São Paulo – Em uma crise persistente e grandes impactos em sua economia, a Argentina fechou na semana passada um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para renegociar seu programa de empréstimo durante a crise econômica.
O acordo visa desbloquear US$ 7,5 bilhões, mas demanda alterações na política cambial para conter a fuga de dólares. Entre elas, está uma nova cotação para exportações de grãos.
Ele também exige que a Argentina reduza a demanda de importação com novos impostos cambiais para bens importados e fortaleça os controles de gastos.
Neste sentido, as exportações brasileiras, especialmente no agro, podem sentir impactos. Eles tendem a ser mais intensos em commodities como soja, milho e trigo.
“A meu ver, esse impacto tende a ser bem pequeno, pois esses ciclos são de médio prazo e não ofuscam ou conseguem competir com a eficiência do mercado e do agro brasileiro”, explica Marcelo Cursino, gerente de estratégia comercial do Braza Bank.
Ele também vê as medidas envolvidas no acordo mais como formalizações do FMI, que podem não ter impactos tão significativos na recuperação argentina.
Problema estrutural da Argentina
“O problema econômico argentino é estrutural e só será direcionado e corrigido com políticas sérias e de longo prazo, não com propostas pontuais que podem mudar de direção conforme a próxima eleição ainda em 2023”, argumenta.
Tradicional exportador de commodities agrícolas, a Argentina tem enfrentado nos últimos anos períodos de secas intensas que têm afetado severamente a produção do agronegócio. E a soja é um dos produtos mais afetados pela estiagem.
Com a seca, a Argentina reduziu fortemente as vendas externas da oleaginosa, com a consequente retração nas receitas obtidas, e ainda teve que aumentar, de forma expressiva, suas importações. E o Brasil tem sido o principal fornecedor do produto.
De janeiro a julho, a soja foi o principal item da pauta exportadora para o país vizinho, suplantando bens manufaturados, como partes e peças para veículos, automóveis e demais produtos da indústria de transformação. No primeiro trimestre, os embarques da soja para a Argentina somaram US$ 1,560 bilhão, com um crescimento de 1.016% sobre o mesmo período de 2023, e foram responsáveis por 16% das exportações totais do Brasil para o país vizinho.
Aumentos menos expressivos, mas igualmente importantes, foram registrados nas exportações de partes e acessórios de veículos (US$ 951 milhões e alta de 31,3%) e veículos (US$ 859 milhões, aumento de 15,7%).
Já em relação ao turismo, as mudanças provocadas pelo pacote firmado com o FMI não devem ser tão significativas. Isso acontece porque o foco das medidas é a população argentina.
“O turismo entre Brasil e Argentina seguirá florescendo, como já está sendo no decorrer do ano, com preços mais atrativos e como um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Podemos ter um novo aumento no fluxo turístico com o nosso vizinho”, salienta Gabriel Ribeiro, trader do Braza Bank.
(*) Com informações do Braza Bank
