Da Redação –
Brasília – As exportações brasileiras de calçados deverão registrar uma queda significativa em 2020 como reflexo da crise que afeta o comércio mundial com o avanço da epidemia do Covid-19. A forte contração se deve, entre outros motivos, ao fato de que os Estados Unidos, principal mercado para o calçado brasileiro no exterior, é um dos países mais impactados pela pandemia.
Da mesma forma, os efeitos do coronavírus também atingirão as importações nacionais de calçados, impactadas pela desorganização do câmbio e também pelo efeito da pandemia nos países asiáticos, responsáveis por mais de 70% do total importado em calçados e parte de calçados.
A avaliação é do presidente-executivo da Abicalçados, Haroldo Ferreira, ao fazer para o Comexdobrasil.com uma análise das perspectivas da indústria calçadista brasileira com o avanço da epidemia.
Segundo ele, “A pandemia do novo coronavírus vem aumentando a sua influência negativa nos negócios internacionais. Em março, nosso mais recente dado, a exportação somou 8,9 milhões de pares por US$ 74,2 milhões, quedas de 2% e 11,2%, respectivamente, ante o resultado do mesmo mês do ano passado. Já somando todo o trimestre, as exportações totalizaram 32 milhões de pares por US$ 241 milhões, quedas de 8,5% e 9,4%, respectivamente, ante o mesmo período de 2019”.
A queda acentuada das exportações é ainda mais preocupante pelo fato que são os Estados Unidos, o principal mercado do calçado brasileiro no exterior, o país que mais tem reduzido as compras do Brasil: “no trimestre, os americanos importaram 2,8 milhões de pares brasileiros, que geraram US$ 47,4 milhões, quedas de 28,8% e de 12,6%, respectivamente em número de pares e de receita, em relação a 2019”.
Para o presidente da Associação, o Brasil não é o único país a amargar uma forte redução nas exportações de calçados para o mercado americano: “assim como o Brasil, a China, maior exportadora mundial do setor, registrou queda nos embarques. No caso da China, as quedas não se limitaram às exportações para os Estados Unidos. Em termos globais, no primeiro bimestre, a China exportou 1,3 bilhão de pares, o que gerou uma receita total de US$ 5,7 bilhões, quedas de 23,3% e 20%, respectivamente em pares e receita, ante período correspondente do ano passado’.
Para enfrentar essa que certamente é a mais grave crise vivida pela indústria calçadista brasileira nas últimas décadas, a Abicalçados vem buscando soluções para tentar minimizar os impactos do avanço do novo coronavírus no setor.
Segundo Haroldo Ferreira, estamos articulados, em conjunto com outras entidades do setor e com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), sendo que recentemente encaminhamos para o Governo Federal um conjunto de 37 propostas de medidas nas áreas de tributação, política monetária, financiamento, normas regulatórias e legislação trabalhista, voltadas para o enfrentamento e a atenuação dos efeitos da crise econômica provocada pelo novo coronavírus”.
O presidente da Abicalçados afirmou que algumas dessas 37 propostas de medidas foram atendidas e ressaltou que “devemos louvar iniciativas como a ampliação da linhas de crédito do BNDES para capital de giro, que antes era destinadas apenas a micro e pequenas empresas e hoje auxiliam também empresas de médio porte. É uma questão urgente honrar a folha de pagamentos neste momento difícil, sob risco de um colapso social e econômico. Seguimos, incansavelmente, trabalhando com as pautas econômicas e estamos encontrando eco junto ao Governo. Porém, sabemos que existe muito o que conquistar, especialmente no que diz respeito à flexibilização nas leis trabalhistas e desburocratização para acesso mais fácil aos recursos disponibilizados”.
Mas os efeitos da pandemia não são sentidos apenas nas áreas da exportação e importação de calçados. Eles atingem igualmente em cheio o mercado interno, afetando a cadeia produtiva do setor, o que é confirmado por uma pesquisa que está sendo realizada pela Abicalçados junto aos seus associados, que representam mais de 70% da produção do setor calçadista brasileiro.
Segundo o presidente da Associação, “Somente em março, a queda nas encomendas chegou a quase 50%. Muitas empresas já concederam férias coletivas e algumas, infelizmente, não conseguiram absorver a queda nas vendas e tiveram que demitir. A estimativa é que, desde a crise, tenham sido perdidos mais de 17 mil postos no setor (de 270 mil)”.