos realizados anteriormente pela AEB estimavam que o Brasil teria um saldo de apenas US$ 12,2 bilhões, resultado de exportações de US$ 170,7 bilhões e importações no montante de US$ 157,2 bilhões.

Segundo a AEB, a estimativa de superávit foi revista para cima “não obstante as incertezas econômicas ainda vigentes nos países desenvolvidos”. E para isso foi fundamental o fato de que as cotações das commodities, que representam 70% das receitas de exportação brasileiras, permanecem em patamar elevado, favorecendo a expansão das vendas externas, em que pese o fato de o Brasil manter-se dependente de cenário e demanda internacionais favoráveis”.

A Associação indica os motivos que estão promovendo a consolidação de um preocupante perfil do comércio exterior brasileiro: “real valorizado; elevados custos internos; forte perda de share nas exportações para os Estados Unidos nos últimos anos: ausência de acordos bilaterais; oscilações econômicas nos países desenvolvidos e manutenção da agressividade comercial da China têm contribuído para a contínua redução da participação dos manufaturados nas exportações brasileiras e, certamente, criarão dificuldades em tentativas futuras de recuperação do mercado externo para esses produtos”.

Considerações sobre os dados projetados

Em 28/12/09, as projeções da AEB para 2010 eram exportações de US$ 170,720 bilhões, importações de US$ 158,230 bilhões e superávit de US$ 12,230 bilhões.

Não obstante as incertezas econômicas vigentes nos países desenvolvidos, as cotações das commodities permanecem em patamar elevado, favorecendo a expansão das exportações brasileiras, onde as commodities representam 70% das receitas geradas na exportação, mantendo o Brasil dependente de cenário e demanda internacionais favoráveis para manter o nível de suas exportações.

Como resultado do cenário internacional favorável, mas aliado às condições internas desfavoráveis, em 2010, depois de 32 anos, a participação projetada de 43,7% na exportação de produtos básicos será maior que os 40,0% de manufaturados. Em 1978, a participação dos básicos foi de 47,2% e dos manufaturados de 40,2%, significando uma volta ao passado como país fornecedor de matérias-primas.

A dependência brasileira das commodites pode ser medida pelos dados projetados para 2010, em que dos 10 principais produtos em receitas de exportação, 9 são commodities, ou sob outro prisma, dos 20 maiores, 13 são commodities.

Em 2010, pela primeira vez, um único produto, minério de ferro, ultrapassará a marca de exportações de US$ 20 bilhões, projetando atingir US$ 24,061 bilhões.

Também em 2010, a receita de três commodities (minério de ferro, complexo soja e petróleo e derivados) vai ultrapassar 30,0% das receitas totais do Brasil.

O superávit de US$ 15,044 bilhões projetado para 2010 será 40,6% inferior aos US$ 25,348 bilhões apurados em 2009, sendo que a elevação de US$ 10,814 bilhões das exportações de minério de ferro contribuirá com 72% para a obtenção desse superávit de US$ 15,044 bilhões.

A corrente de comércio projetada para 2010, de US$ 363,934 bilhões, é 29,7% maior que os US$ 280,642 bilhões de 2009, mas 1,9% inferior aos US$ 370,927 bilhões atingidos no ano de 2008.

O aumento das exportações em 2010 será obtido graças, prioritariamente, à elevação das cotações das commodities, e com mínima contribuição, à quantidade exportada. Registre-se que a elevação do preço não gera emprego, ao contrário da quantidade, principalmente quando se refere a produtos manufaturados.

A elevada dependência das exportações de commodities, segmento em que o Brasil não exerce qualquer controle, e a pequena participação na exportação de manufaturados, torna instável, e até mesmo insustentável, o mercado externo para o Brasil, sujeito a fatores externos alheios a seu controle e sem poder de decisão.

O real valorizado; os elevados custos internos; a fortíssima perda de share nas exportações para os Estados Unidos nos últimos anos; a ausência de acordos bilaterais; as oscilações econômicas nos países desenvolvidos e a manutenção da agressividade comercial da China têm contribuído para a contínua redução da participação das exportações da manufaturados do Brasil, realidades que certamente criarão dificuldades em tentativas futuras de recuperação do mercado externo para manufaturados, normalmente amparado em contratos de fornecimento com prazos definidos e que, indiretamente, impõem fidelidade do importador.

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